Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Pesquisa não é bola de cristal, mas virou bola da vez

Rachel Balsalobre (*)

 

Tendo o coro desafinado dos irados contra as pesquisas abaixado alguns decibéis o volume da gritaria, cumpre continuar a examinar aspectos do último cenário eleitoral no qual as pesquisas voltaram a ser a bola da vez. Em tudo que seja dito, é preciso que se tenha sempre na mira a distinção fundamental entre a discussão técnica e heurística das pesquisas, de um lado, e a sua utilização jornalística, mediática e política, de outro. São duas coisas diferentes, que não poderão ser esgotadas aqui, mas que farão parte das ponderações deste texto.

Há um terceiro aspecto, que diz respeito à contemporaneidade deste instrumento chamado pesquisa. Já é hora de começarmos a nos entender sobre um assunto que é, por exemplo, questão pacífica em países de Primeiro Mundo, onde pesquisas de todo tipo, destacadamente as eleitorais, são artefatos rotineiros no ambiente informacional e como tal são consumidas. Isto é, o cidadão/receptor/consumidor, assim como faz com qualquer outro produto do imenso, trepidante e feérico mercado de bens culturais, entra em contato com uma informação e, a partir de um processo complexo, faz a sua própria metabolização desta informação, ao acolhê-la, ou rejeitá-la, ou sopesá-la, ou cotejá-la com outras informações, ou colocá-la sob suspeição, ou execrá-la, ou combiná-la com outras coisas, ou simplesmente ignorá-la, ou confiar plenamente nela, ou…, ou…

O importante mesmo é que este processo se cumpra: exposição sem tutela, sem vigilância, sem “patrocinadores do bem e da verdade”, sem qualquer regulamentação que não seja a da própria sociedade, que num processo amplo e inevitavelmente lento vai escolhendo o que quer que permaneça e o que quer que seja descartado de seu panorama informacional e cultural. Não há outro caminho para a democracia. Um belíssimo exemplo de como isto ocorre, uma prova de que não se trata aqui de uma falácia liberal, aconteceu discretamente, quase que despercebidamente, na edição de 21/10/98 da Folha de S. Paulo, Caderno Eleições (p.3): pela primeira vez um jornal diário, ao publicar uma pesquisa, explicou, de modo tão detalhado e cuidadoso, a metodologia da pesquisa: amostra, margem de erro, estudo prévio etc., muita coisa do “estatistiquês”, impenetrável para o comum dos mortais, está lá claramente editada de um modo que expressa o esforço em explicitar aspectos técnicos, sem os quais é impossível entender e discutir pesquisa a sério. É a partir destas ocorrências que vai se criando um outro padrão, e que o leitor/cidadão aumenta o grau de exigência de qualidade daquilo que a mídia lhe oferece. Esta iniciativa da Folha, ainda que insuficiente e tímida, já é, de algum modo, resultado do clamor cada vez maior por qualidade e precisão na publicação deste tipo de informação.

É pensando também nisto que soa cada vez mais extemporânea, cada vez mais canhestra e equivocada a crítica cuja finalidade é criar constrangimentos à livre divulgação das pesquisas, entendendo-se aí, por constrangimento, também a intenção de regulamentar a publicação, eufemismo que é apenas um outro nome para censura.

Mas afinal, para que servem as pesquisas eleitorais? Servem para fazer uma fotografia instantânea de um e um só momento da intenção do eleitor, servem para captar uma disposição fugaz, porque volátil, porque ainda em movimento, porque ainda não consumada na urna. Ou seja, sua virtude é também seu defeito: assim como são precisas e verdadeiras (refiro-me às competentes e honestas) para aquele momento no qual o campo foi feito, podem ser obsoletas para o momento imediatamente seguinte. Tanto é ágil e precisa quanto perecível.

Não foi por outro motivo que na quarta-feira que antecedeu o 2o turno a TV Globo, depois de ter feito várias chamadas, na última hora não colocou no ar a pesquisa do Ibope, que ainda não acusava a virada de Covas, já que naquele mesmo dia a Folha de S. Paulo abriu com grande alarde a informação do DataFolha de que o candidato havia ultrapassado Maluf. E sabe qual era a diferença dos dias do campo (realização das entrevistas) de um instituto para o outro? De um dia! O campo do DataFolha terminou apenas um dia depois do campo do Ibope, o que deixou este último com informações defasadas em relação ao concorrente.

Esta característica permite pensar que isto pode também ter ocorrido no 1o. turno: o campo da pesquisa dos dois institutos mencionados era da primeira metade da semana. Podem muito bem não ter captado um movimento do eleitorado que só ganharia nitidez num campo a dois dias da eleição. Dizer isto num contexto em que já se consolidou, com marmórea rigidez, a convicção de que houve manipulação contra a candidata petista, é clamar num deserto profundo. Que venham, pois, as CPIs das pesquisas.

A propósito (e independentemente do fato de ter havido erro/incompetência ou manipulação): quem foi que falou que era para fazer voto útil no 1o. turno? Quem mandou distorcer o espírito nuclear da eleição em dois turnos?

Que fique a dura lição: 1o turno, aconteça o que acontecer, é para votar no candidato do coração. E pesquisa não é bola de cristal!

(*) Jornalista, psicóloga e professora no curso de Jornalismo da PUC/SP. Doutoranda em Psicologia Social (USP), membro do IEDC.

 


De Marilda Varejão, editora do PSC (Para Seu Conhecimento), jornal interno da editora Abril, recebemos a animação abaixo, que o leitor pode simplesmente ver, ou arquivar.

O mote da Fundacion Vida Silvestre Argentina é “De la mano con la naturaleza”. Seu endereço na Internet é: http://www.vidasilvestre.org.ar/

De la mano con la naturaleza Arquivo avi com 1,4 M

 



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