Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Plínio Fraga

GOVERNO LULA

“Em 3 anos, PT deu a Duda o mesmo que Maluf”, copyright Folha de S. Paulo, 21/09/03

“Os três anos de serviços prestados ao PT já renderam ao publicitário Duda Mendonça tanto quanto os oito anos de proximidade com o ex-prefeito Paulo Maluf, para quem trabalhou em três campanhas eleitorais.

Entre 1993 e 1998, nas gestões de Paulo Maluf e de seu então afilhado Celso Pitta na Prefeitura de São Paulo, Duda estava entre os responsáveis pela publicidade oficial, com contratos que deram a sua agência comissionamento de cerca de R$ 23 milhões, em valores atualizados.

Duda fez a campanha eleitoral de Maluf em 90 para o governo do Estado e em 92 para a prefeitura. Em 96, a pedido do ex-prefeito, assumiu a campanha de Pitta.

Assessores de Maluf afirmam que ele combinava o valor do contrato de cada campanha diretamente com o publicitário. Calculam que tenha recebido perto de R$ 15 milhões, em valores de hoje.

Dono de uma das três agências que detêm a conta de publicidade institucional do governo Luiz Inácio Lula da Silva (orçada em R$ 150 milhões), em 12 meses Duda pode receber até R$ 9,45 milhões de comissionamento.

A licitação prevê que cada agência receba ao menos 15% do valor do contrato -R$ 22, 5 milhões- para produção e veiculação dos comerciais. A cada uma das agências são destinados 9% do valor recebido como honorários, ou seja, no mínimo R$ 2,025 milhões.

Neste ano, por meio de sua empresa de marketing político, Duda deve receber do PT nacional cerca de R$ 5 milhões para criar os programas da legenda na televisão e outros R$ 10 milhões para cuidar da campanha municipal de 2004.

No ano passado, durante a campanha eleitoral, o publicitário recebeu dos petistas cerca de R$ 15 milhões para fazer a campanha de Lula e supervisionar candidaturas a governos estaduais e ao Senado.

Duda tem importância estratégica para o PT hoje. A ele cabe:

1) orientar todo o marketing do governo Lula;

2) cuidar da imagem do PT;

3) coordenar os programas gratuitos na TV dos candidatos do partido em cinco capitais a serem definidas como prioritárias;

4) sugerir forma e temas a abordar a 450 candidatos e coordenadores de campanha petistas em seminários internos;

5) escolher projetos de administrações municipais a serem divulgados como modelos em 2004;

6) encomendar e analisar pesquisas sobre atos do governo.

Uma das principais lições que Duda passa aos petistas é que não existe marketing eleitoral, mas sim marketing político. Sua tese é que não adianta o partido tentar comunicar um projeto somente durante o período do horário eleitoral gratuito na televisão.

A gestão da imagem deve ser contínua. Por exemplo, na votação da reforma tributária, pesquisas detectaram que a opinião pública percebia o projeto como um aumento de impostos.

Duda e o secretário de Comunicação Estratégica, Luiz Gushiken, iniciaram então discussões para a veiculação de uma campanha publicitária para dizer que a reforma faz justiça social.

No 1? Seminário de Comunicação do PT, no final de agosto, Duda indicou o tom para os candidatos petistas em 2004: ?O PT não tem problema de conteúdo e já venceu o tabu de que mexer no formato, dando uma carga mais emocional à mensagem, vá despolitizar a campanha?.”

“Publicitário é sondado por empresa privada”, copyright Folha de S. Paulo, 21/09/03

“Ex-dono da agência de publicidade DM9 -a sexta maior do país- Duda Mendonça tem sido sondado por companhias do setor privado para comandar as suas campanhas de mídia. Algumas empresas têm recebido um polido ?não? como resposta, a Folha apurou.

A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), empresa comandada pelo empresário Benjamin Steinbruch, sondou o publicitário há seis meses. Em junho, Mendonça também esteve reunido com diretores do Bradesco.

O banco não confirma o interesse. Na prática, o que ocorre é o seguinte: como Mendonça cuidará das campanhas do Palácio do Planalto, ele pode abrir mão de trabalhos ligados à mídia de empresas privadas.

Essa é uma prática comum no mercado. Agências que prestam serviços ao Estado, por razões éticas, nem sempre se envolvem com trabalhos no setor privado.

Neste ano, Mendonça entrou na disputa das contas de mídia de empresas estatais. Apresentou proposta técnica para a Petrobras e os Correios. A Folha apurou que as propostas já foram aceitas. Outras duas agências também foram escolhidas. O resultado oficial sai neste mês.”

