Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Pedro Alexandre Sanches

MTV

"Alheia à crise, MTV faz entrega de prêmios", copyright Folha de S. Paulo, 22/08/02

"Aparentemente, tudo está perfeito para a MTV no dia em que acontece a oitava edição de sua maior festa anual, a premiação do Video Music Brasil. A rede musical de TV projeta, até o fim do ano, um crescimento de faturamento de 15% a 20% em relação a 2001. Paradoxalmente, isso acontece em meio a uma das mais fortes crises da história da indústria fonográfica nacional, a mesma que ampara a MTV com clipes, artistas, parcerias etc.

O mercado amarga hoje o crescimento explosivo da pirataria (estimada em 50% da circulação total, em 2001), a derrocada de gêneros populares e um encolhimento progressivo do mercado oficial (entre 2000 e 2001, o consumo de CDs oficiais caiu cerca de 17%, tendência que se agrava em 2002). Para a TV da música, ilha de tranquilidade em meio ao vendaval, tudo isso passa batido.

?Foi um ano de pouca novidade, apareceram poucas bandas. Mas a quantidade de videoclipes é a mesma de 2001. A pirataria não se reflete na MTV. Nosso faturamento vem do mercado anunciante, que cada vez mais percebe o retorno que tem ao aparecer aqui?, enumera o presidente da MTV, André Mantovani, 38.

Outro dos assuntos explosivos da temporada -o debate sobre direitos autorais, via polêmica da numeração de CDs- aparece de forma enviesada na rede musical. Há dois anos e meio a emissora não paga direitos devidos ao Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) pela veiculação de músicas na programação. E a MTV acaba de vencer, em primeira instância, ação contra o recolhimento pretendido pelo Ecad, de 2,5% do faturamento total.

O Ecad diz desconhecer a sentença favorável à MTV, mas só quis se pronunciar à Folha por escrito: ?O que é de estranhar é que a MTV, uma emissora puramente musical, transmitindo em sua programação 24 horas de música diária, esteja justamente caminhando em direção contrária à maioria das emissoras de TV, que cumprem o devido pagamento?.

Do lado dos artistas, o representante da classe no grupo de trabalho sobre numeração, Roberto Frejat (que tem indicações para prêmios e participa hoje à noite da festa do VMB), não se pronunciou até a conclusão desta edição.

Sobra para o franco-atirador Lobão, 44: ?Eles têm obrigação, como emisora eminentemente musical, de no mínimo dar o exemplo de colaboração com os artistas, e não de exploração e inadimplência. Quanto a mim, pessoalmente, não perco muito com isso, pois é ruim de eu tocar lá…?.

A MTV se defende. ?Não deixamos de recolher por vontade nossa, mas porque o tipo de ação que movemos determina isso. Achamos que o Ecad não pode se encarar como um poder público, que cobra imposto e nem precisa negociar. Continuamos pagando as outras editoras normalmente. Os valores referentes ao Ecad estão sendo reservados e são considerados na contabilidade da empresa?, afirma o diretor financeiro da empresa, Eder Peres, 46.

Quanto aos artistas: ?Temos uma relação clara e limpa com a classe. Eles entendem as razões dessa ação contra o Ecad?.

Logomarcas

Se a MTV não se preparou para se posicionar em seu VMB sobre crise, pirataria, numeração ou outras questões candentes da indústria que motiva sua existência, por outro lado se esforça por não passar imagem de despolitizada ou pouco atuante no cenário atual.

O fio condutor imaginado para a cerimônia que começa às 22h é o do universo das logomarcas, sob inspiração aparente do polêmico livro ?No Logo?, de Naomi Klein.

?As vinhetas farão uma autocrítica da MTV. Será a apoteose das marcas, com o consumismo desvairado como fio condutor?, explica Mantovani. Segundo ele, cada artista concorrente terá logomarca específica, numa ?crítica ao mundo maravilhoso das marcas, ao próprio sistema?.

Ele promete também menção às eleições que se aproximam. ?Pirataria é caso de polícia. Não me parece um dos maiores problemas do Brasil hoje, há muita boca para alimentar antes. Prefiro usar a força da MTV para debater assuntos que preocupam os jovens?, diz, citando como exemplo as eleições. ?Continuamos chamando os candidatos a ir ao programa do João Gordo, até agora só Ciro Gomes compareceu?, alfineta.

Quanto ao cenário catastrófico várias vezes pintado pelas gravadoras, Mantovani se volta ao umbigo MTV: ?Para a gente acabar tem que acabar a música mundial. Se a música brasileira parar, tocamos música estrangeira?.

Bem, mas aí deixaria de existir o VMB, que premia a música nacional e é festejado hoje como ponto culminante da programação anual da rede de TV e música…"

 

"MTV bate recorde de audiência com VMB", copyright Folha de S. Paulo, 25/08/02

"O VMB (Video Music Brasil) deste ano, exibido anteontem à noite, rendeu à MTV um inédito quarto lugar no ranking do Ibope.

