Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pesquisas mal-interpretadas

JORNALISMO CIENTÍFICO

O problema é antigo para a imprensa: como apresentar ao leitor notícias interessantes do mundo científico de forma fácil, mas sem simplificar demais? Keay Davidson [San Francisco Chronicle, 4/2/02] observa que existe a tendência de publicar os resultados de pesquisas recentes e apresentá-los fora de proporção. Foi o que ocorreu com o lançamento de dois estudos científicos sobre a Antártica: um mostrou que, enquanto os continentes estão esquentando, grande parte deste está esfriando; outro observou que as correntes glaciais parecem estar crescendo.

Para os cientistas envolvidos, as descobertas sugerem que os efeitos do aquecimento global na Antártica se mostraram mais difíceis de prever. Mas alguns jornalistas interpretaram os relatórios como provas que desmentem a própria teoria de aquecimento global, fazendo confusão entre mudança de fluxo das correntes e mudança de taxas de degelo. O jornal canadense National Post foi um dos que se equivocaram: estampou na manchete: "Cobertura de gelo da Antártica parou de derreter, descobre estudo." Editorial do San Diego Union-Tribune chegou a ironizar: "Oh dear. O que os pregadores do Apocalipse dirão agora? Como explicarão mais dois estudos científicos que claramente contradizem a teoria do aquecimento global?"

Segundo Davidson, o assunto tem tamanha carga política que cientistas têm dificuldade de expressar sua complexidade. Ao contrário do anunciado, o aumento de gelo "absolutamente nada tem a ver com tendências climáticas recentes", explica Slawek Tulaczyk, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, envolvido nas duas pesquisas. "Vivo repetindo aos jornalistas que esta ciência se parece com economia. Ambos lidam com sistemas complexos. Assim como uma única ação subindo ou descendo não pode ser interpretada como um indicador confiável do colapso ou da melhora da economia, temos que aceitar a ocorrência de tendências contraditórias no clima global."

REVISTAS

Ao cobrir a maior matéria dos últimos tempos, os ataques de 11/9, os semanários noticiosos americanos viram sua circulação aumentar consideravelmente. Relatório do Audit Bureau of Circulations revela que as revistas Time e Newsweek tiveram aumento de 80% na venda em banca no segundo semestre de 2001; no mesmo período, U.S. News & World Report vendeu 48% mais.

A maior parte da circulação dos semanários vem de assinaturas. Os números poderiam ser maiores se o Bureau permitisse a contagem das edições extras, revela Paul D. Colford [New York Daily News, 7/2/02]: a edição especial da Time vendeu 3,4 milhões de cópias em banca e teve circulação total de 7,2 milhões de exemplares.

As revistas de celebridades apresentaram números contrastantes: enquanto a People teve aumento de 4,7% em vendas avulsas, National Enquirer e Star caíram 11% e 7%, respectivamente. A queda também se deve ao fato de a American Media, sua proprietária, ter virado notícia com a descoberta de antraz no escritório da Flórida e com a divulgação da informação ? falsa ? de que a bactéria poderia ser contraída com o manuseio das publicações: segundo o presidente David Pecker, o rumor fez com que as vendas inicialmente caíssem 33%. "Estamos nos recuperando."