“Duda será ?ministro da propaganda? de Lula”, copyright Folha de S. Paulo, 21/09/03

“O ministro da Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), Luiz Gushiken, 53, pretende nomear Duda Mendonça como responsável pela coordenação e integração da publicidade de todos os órgãos federais, inclusive os ministérios.

?Eu quero o Duda Mendonça como se fosse -na ausência de um termo mais adequado- meu consultor especial. Eu quero discutir com ele toda a estratégia de comunicação de governo, vendo os diversos setores, principalmente nos ministérios e a Secom.? Para formalizar a nova função do publicitário que fez a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, Gushiken enviará uma diretriz escrita a todos os órgãos federais com verba publicitária.

Nunca houve um marqueteiro com tanto poder no governo. Duda passará a municiar Gushiken sobre como está o trabalho de todos os ministérios, para garantir que exista ?sinergia? entre as campanhas. A decisão é legal, diz ele. Duda foi um dos três vencedores da licitação para cuidar da publicidade da Presidência. O valor do contrato de 12 meses é de R$ 150 milhões, para ser dividido por três agências -as outras são a Lew Lara e a Matisse, sendo que a última abriga o publicitário Paulo de Tarso, responsável por campanhas derrotadas de Lula. Cada agência tem de receber, no mínimo, 15% do total. No limite, a divisão deve ser de 15%, 15% e 70%.

Folha – Qual é o objetivo das mudanças na Radiobrás?

Luiz Gushiken – É melhorar a qualidade do trabalho.

Folha – Como se afere a melhora?

Gushiken – Pelo número de pessoas que têm acessado a Agência Brasil. É a qualidade do trabalho. Não se adicionou elemento novo. Houve um salto da qualidade.

Folha – É correto interpretar que a Agência Brasil vai concorrer com as agências de notícias privadas?

Gushiken – Se o setor privado tivesse acesso, estrutura de captar tudo aquilo que é ação de governo – que é a base principal para justificar a existência da Radiobrás- talvez não precisasse da Radiobrás. Mas não tem. Então, o governo tem a obrigação de transmitir à população as ações que estão sendo desenvolvidas no âmbito do governo. Tem obrigação.

Folha – O Poder Executivo cortou assinaturas de serviços noticiosos nos últimos meses?

Gushiken – Não sei dizer. Agora, tem uma coisa: no começo dos trabalhos nossos, tudo aquilo que era dispensável, não era um trabalho de muita necessidade, todo mundo cortou. Até porque a situação financeira obrigava a isso. Houve um corte muito grande.

Folha – O sr. já decidiu como será o trabalho das três agências licitadas para atender a Presidência?

Gushiken – Estamos discutindo. Uma coisa eu já defini. Eu quero o Duda Mendonça como se fosse -na ausência de um termo mais adequado- meu consultor especial. Eu quero discutir com ele toda a estratégia de comunicação de governo, vendo os diversos setores, principalmente nos ministérios e a Secom. Eu preciso de uma pessoa que dê para mim pareceres, estudos, articule, converse. Eu quero colocar o Duda Mendonça nessa área. O papel da agência de publicidade é mais de produção. Mas eu quero o Duda constantemente opinando sobre questões que envolvem a imagem do governo, para não deixar que a publicidade seja pulverizada. Ele será alguém que analisará isso mais detidamente, alguém que possa conversar também, dialogar. Eu quero o Duda mais nesse papel.

Folha – E os publicitários das duas outras agências licitadas?

Gushiken – Não há tempo de ficar consultando três agências para esse tipo de trabalho. O que eu quero é ver se está tudo bem coordenado estrategicamente, quem está vendo isso, como é que estão olhando, como é que um criador vê as diversas publicidades que existem no âmbito dos ministérios. Têm de ser alguém de confiança mesmo. E o Duda é uma pessoa com quem eu me relacionei muito tempo e entendo a linguagem dele. Esse trabalho com certeza quero dar para o Duda.

Folha – E essa função dele se encaixa no contrato da licitação?

Gushiken – Lógico.

Folha – Seria um consultor?

Gushiken – Eu chamo ele de consultor para facilitar o entendimento. Não quero três agências para ficar dialogando comigo sobre a estratégia da comunicação no sentido amplo. Eu quero uma só, e quero aquela pessoa que tenho já mais proximidade e entenda a linguagem, o Duda Mendonça. O resto, como é que vai dividir o trabalho, ainda não sei.

Folha – Como é que ele teria informações dos ministérios?

