Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Paulada no leitor

CORREIO SEM NOBLAT

Osvaldo Martins (*)

Durante décadas as redações travaram, todos os dias, o interminável embate entre os valores do jornalismo e os interesses da imprensa. Em algum momento da carreira, jornalistas talentosos em cargos de chefia ? e com poder de decisão ? tiveram que optar entre um lado e outro, conforme o código de ética que cada um traz consigo ao longo da vida profissional. Alguns (e falamos só dos talentosos) fizeram a opção preferencial pela imprensa; estes são os preferidos dos patrões. Outros fizeram a opção preferencial pelo jornalismo; são os que ganharam úlceras, infartos ou foram afastados da chefia. Uma terceira categoria, mais rara, a dos conciliadores, consegue fazer bom jornalismo apesar da imprensa.

Ricardo Noblat é um desses conciliadores. Repórter no Recife, galgou todos os postos do jornalismo graças à competência profissional, ao senso de responsabilidade e à dedicação ao trabalho ? um exemplo de profissional. Como diretor de redação do Correio Braziliense, transformou aquele jornaleco horroroso, chinfrim e chapa-branca em um dos melhores do país. Fez a mais bem-sucedida reforma gráfica da imprensa brasileira e criou as melhores primeiras páginas da década. Foi merecidamente alçado ao topo dos Diários Associados, mas não relaxou. Continuou a fechar o jornal toda noite, surpreendendo seus leitores com capas memoráveis e uma linha editorial independente, sem rabo preso com o poder.

Eis que agora o velho embate está de volta, mas com um contorno muito mais preocupante. A saída de Noblat do Correio nada tem a ver com a batalha diária jornalismo versus imprensa. Neste caso, jornalismo e imprensa foram, juntos, derrotados pelo mais primitivo gangsterismo, como se tivéssemos voltado 50 anos no tempo. É uma paulada bem no meio da cabeça do leitor.

(*) Diretor do Instituto Brasileiro de Estudos de Comunicação (IBEC)

Leia também