Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Perdão, Santa Clara

QUALIDADE NA TV


QUE TV!

Carlos Eduardo Caetano (*)

Quem nos cobre contra o massacre intelectual a que somos submetidos pelos veículos de massa? Ligar a televisão aos domingos, por exemplo, virou uma atitude kamikaze – é pedir para morrer. De um lado aquele apresentador com nome de bebê idiota de desenho animado, Gugu. Do outro, o tenor mudo. Mudo é bondade minha. Qualquer entrevistado de Fausto Silva que me conteste…

É quase uma barbárie. Ou melhor, é a própria. A TV parece fazer o caminho oposto de uma civilização coerente: vem de alguma civilização para a barbárie. Cadê o meu seguro? Já estou rico! E ligar o rádio? Ler determinadas revistas? E os livros de auto-ajuda? Me vejo obrigado a perguntar: Lair Ribeiro tornar-se-á um imortal da Academia Brasileira de Letras? Depois do Sarney… E a música? O que virou a música senão as ancas de Carla Perez, Scheilla Carvalho e Sheila Melo? Coitadas das prostitutas. Concorrência injusta!

Sobraram poucos oásis num emaranhado de lixo. Ah!, se todos fossem iguais a Marisa. Seletiva. Sobrevivente. Monte. Não bastasse sua voz e composições, ainda tem a generosidade de resgatar pérolas esquecidas da MPB, como a Velha Guarda da Portela. Por ela eu pago. Por ela empunho a bandeira verde, amarela, azul e branca (e cor-de-rosa e carvão). Por ela e por muitos outros.

Ver Fernanda Montenegro é sempre um prazer. Mesmo que seja num texto do eterno "imigrante" Benedito Ruy Barbosa – me perdoem os fãs –, um chato! Sérgio Mallandro é uma agressão. E o nome já diz tudo. Como dar credibilidade a uma criatura que se autodenomina "malandro"? E ainda prestando um desserviço à sociedade ao utilizar o adjetivo com grafia incorreta – sim, porque isto não deve ser considerado liberdade poética, ou é?

Continuando a saga da cultura do lixo, não poderia deixar de citar o pagodeiro Alexandre Pires. Durante o episódio da morte do motoqueiro cheguei a instituir uma pena para ele, a mais cruel que possa existir: habitar o xilindró ao som das próprias "interpretações". Crueldade? Não é nada. Crueldade é ouvir – e às vezes até cantarolar tamanha a repetição – músicas destas duplas pseudo-sertanejas e estes apresentadores de bailes de debutantes que se denominam cantores românticos. Bobagem! Romântica era Maísa. Romântico é Maria Bethânia cantando Roberto Carlos… Já que Fernanda Young disse que é desvio de caráter não gostar do "Rei", então gostemos. Nem que em outras vozes…

Vivas, cadeia e fogueira!

E então? Vamos reivindicar nossos direitos? Já imaginaram se a cada aparição de um canastrão recebêssemos um prêmio? Melhor não, né? Não sobraria uma emissora, tantos são os canastrões: Ricardo Macchi – o da Dára, lembram?, Reynaldo Gianecchini, Paulo Zulu, Maurício Mattar. Tem as canastronas também. Sim, elas existem: Carolina Dieckmam, Fernanda Rodrigues, Letícia Sabatella, Luana Piovani. Este artigo não pode se estender demais. A falta é de espaço, não de "canastras". É de talento.

Talvez eu seja o malvado. Os veículos de comunicação, não. Afinal, eles nos poupam de algum lixo. Vejam vocês que o filho bastardo do presidente da República nos foi omitido… Será que a Dona Ruth já sabe? Generosidade deles. Intriga minha. E a causa mortis do filho do coronel? Melhor deixar para lá… Emissoras, jornais e revistas o fizeram… Farei eu também. Enfim, eles nos poupam de algumas mazelas… E filtram as que nos jogam na cara…

O excesso de reticências é absolutamente necessário, se é que vocês me entendem… Talvez sejam a personagem principal, se é que vocês me entendem… Enfim, como poderia funcionar um seguro que nos protegesse dos acidentes que são ouvir Tiazinha, Fábio Jr., Fernanda Souza e alguns muitos outros "cantarem"? Ou Guilhermina Guinle, Marcelo Novaes e outros mais "atuarem"? Receberíamos prêmios a cada aparição deles? Por cenas? Por segundos no ar? Talvez por trabalho realizado… Estaríamos ricos. Todos! Ou eu exilado. Afinal de contas, não posso ser tão otimista assim, já que ainda não esqueci a vaia que João Gilberto recebeu de um público, pelo menos financeiramente, seleto.

Tudo bem! Ainda posso ligar e desligar a TV na hora em que bem quiser. Escolher os jornais e revistas que leio. Comprar meus CDs e sintonizar numa rádio que ao menos sirva. Enfim, posso viver numa bolha. Ou então gritar para, talvez, ser compreendido:

Viva Paulo José!

Cadeia para Paulo Maluf!

Viva Fernanda Torres!

Fogueira para a Feiticeira!

Viva Nelson Rodrigues!

Viva Armando Nogueira!

Miami para Collor!

Sampa para Santa Rita!

Pirâmide para Cid Moreira (não é nelas que as múmias repousam para todo o sempre?)…

(*) Jornalista, e-mail <carlos@portaldoseguro.com>

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