Gushiken – Por meu intermédio. Eu vou oficializar isso. Eu vou dizer para os ministérios que a Secom, por intermédio da agência do Duda Mendonça, eventualmente pode se relacionar, se reunir para discutir e saber como é que cada área deve atuar. Para que tudo fique em consonância com a linha do governo.

Folha – Sinergia?

Gushiken – Sinergia oficial.

Folha – Há muito ciúmes nessa área publicitária.

Gushiken – Muito. No campo da criação eles são muito ciumentos. Mas ninguém vai querer se intrometer na criação. Será uma troca de idéias, de como o governo está pensando. O governo pensa a partir da Presidência, e o Duda representa, digamos, esse canal que a Secom expressa da Presidência.

Folha – Isso será feito já?

Gushiken – Já. Quero evitar o que houve no passado, que foi a absoluta autonomia dos ministérios. Isso cria dificuldades. Também tem outra coisa, você pode economizar recursos nesse trabalho.

Folha – De que forma?

Gushiken – É possível casar e complementar atividades. A ação de um ministério muitas vezes tem relação com outro ministério. Elas são relações transversais. Se conseguirmos articular essas ações, juntar os ministérios e produzir material único, economiza-se brutalmente recursos.

Folha – O sr.não acha que isso pode criar uma certa ciumeira entre os publicitários licitados?

Gushiken – Poderia se entrasse no campo da criação.

Folha – Mesmo não entrando, ele não vai interferir da mesma forma?

Gushiken – Não. Por isso que eu estou dizendo, vou formalizar essa relação. Vou mandar por ofício, com uma política sobre comunicação de governo, que engloba articulações entre ministérios, Secom e ministérios na busca de unidade, de coordenação, de racionalidade administrativa. Há uma justificativa correta. Eles não podem achar que é uma intromissão indevida. Têm que saber que tem um fundamento que legitima esse tipo de ação.

Folha – Como está o programa de rádio do Lula?

Gushiken – Está pronto.

Folha – Será no café da manhã?

Gushiken – ?Café com o presidente?, mas esse título ainda não foi aprovado.

Folha – Qual a duração?

Gushiken – De cinco a oito minutos. E a veiculação será facultativa.”

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“Governo quer dar estímulo para a mídia do interior”, copyright Folha de S. Paulo, 21/09/03

“Uma das principais preocupações do ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica) é como estimular rádios e jornais do interior do Brasil. Para isso, ele deseja criar uma forma confiável de aferir a tiragem e a audiência desses veículos de comunicaç&atatilde;o -para que eles possam disputar mais o mercado publicitário, inclusive as verbas do Palácio do Planalto.

Na avaliação de Gushiken, seria bom para todos os envolvidos. O governo teria canais confiáveis para publicar suas peças publicitárias no interior. As empresas privadas também encontrariam novas formas de anunciar. A economia seria estimulada. E a mídia regional sairia fortalecida.

?Mas há um problema grave nas emissoras de rádio e nos jornais do interior?, diz Gushiken. ?Eles não têm como oferecer para mim indicadores de preços -dizendo com exatidão quais são as tiragens dos jornais e as audiências das rádios. Também não dão segurança de que o anúncio comprado será publicado.?

Para resolver o problema, a Secom vai ?estimular associações a oferecer ao governo federal alguma estrutura que resolva esses dois problemas?.

?Coisa estratégica?

Gushiken diz ter interesse nesse tipo de mídia, não apenas para repassar ?as verbas federais, mas para fazer com que eles tenham acesso ao mercado publicitário?.

Na visão do governo, é estratégico reforçar a mídia regional brasileira, que nunca teve uma história de independência editorial nem financeira. O Brasil tem 523 jornais diários, mas só poucos têm alguma credibilidade e influência local.

?As rádios e os jornais do interior são uma fonte geradora de cultura. Vejo isso como uma coisa estratégica nossa?, declara Luiz Gushiken.

A idéia do ministro é que associações de jornais locais, juntamente com universidades, possam criar mecanismos de pesquisa e aferição das tiragens dos jornais e da audiência das emissoras de rádio. Depois de algum tempo, cada veículo poderia oferecer garantia sobre seu alcance.

O primeiro passo para atrair anúncios e ganhar independência financeira é dar ao anunciante uma noção clara sobre o público que estará sendo atingido.

?São milhares de jornais e de rádios. Eu tenho pensado muito nisso. Não é só o governo que pode anunciar. As empresas privadas também terão interesse, desde que fique claro o tipo do veículo e qual é o seu público?, afirma.

Segundo Gushiken, a desorganização é tamanha na mídia regional que muitas vezes não há maneira confiável de pagar pela publicação de um anúncio e ter certeza de que foi publicado.