Com 4,1 pontos de média, segundo dados preliminares, a emissora segmentada empatou com a Rede TV! e superou a Band (2 pontos) na faixa das 22h à 0h35, horário em que foi ao ar a festa da premiação de videoclipes. A Globo marcou 23 pontos, o SBT, 14, e a Record, 5. Cada ponto equivale a cerca de 47 mil domicílios na Grande São Paulo.

Foi a maior audiência da história da MTV brasileira. Até então, seus recordes tinham sido 3 pontos de média na medição domiciliar alcançados em outras edições do Video Music Brasil e com o ?Fica Comigo? gay exibido no ano passado. A audiência do VMB deste ano cresceu 50% em relação ao de 2001, que registrou média de 2,7 pontos.

A participação da MTV no total de televisores ligados no horário do VMB foi de 8%. A média diária da emissora é de 1%.

A MTV investiu R$ 8 milhões (incluindo divulgação e festa após a premiação) na oitava edição do VMB e faturou cerca de R$ 12 milhões com cotas de patrocínio e participação, a maior parte vendidas no começo do ano."

 

TV GLOBO

"Com cortes, Globo registra lucro recorde", copyright Folha de S. Paulo, 21/08/02

"Graças a uma política de redução de custos e a um crescimento nominal de 12% em relação a 2001, a TV Globo registrou no primeiro semestre deste ano, segundo a própria emissora, lucro de R$ 250 milhões, um recorde.

O faturamento no período foi de cerca de R$ 1,25 bilhão. Em 2000, ano de melhor receita publicitária na história da rede, o faturamento no primeiro semestre foi de R$ 1,37 bilhão, e o lucro, de R$ 216 milhões _portanto, 14% inferior ao de 2002, apesar das vendas maiores dois anos atrás.

A política de cortes levou a TV a abrir mão de parte de seu ?banco de talentos?, os autores, diretores e atores mantidos contratados mesmo sem trabalhar. Excetuando-se os ?top de linha?, profissionais não têm tido seus contratos renovados. Entre atores, aconteceu até com Joana Fomm.

Há duas semanas, autores como Glória Perez e Gilberto Braga encabeçaram um movimento pela renovação do contrato do dramaturgo Marcílio Moraes, 58, na Globo desde 1984. Autor de um dos maiores sucessos dos anos 90 (a novela ?Sonho Meu?), Moraes não terá seu contrato renovado.

Aos autores, Marluce Dias da Silva, diretora-geral, respondeu que o mercado publicitário encolheu 15% e que a rede precisa ?reduzir compromissos futuros?. ?Agora estou no mercado. Sei fazer novelas e, se algum concorrente me der recursos, sei como bater a Globo?, avisa Moraes."

 

ILHA DA SEDUÇÃO

"?Ilha? põe o real em molde moralista", copyright Folha de S. Paulo, 22/08/02

"Poucos notaram, mas ?Ilha da Sedução?, o ?reality show? do SBT, é um dos programas mais moralistas da TV brasileira. O telespectador sintoniza no programa estimulado pelas promessas de exposição sexual, mas assiste a um melodrama conservador. Pode parecer estranho, mas ?Ilha? é um programa para a família.

Tematicamente ele expressa, via ?reality show?, uma outra etapa da vida sexual do público. Foi-se o tempo dos beijinhos românticos de Supla e Bárbara Paz. Os ?reality shows? partiram da adolescência romântica da ?Casa dos Artistas 1?, passaram pela mitológica vida sexual ativa do ?solteiro carioca? exposta nos ?Big Brothers? e finalmente chegaram à ?Ilha da Sedução?, que explora as tentações que afligem o casal monogâmico.

Quanto à estrutura, ?Ilha? segue a fórmula do melodrama tradicional. Desde o início do século passado, o cinema de David Grifith já defendia a moral conservadora expondo o protagonista a uma série de tentações sexuais. Mesmo se as tentações forem experimentadas, ao final da história o protagonista e o público devem aprender que o que realmente importa é o seu ?verdadeiro amor?.

O roteiro de ?Ilha? tem feito um esforço para encaixar a realidade nesse modelo. Entre os quatro casais, a edição desse domingo deu destaque para Vinicius e Bruna. Vinicius lê o mundo de forma melodramática e de sua boca saem clichês do gênero como: ?Isso não é coisa de mulher decente?.

O desafio dramático é conquistar para o melodrama a legitimidade do fato histórico documentado, tentando provar que seus modelos narrativos se aplicam na construção do cotidiano. Mais uma vez Vinicius, ao comentar uma ?solteira? que julgou perversa, disse a frase ideal, espécie de epígrafe de ?Ilha?: ?Pensei que gente assim só existia em novela?. (Newton Cannito é diretor do Instituto de Estudos de Televisão)"