Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pelo fim da propaganda política pseudo-jornalística

Sidney Garambone (*)

 

D

epois de perseguir os advogados, o cinema americano pegou no pé da imprensa televisiva. Com certa razão. A CNN, que já foi boa algum dia, se transformou num Ratinho mundial, transformando notícia em show, com direito a vinhetas nefastas e trilha sonora. Até agora, apesar de algumas emissoras insistirem na câmara sem tripé e na espetacularização do drama dos humildes, o jornalismo brasileiro vai sobrevivendo às críticas e ainda mantém um elo rígido de credibilidade com o público.

Entretanto, a politicagem, e não a boa política, anda se aproveitando de forma maligna, vampiresca e daninha do formato jornalístico, consagrado e aperfeiçoado desde a Acta Diurna romana. Sem a menor censura ou pressão da Fenaj e muito menos da Lei Eleitoral, partidos políticos de todas as tendências usaram e abusaram, nesta campanha encerrada há poucos dias, do jornalismo de mentirinha para promover seus candidatos. A começar pelo PSDB, do presidente da República, e seu programinha de entrevista. Num país inundado pelo analfabetismo, poucos são os que distinguem um programa jornalístico, isento, feito por profissionais, dos tais programinhas políticos similares. Quantas vezes um repórter de jornal entrevistou alguma pessoa de um bairro popular e ouviu a velha pergunta: é para a TV Globo? Mesmo que não houvesse câmara, cabos, fios ou monitores que indicassem ser uma equipe de televisão.

Ou seja, o que era para ser uma exposição de idéias e soluções para os problemas nacionais, estaduais ou municipais (no caso de eleições para a vereança ou prefeitura), se torna um falso produto, uma mentira, um artifício para enganar o telespectador desprevenido. E não só o telespectador. No rádio, são inúmeros os programinhas inventados, muitas vezes fora do horário eleitoral gratuito, que simulam uma entrevista com tal candidato feita por um suposto jornalista. No Rio, o candidato César Maia chegou ao cúmulo de reproduzir uma página do Globo, aumentando as fontes, editando textos e iludindo o eleitor.

Não há meio termo. Para a preservação da atividade e a proteção ética da profissão, é necessária a proibição imediata deste tipo de recurso eleitoral. Nos próximos pleitos, o eleitor não pode ser confundido, assistindo a programas supostamente jornalísticos, isentos, mas que na realidade foram feitos pelas exímias mãos de profissionais com passagens em vários meios de comunicação e com recursos para imitar formatos já consagrados de jornalismo de alta difusão. A lorota chega ao requinte de utilizar profissionais de TV, conhecidos do público, que exploram sua imagem para passar credibilidade. A prática é perigosa, aumenta a cada eleição e precisa ser vigiada, policiada e proibida. Urgentemente.

(*) Subeditor da IstoÉ