Para o ministro, é estratégico estimular a mídia regional, ?porque a tendência da mídia, com o avanço da tecnologia, é padronizar para reduzir custos?. ?Ao longo do tempo, você sufoca essa capacidade geradora de cultura no interior do país.?”

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“Com Lula, audiência da Agência Brasil cresce 44%”, copyright Folha de S. Paulo, 21/09/03

“Uma reformulação na agência oficial de notícias do governo, a Agência Brasil, fez com que a audiência do site na internet dessa empresa estatal aumentasse 44% neste ano -de 4,8 milhões de páginas vistas em janeiro para 6,9 milhões no mês passado.

A gestão petista fez com que o comportamento da Agência Brasil mimetizasse a operação de uma agência privada: pela manhã, um cardápio de pautas (lista de assuntos) é enviado para 2.291 veículos de comunicação e jornalistas de todo o Brasil que se cadastraram gratuitamente para receber o boletim.

O número de cadastrados é do início da semana passada. E aumenta a cada dia.

No meio da tarde, esse grupo de ?assinantes? recebe uma atualização do que foi de fato produzido. Até o início da noite, chegam as notícias apuradas pela empresa oficial. O serviço oferece, sem custo, textos e fotos, que podem ser usados por qualquer pessoa ou veículo de comunicação com acesso à internet.

Além da cobertura sobre política e economia, são oferecidos textos sobre cultura, esportes, temas internacionais, ciência e tecnologia e meio ambiente.

No momento, a Radiobrás, que controla a Agência Brasil, prepara um sistema para acompanhar o que de fato está sendo publicado pelos jornais e revistas do país. A prioridade são os veículos regionais de comunicação.

Não há números precisos, mas a Folha apurou que os órgãos do Poder Executivo já confiam mais na sua própria agência oficial para obter notícias sobre o que ocorre em Brasília.

Depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo dados não-oficiais, foram cortadas cerca de 30% das assinaturas de serviços noticiosos oferecidos por empresas privadas de comunicação.

Para suprir a demanda, o site da Agência Brasil (www.agenciabrasil.gov.br) costuma agora trazer uma ampla cobertura dos partidos de oposição.

?Oposição quer mudar reforma e trabalho para aprovar projeto no Senado pode ser maior? era o título de um longo texto divulgado neste mês sobre as dificuldades do presidente Lula para conseguir aprovar a reforma da Previdência.

Na sexta-feira, uma das manchetes do site era sobre o fato de o Brasil ser um dos países mais mal colocados nas estatísticas de acidentes de trânsito.

Em 12 de junho, a Agência Brasil anunciou uma falha: ?A Agência Brasil errou na quarta-feira na cobertura do protesto organizado pela CUT e por outras entidades contra o projeto de reforma da Previdência?.

Autonomia

Segundo o presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, 44, a idéia central é fazer a Agência Brasil buscar a produção de um noticiário ?objetivo?. Ele diz ter autonomia para operar essa mudança na empresa.

Além da Agência Brasil, a Radiobrás tem quatro emissoras de rádio (Nacional AM e FM de Brasília, Nacional em ondas curtas e Nacional AM do Rio) e duas emissoras de TV (NBR, de Brasília, que retransmite a programação do Poder Executivo, mas apenas para quem tem TV a cabo, e TV Nacional de Brasília).

Com um orçamento de R$ 92 milhões (que, contingenciados, caíram para R$ 79 milhões) e 1.151 funcionários, a Radiobrás atual tem uma estrutura quase idêntica à do governo FHC (havia 1.147 funcionários).

No que diz respeito à produção de notícias, em agosto a Agência Brasil divulgou 8.253 textos. Em janeiro, o número havia sido de 9.387. ?Estamos racionalizando e priorizando mais qualidade do que quantidade?, diz Bucci.

Os programas de rádio produzidos pela Radiobrás são retransmitidos espontaneamente por 188 emissoras no país. Essas rádios fazem parte de uma lista de 700, mas nem todas estariam com o cadastro atualizado.

?Estamos localizando uma a uma para saber exatamente quem reproduz nossos programas?, afirma Bucci.

A expectativa é conseguir estabelecer contato com todas as 700 emissoras ainda neste ano.”

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“Congresso pode mudar ?A Voz do Brasil?”, copyright Folha de S. Paulo, 21/09/03

“Toma corpo no Congresso a idéia de modificar o estatal e compulsório tradicional programa de rádio ?A Voz do Brasil?, transmitido de segunda a sexta, às 19h, com uma hora de duração.

