Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Pesquisas e jornalistas

Edição de Marinilda Carvalho


Annita Costa Malufe (*)

 

Uma pesquisa de opinião, nos dias de hoje, pode dar pano para manga ao cair nas mãos de um jornal. Seja ela “de confiança” ou não, o risco de ser mal utilizada ao passar pela “linha de montagem” de uma redação é realmente muito alto.

A verdade é que a grande massa de profissionais desse meio não está familiarizada com a leitura e a interpretação de pesquisas. E, ao contrário do que seria ao menos razoável, não se dispõe a compreender melhor o assunto. Qualquer um pode investigar por conta própria e descobrir: quantos jornalistas efetivamente sabem ler tabelas? Quantos, de fato, se interessam pelo assunto?

Talvez não seja nem preciso investigar para constatar que, de um modo geral, o material de pesquisa é usado inadequadamente pela imprensa. Se isso não ocorre por má-fé – o que seria pior -, provavelmente deve-se a simples desinformação. Temperada com um pouco de preguiça, afinal.

Basta ler matérias sobre alguma pesquisa de opinião e prestar atenção ao título, na forma de abordagem, na importância que é dada às informações contidas no estudo, aos gráficos (ai, os gráficos!). E, antes disto tudo, será que o redator do texto explicou tratar-se de uma pequena “enquete” ou de uma pesquisa estatisticamente rigorosa?

Muitas vezes, parece que nem o editor sabe se determinado estudo que lhe caiu nas mãos teve uma amostra probabilística. Como poderia informar aos leitores se os resultados são de fato representativos? A maior parte dos jornalistas talvez nem ao menos entenda a diferença entre uma amostra aleatória e uma amostra casual. Nada contra as enquetes. O problema é que elas devem ter um uso adequado aos seus limites. As sondagens servem para “sondar”, servem para levantar questões para estudos mais apurados. Têm caráter exploratório. As pesquisas feitas com rigor estatístico já podem ou descrever com mais precisão um determinado fato, ou – o que é o crème-de-la-crème das pesquisas – oferecer explicações sobre este fato.

Em qualquer um dos dois casos, a utilização inadequada é gritante. As opiniões colhidas aparecem nos jornais como verdades absolutas. São achatadas, enlatadas em manchetes que se assemelham cada vez mais a palavras de ordem.

Fenômeno que parece não ocorrer apenas com esta importante fonte jornalística que são as pesquisas e sondagens de opinião. Ao entrar na linha de montagem da indústria jornalística, a informação acaba passando por este “tratamento-trator” que achata, superficializa e sensacionaliza o fato. Tratamento necessário, pode-se compreender. Mas a medida precisa estar antes daquele ponto em que o dado acaba se deturpando ao extremo. Momento em que o leitor, coitado (e nem precisa ser tão esperto) começa a se sentir um pouco enganado demais. E, enfim, já que o mercado é a medida, leitores aborrecidos com os descalabros jornalísticos podem pressionar para baixo os números dos jornais… E destes “números” os jornais entendem muito bem….

(*) Redatora da Revista SBPM – Sociedade Brasileira de Pesquisa de Mercado e quartanista de Jornalismo (PUC/SP).

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