Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pedro Doria

INTERNET

"Yahoo! pago", copyright no. (www.no.com.br), 28/01/02

"Em meados do mês uma empresa de todo desconhecida chamada Divine comprou um site de busca conhecido por poucos chamado Northern Light. A repercussão seria nenhuma se, de pronto, não tivessem ambas assinado um contrato com o Yahoo! Pela primeira vez, a ferramenta mais conhecida da Internet vai cobrar uns parcos caraminguás para que seus usuários achem algo na rede.

Que ninguém se assuste. Não custará um centavo buscar no Yahoo! o que sempre se buscou. Mas com a Northern Light, ele inclui em seu banco de dados o conteúdo de 7.100 publicações especializadas e científicas. É um material que em grande parte não está na web aberta e que não chega à tela sem custo: algo entre 1 e 4 dólares por artigo.

Em 2000, o mais conhecido mecanismo de busca do mundo faturou 1,1 bilhão de dólares. Em 2001, 717 milhões. A queda brusca se espalha por todos os sites do tipo e tem a ver, por exemplo, com o recuo da publicidade online. No fim das contas, tudo fruto da bolha das pontocoms que continua a enviar suas ondas de choque depois de quase dois anos.

O jeito é procurar maneiras alternativas de ganhar dinheiro. O Yahoo! agora cobra para empresas que queiram agilizar sua entrada no banco de dados comercial, cobra para usuários que queiram mais espaço de disco no webmail, não há serviço gratuito que não tenha uma contrapartida melhorada com uma etiqueta de preço.

A árdua busca na rede

O Yahoo! faz um tipo bem particular de índice da rede que é humano. Não promete quantidade, mas garante que alguém viu aquela página e achou que valia ser incluída. De quebra, hierarquiza a informação em diversos níveis facilitando o encontro. O fato de que é sempre muito mais rápido encontrar lá a página de uma organização ou detalhes sobre o maior craque de futebol da Índia é o que garante seu sucesso.

Noutro flanco estão os sites automatizados do qual o Google é o mais bem sucedido e Altavista e Lycos alguns dos mais conhecidos. Funcionam de maneira diversa, rodando um programa que mete-se web afora seguindo link após link até que o máximo possível da rede tenha sido coberto. Se não é um site mas uma informação mais específica o objeto da procura, é para eles que se segue.

O resultado é que cada vez mais acumulam-se os serviços de busca num mercado que torna-se mais competitivo, é cruel com quem tem um bom produto e impiedoso com os pequenos. Afinal, o dinheiro anda pouco. Não bastasse, ainda entram no esquema sites de metabusca, que oferecem um terceiro tipo de serviço que, embora aparentemente útil, no fim canibalizam tudo.

Chama-se Mamma.com um bom exemplo. Nem tem um bom sistema de hierarquização como o Yahoo! tampouco um software de pesquisa rápido e eficiente qual Google. O que ele faz é disparar uma busca para os outros sites de busca – MSN, Ask Jeeves etc. -, organizar lá com seus critérios os resultados e regurgitá-los de volta ao usuário. Uma passada no Google dava menos trabalho de separar joio do trigo.

Não é à toa que o Yahoo! vai mal. Com a coisa tão acirrada, ele e seus concorrentes começam a caminhar na fina linha que separa dinheiro honesto de conflitos éticos deslavados. Quem corre perigo é o usuário desavisado.

Segredos e artimanhas

Nessa selva das ponto.com, os buscadores tiveram que descolar táticas de sobrevivência. Há algum tempo, a palavra ?cobrança? causava alergia ao internauta. Hoje, no entanto, o bicho não parece mais tão feio. Se fosse, o Yahoo! não estaria pegando carona. E já tem gente propagando por aí que os sites de busca especializada, como oferece agora o Yahoo!, facilitam muito mais a vida. Segundo estudo da Jupiter Media Matrix, as pessoas resolvem suas pendengas virtuais 50% mais rápido do que nos serviços tradicionais.

Na ?Conferência Estratégica das Ferramentas de Busca 2001?, as táticas deram as caras. Depois das medidas tradicionais tomadas pelas ponto.com – demissão, propaganda pesada, contratação de consultores tradicionais – os buscadores estão se redobrando. Agregam arquivos mil, como MP3, mensagens da Usenet, mapas, notícia e, agora, seduzem o internauta com os pacotes especiais de arquivos pagos.

Até aí, paga quem quiser.

O que os buscadores andam fazendo de feio mesmo, diz a turma da liberdade na grande rede, é o chamado paid inclusion e paid placement. Trata-se do seguinte: o site interessado em entrar na tabela de resultados, paga por isso. Quer quiser estar entre os primeiros da lista de resultados, desembolsa mais shekelim.

?Será este o futuro da Internet?? A pergunta de Charles Cooper, responsável pelos pitacos mais sensatos da News.com, se complementa. ?O maravilhoso dos buscadores é a possibilidade de peneirar um site que nunca se ouviu falar no meio de um milhão de outros.? E, se a tendência essa, ele vislumbra que só vai ser visto no índice dos buscadores quem pagar para ser visto. Banana para os independentes.

Segundo Cooper, os links de pornografia são os que desembolsam mais para estar no topo à vista do internauta. Mas há outros links que devem ser clientes tão bons quanto a indústria pornográfica.

Desfaçatez mesmo, atacam os libertários, é esconder que se faz isso. Buscadores como Google e FAST, por exemplo, dão a cara à tapa quando os links pagos vêm destacados nas páginas como feature links, partner sites ou sponsored links. Quem quiser clicar ali, o faça consciente de que o exibido pagou para ser clicado. Mas há quem olhe para o alto, assobie e saia de fininho, fingindo que não viu. Assim fizeram oito buscadores denunciados em julho do ano que passou pelo grupo fundado pelo ativista Ralph Nader. Reclamações correram a web e foram enviadas para a ?U.S. Federal Trade Comission (FTC)?. Mesmo assim, muita gente ficou sem saber de nada.

Na lista negra, muito peixe grande que vendeu espaço e não explicou que muitos dos resultados das buscas eram, na verdade, propaganda. Ficaram com cara de vilão AltaVista Co.; AOL Time Warner, Inc.; Direct Hit Technologies; iWon, Inc.; LookSmart, Ltd.; Microsoft Corp.; e Terra Lycos S.A. (dona do HotBot e Lycos). Foram acusados de antiéticos.

Para Danny Sulivan, da SearchEngineWatch.com, pagar pelo resultado pode mas é obrigação do site botar pelo menos um ícone informando que aquilo é comercial.

Antes mesmo da comercialização do link, Google, FAST e Altavista dizem que barram do índice os sites que usam de artimanhas para aparecer. Filtrando-os, garantem um ranking de resultados não artificial.

Até quando essa ética mantém na lona as finanças, é que ninguém sabe."