Alguns congressistas pretendem que os 30 minutos reservados para a Câmara e para o Senado sejam transformados em ?spots? de um e meio a três minutos, para serem transmitidos ao longo do dia pelas cerca de 3.000 emissoras de rádio do país.

?A Voz do Brasil é um instrumento fundamental para o bom exercício do mandato parlamentar. Novas fórmulas que melhorem e modernizem o programa devem ser procurados, mas nunca a sua extinção?, diz o presidente da Câmara, João Paulo Cunha.

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), acha necessário ?primeiro ver as consequências técnicas e de audiência? para fazer uma mudança. Ele acredita que o programa já foi ?modernizado? nos últimos anos.

Criada nos anos 30 pelo então presidente Getúlio Vargas, ?A Voz do Brasil? é o mais antigo programa em rádios brasileiras. Além dos 30 minutos sobre o Congresso, há 25 minutos de informações sobre o Poder Executivo, quatro minutos sobre o Supremo Tribunal Federal e um sobre Tribunal de Contas da União.

O maior obstáculo para a mudança é técnico. Hoje, como a transmissão é no mesmo horário, rádios do interior captam o sinal de uma emissora concorrente e retransmitem o programa. Distribuir spots para todas as rádios seria quase impossível. Na comunicação do governo, calcula-se que, no máximo, 700 das cerca de 3.000 estações de rádio teriam capacitação técnica para captar os ?spots? via internet.”

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“Lula e a mídia regional”, copyright Folha de S. Paulo, 22/09/03

“É da maior relevância a prioridade que a poderosa Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República) diz estar dando à mídia regional.

O Brasil tem cerca de 3.000 emissoras de rádio e 523 jornais diários. É possível dizer, sem risco de errar, que a maioria tem qualidade sofrível. Por várias razões. No caso dos jornais impressos, existe o obstáculo histórico do analfabetismo e da falta de hábito de leitura do brasileiro.

Nos Estados Unidos (292 milhões de habitantes) há 1.457 jornais, com uma circulação média diária total de 55,2 milhões de exemplares. No Brasil (177 milhões de habitantes), os 523 jornais diários têm uma tiragem total de apenas 7 milhões. Os números dispensam comentários.

O que acontece no Brasil: as pessoas não lêem porque os jornais são ruins ou os jornais são ruins porque as pessoas não lêem?

Um pouco das duas coisas. O ponto central é que não há mercado publicitário forte para dar independência aos veículos regionais no país. Muitos jornais e rádios caem na armadilha de se vender para os governantes locais, divulgando ?matérias pagas? disfarçadas de reportagem.

Segundo o titular da Secom, o ministro Luiz Gushiken, a imensa maioria desses veículos do interior não entra no mercado publicitário também porque não consegue oferecer uma informação básica para seus anunciantes: a circulação exata, no caso dos jornais, e uma medição confiável da audiência das rádios.

Gushiken diz estar formulando uma saída. Estimulará associações independentes e universidades a pesquisarem e auditarem a mídia regional. Com números confiáveis sobre tiragem e audiência, os anunciantes podem se interessar e comprar espaço publicitário nesses veículos.

É claro que o governo também passaria a despejar anúncios nesses jornais e rádios do interior. Essa é uma história que fica para depois.”

“Parlamentares investem na própria divulgação”, copyright O Estado de S. Paulo, 21/09/03

“Não é só o Poder Executivo que está investindo na qualificação e profissionalização de seu setor de comunicação social. Câmara e Senado montaram poderosas e modernas emissoras de rádio e TV, com equipamento de última geração, tecnologia de transmissão digital e até canal exclusivo em satélite. Elas já alcançam os locais onde há o serviço de TV por cabo, mas têm planos de chegar também aos canais abertos e a todo o País.

As duas Casas do Congresso investem principalmente no jornalismo, com cobertura dirigida exclusivamente para suas atividades. Os diretores dos setores de comunicação do Senado e da Câmara dizem que o quórum das sessões legislativas melhorou desde que as emissoras entraram no ar.

?As imagens e o som das comissões e do plenário ajudam a manter, aumentar a presença e a dar transparência aos trabalhos?, afirma Armando Rollemberg, secretário de Comunicação do Senado. ?Isso é importante para a democracia, porque o eleitor pode acompanhar o que faz seu parlamentar.? Por enquanto, a TV Senado é transmitida por cabo. Mas a intenção, diz Rollemberg, é entrar na programação aberta para atingir a todos os eleitores. Já a Rádio Senado hoje envia sua programação para 300 emissoras, que podem retransmitir, na íntegra ou por partes, o conteúdo jornalístico gerado em Brasília. Na capital, a emissora transmite em FM, com 10 quilowatts de potência e alcance em um raio de 150 quilômetros; para as Regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, a transmissão é feita em ondas curtas.

Mesmo estando com suas emissoras no ar há 7 anos, nem a Câmara nem o Senado fizeram até hoje algum estudo sobre a audiência que têm.

Marilena Chiarelli, diretora da TV Senado, acha que é grande, porque recebe pelo menos 300 mensagens por e-mail mensalmente, com sugestões, críticas ou pedidos para que a emissora cubra um território maior. ?Pelo retorno dos telespectadores, sabemos que atingimos um público grande, embora só possamos contar com a medição das TVs a cabo.?

Eco – Sueli Navarro, diretora da TV Câmara, afirma que a repercussão das votações em plenário, das polêmicas nas comissões, e do debate que normalmente a emissora faz por volta do meio-dia, na sexta-feira, tem sido muito grande. ?Não temos nenhuma medida, mas o eco dos programas que transmitem os debates e as votações é muito bom.? Além do mais, lembra ela, agências de notícias, jornais e emissoras de televisão particulares se pautam pelos debates. Pelo menos dois deles – um com o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, outro com o ministro da Fazenda, Antônio Palocci – deram aos jornais suas manchetes principais do dia seguinte.

Na busca por maior audiência, a TV Câmara deu um passo à frente e já transmite em canal UHF. Na mesma linha, a Rádio Câmara alugou espaço em satélite e pode ser captada pelas antenas parabólicas e pela internet.

?Depois que chegamos às parabólicas o retorno tem sido muito maior?, afirma Jairo Ribeiro, diretor interino da emissora. Em Brasília, seu transmissor é dos mais potentes, com 20 quilowatts e alcance de quase 500 quilômetros.

Para tocar seus projetos de comunicação, o Senado e a Câmara fizeram investimentos milionários em material de última geração e contratação de equipes. A Rádio Senado tem 86 funcionários. A TV Senado, 163. Ambas as emissoras pagam salários de até R$ 5 mil. A Rádio Câmara funciona com 60 empregados, a TV Câmara com 144 servidores. Recentemente, foi aberto concurso para a contratação de mais 17 jornalistas.”

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“Verde-Oliva, a rádio ?em cores? do Exército”, copyright O Estado de S. Paulo, 21/09/03

“O Exército também montou sua rádio, no ar desde junho do ano passado. O slogan diz: ?A única rádio que transmite em cores… O verde e o amarelo… E o verde é oliva.? A programação, ao contrário do que sugere o tema, não é de propaganda do Exército. É predominante musical, com uma seleção brasileira da melhor qualidade e alguma inserção de música internacional que se tornou clássica. Com isso, já é a décima na preferência entre as mais de 20 emissoras FM de Brasília.

Diferentemente das rádios da Câmara e do Senado, que têm transmissores potentes, tecnologia de ponta e alugam até satélite, a Rádio Verde-Oliva é uma pequena emissora, com transmissor de 5 quilowatts e alcance de um raio de 90 quilômetros. Seu estúdio funciona no Quartel-General do Exército e nela trabalham 14 pessoas, sendo apenas dois civis. Um dos principais locutores é o soldado Paulo Caixeta, de 22 anos.

Um exemplo de que a programação da rádio é muito mais musical do que de propaganda ocorreu na manhã de 7 de setembro. Quem sintonizou a FM 98.7 ouviu Café da Manhã, de Roberto Carlos, e Disparada, de Geraldo Vandré, e Théo, interpretada por Zizi Possi, antes da entrada de uma vinheta que lembrou o Dia da Independência, seguida da execução de duas estrofes do Hino da Independência.

Na rádio do Exército, não há mesmo discriminação contra antigos inimigos do regime militar, como Vandré, Chico Buarque, João Bosco, Gilberto Gil ou Caetano Veloso. Eles estão em toda a seleção feita pelo coronel Dilencar Silva Matos: ?Nossa programação é musical e cultural, com inserções sobre o Exército e as forças co-irmãs.? A programação da noite de sábado ficou pronta na quinta-feira. Abriria com o MPB-4 cantando Partido alto, de Chico Buarque. Depois entrariam João Bosco e Jair Rodrigues, entre outros.”

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“TV extingue ?amarrotados? e cria ?papagaios?”, copyright O Estado de S. Paulo, 21/09/03

“Quase todos os parlamentares andam hoje nos trinques. Mas antes das TVs Câmara e Senado, boa parte deles pouco se importava com a aparência.

Ninguém os via mesmo. Quando deputado, o atual senador Heráclito Fortes (PFL-PI) era um exemplo de homem amarrotado, com um paletó que nunca fechava na barriga. Com o surgimento da TV, ele passou a se preocupar. Emagreceu e veste ternos bem passados, com vincos que se destacam.

Outro tipo todo amarfanhado era o líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA).

Como aparece a todo instante às câmeras, deu um jeito nos trajes. Anda sempre de terno escuro, bem barbeado. Antes, de tão frouxo, o par de óculos caía nariz abaixo quando discursava. Agora, usa armação muito fina, de forma a não causar nenhuma sombra no rosto. Há exceções, porém. Uma delas é o relator da reforma tributária, deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). Ele parece não se importar com nada. Usa calças jeans e continua a vestir paletós que, aparentemente, não foram feitos para ele, de tão curtos; ou gravatas que não chegam à altura do estômago.

Também por causa da TV aumentou o número dos chamados papagaios de pirata atrás das mesas diretoras. O papagaio é aquele que, sem ser o foco das câmeras, dá sempre um jeito de aparecer na imagem. Chega antes para não perder o burburinho e só vai embora quando se apagam os holofotes. O deputado Robson Tuma (PFL-SP) é campeão neste torneio, sempre pronto a oferecer seu perfil para as câmeras; a vice é a deputada Laura Carneiro (PFL-RJ) que, adepta das cores fortes, como o amarelo e o vermelho, às vezes deixa as costas nuas para o registro da TV. O vice-presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE), que é gago, fez um tratamento e hoje consegue dominar os microfones sem que alguém perceba seu antigo problema.

Carecas – O Senado tem uma história à parte no registro da vaidade dos parlamentares diante das câmeras de TV. Em 2001, o então senador Artur da Távola (PSDB-RJ) fez um protesto formal à mesa diretora do Senado contra a posição das câmeras, que ficavam num ângulo acima do plenário e, assim, registravam as carecas brilhantes dos presentes.

Especialista em rádio e TV, Artur da Távola sugeriu que as câmeras fossem levadas para dentro do plenário, de forma a focalizar os olhos e não as carecas de quem discursava. Foi atendido.

O senador alegou que os parlamentares com pouco cabelo, como ele, Eduardo Suplicy (PT-SP), Roberto Saturnino (PT-RJ) e José Alencar (PL-MG), hoje vice-presidente, entre outros, estavam sendo prejudicados. ?Nós, despidos de cabelos, somos um formidável exemplo de brilho exclusivo das luzes e não de nossas insuperáveis inteligências?, registrou Artur da Távola para a História do Parlamento do Brasil, falando como legítimo porta-voz dos carecas.”

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“Assessor explica como será nova rede de comunicação”, copyright O Estado de S. Paulo, 17/09/03

“O secretário de imprensa da Presidência da República, Ricardo Kotscho, afirmou ontem, ao comentar reportagem publicada pelo Estado no domingo, que a estrutura que montou no Palácio do Planalto para a produção de notícias visa a alimentar um site na internet e não a abastecer uma agência noticiosa.

Ele disse ainda que, ao chegar ao Planalto, já encontrou 72 funcionários na secretaria, número que foi mantido. Cinco servidores trabalham no site, em horário integral, quatro no setor de informática do sistema, um trabalha como revisor e há duas secretárias. Os outros 60 trabalham no atendimento à imprensa nacional e à imprensa internacional, fotografia, administração, recursos humanos e material.

A reportagem do Estado mostrou que o governo está montando uma supermáquina de informação oficial, com a redação do Planalto, o fortalecimento da Radiobrás, estatal que tem 1.150 funcionários, quatro estações de rádio, duas de televisão e agência de notícias que passou a atuar em todos os setores, inclusive esporte e cultura, que oferece seus serviços de texto e fotografia gratuitamente. O projeto busca alcançar um público estimado em 100 milhões de pessoas. Os partidos de oposição criticaram o governo, argumentando que a intenção seria ampliar o controle da informação.

Kotscho acrescentou ontem que não procedem as críticas dos fotógrafos de agências de notícia e de jornais, que asseguram ser impedidos de fazer fotos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cerimônias fora do gabinete.

Nos dois exemplos citados – o da cadelinha Michelle no colo do presidente, durante uma sessão de cinema no Palácio da Alvorada, e o da égua crioula recebida por Lula na Granja do Torto -, os fotógrafos não puderam registrar a cena porque tanto o Alvorada quanto o Torto são residências oficiais e não gabinetes de trabalho.

Exclusivo – Por fim, Kotscho contestou também a informação de que foi o único a assistir ao encontro entre o arquiteto Oscar Niemeyer e o presidente Lula, no Palácio do Alvorada, a respeito do qual redigiu um texto publicado pelo jornal O Globo.

De acordo com ele, o texto foi distribuído para todos os jornais e divulgado no site da Presidência da República (www.planalto.gov.br). Na mesma noite, disse Kotscho, Lula e Niemeyer foram levados ao portão do Alvorada para dar entrevista aos repórteres que estavam de plantão.”

“Da promiscuidade entre marketing e Poder”, Editorial, copyright O Estado de S. Paulo, 23/09/03

“Já se discute há um bom tempo, e não apenas no Brasil, o fato de, nas campanhas eleitorais contemporâneas, o discurso político dos candidatos e respectivos partidos, expondo suas visões socioeconômicas, seu entendimento ideológico ou, simplesmente, as soluções administrativas para os principais problemas que atingem a coletividade, vir sendo substituído pelo trabalho dos chamados marqueteiros eleitorais. Pois estes passaram a assumir responsabilidades cada vez mais abrangentes em relação aos múltiplos setores das campanhas e ao comportamento geral dos candidatos. Se antes o marketing cuidava mais das mensagens de propaganda, dos slogans, da forma (gestual ou visual) de apresentação dos candidatos nos palanques e na televisão, aos poucos os marqueteiros passaram a tomar conta da estratégia eleitoral global de candidatos e partidos: das falas dos candidatos – não apenas quanto à forma, mas também muito de seu conteúdo -, dos sistemas mais propícios de alianças, dos temas eleitoralmente mais atraentes para os programas de tv, etc.

Pode-se dizer que, com a força avassaladora da comunicação eletrônica de massa – especialmente a televisão -, a discussão sobre a legitimidade ou não dessa substituição do discurso político tradicional pelos efeitos eleitorais do marketing tornou-se ociosa. Os dados da realidade eleitoral mostram que o marketing funciona e traz resultados concretos, em termos de número de votos, na luta pelo Poder, em um sistema de eleições livres, próprio das democracias representativas contemporâneas.

Mas tudo isso que aqui dissemos ainda diz respeito a processos eleitorais, isto é, à luta partidária (sempre legítima) pela conquista do Poder, por meio da obtenção da maior quantidade de votos. Assim como o objetivo essencial do marketing comercial é conquistar mais consumidores (para aumentar a venda dos produtos), o do marketing político é o de arregimentar mais eleitores (para conquistar postos no Poder ou alongar a permanência de políticos no Poder). Ainda não tratáramos de um novo tipo de relação, que é a da participação direta no próprio governo, exercido por um partido, candidato ou grupo político para cuja vitória eleitoral contribuiu, do marqueteiro, com seus serviços profissionais devidamente remunerados.

A maneira como o ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica (Secom), se referiu, em entrevista publicada na Folha de S. Paulo de domingo, às funções que deverá ter o principal marqueteiro político do País – Duda Mendonça, indubitavelmente um dos principais artífices da grande vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e seu partido, o PT, na mais recente eleição presidencial – indica um novo grau de ligação. Há que se reconhecer que o marketing político deu um salto da campanha eleitoral para ocupar a própria máquina pública do Estado, a própria entranha governamental.

A certa altura da entrevista disse o ministro Gushiken: ?Eu vou dizer para os Ministérios que a Secom, por intermédio da agência do Duda Mendonça, eventualmente pode se relacionar, se reunir para discutir e saber como é que cada área deve atuar. Para que tudo fique em consonância com a linha de governo.? Até agora tínhamos no governo Lula, digamos, dois ?primeiros-ministros?, a saber, Palocci e Dirceu. Ao que tudo indica haverá mais um, Duda.

Apesar de três agências terem vencido a licitação para cuidar da publicidade da Presidência da República (e não é estranho que um presidente da República precise de publicidade específica, já que não é mais – e ainda não é – candidato?) -, parece que uma delas, a de Duda Mendonça, será a única a, efetivamente, dar as cartas – no campo da Comunicação, mas com interferência ?comunicológica? em todos os Ministérios, ?para que tudo fique em consonância com a linha de governo?. O marketing comercial quer mais consumidores, o marketing político quer mais eleitores. E o marketing governamental quer o que – já que não pode confundir-se com o político, pois quem o remunera não é um partido nem seus doadores, mas todos os contribuintes?

Esse tipo de promiscuidade entre o marketing e o Poder já houve, mesmo que antes só se usasse o termo ?propaganda?, e diz a experiência histórica que não deu muito certo – embora para alguns, durante certo tempo, até tenha dado.”