Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Política no Brasil é bola na rede!!!

Fábio Metzger

 

O

que poderia significar uma vitória brasileira na final da Copa do Mundo, para nossos políticos? Sempre que o assunto é futebol, toda a sorte de homens públicos que aspiram ao poder tenta explorar um fato novo, seja um sucesso, seja um fracasso, em cima de um grupo de 22 craques e mais alguns veteranos que integram a comissão técnica. Mas como esses ilustres homens usam do futebol para desfrutar de maior popularidade? É óbvio que nem todos conhecem os detalhes desse esporte. No entanto, trata-se de um instrumento poderoso que atua sobre a opinião pública. E é aí que entra o componente decisivo: o entusiasmo.

Uma vitória de nossa seleção certamente aliviaria dezenas de milhões de corações frustrados com as crises econômicas que assolam o país por anos a fio, com a inflação e a recessão. As vitórias no campo do imaginário coletivo são assim: encobrem a dureza da vida, fazem as pessoas encararem tudo com otimismo e estimulam a decisões mais conservadoras da grande massa, iludida de que, ou tudo está OK, ou, que pior não poderá ficar.

No entanto, isso não responde à seguinte pergunta: qual é o partido da seleção brasileira? A princípio, seleção nenhuma vota para este ou aquele candidato. O fato é que, se a famosa ‘pátria em chuteiras’ do nosso saudoso Nelson Rodrigues não vota, por outro lado, ela dá voto. Dá voto para quem está no poder, independente das inúmeras correntes que compõem o cenário político nacional. Pois o pensamento geral dos brasileiros é o de que um determinado governo é como um establishment que lhes garante a manutenção de uma ordem que, se não lhes beneficia, ao menos não lhes dá a desconfortável insegurança da mudança política radical. E a seleção, por sua vez, é como se fosse o país inteiro, carregando a sua dignidade para o mundo todo ver e aplaudir.

É claro que nada disso atua de maneira isolada. Entretanto, em uma nação de instituições frágeis, a força de um esporte como este ultrapassa as fronteiras de seu espírito que, se antigamente, não passava de pura diversão, hoje já se caracteriza como um verdadeiro negócio.

A imprensa dribla nossas mentes…

Sim, o futebol é um negócio. E como é! Quem não perde essa grande oportunidade é justamente a imprensa que alimenta, durante todos os dias, antes e durante a Copa do Mundo, a mobilização de todo um povo. Nas horas em que a seleção entra em campo, todos param. São quase duas horas em que o mundo deixou de existir. Só para que todos possam ver na televisão a seleção jogar!

Os corações mais céticos e pessimistas com a nossa seleção chegam a se sentir vítimas de um engodo. Lembram-se das inúmeras vozes que, às vésperas da Copa, afirmavam, em tom de eco, de que dificilmente o Brasil ganharia essa. Será a Indústria da Tragédia, com os seus fracassomaníacos saindo de franco-atiradores pela imprensa afora?! De uma hora para outra, o treinador se livra do rótulo de ‘ultrapassado’ para ganhar o bordão de ‘vencedor’. Ou é ídolo ou é canalha. São os instintos que a voz do Quarto Poder ajuda a suscitar em todas as almas…

Sem dúvida, o futebol é uma usina de emoções que a imprensa vive explorando. E é justamente nessas épocas que os respeitosos jornalões optam por colocar todo tipo de ‘especialista’ para falar de futebol. Mesmo quem apenas pretende fazer número e vender o seu ‘peixe’. É o risco que todos correm, em quando se quer faturar com um fato novo…

Esse tema nem é novidade. Quando se fala no futebol como ‘o ópio do povo’, a sensação é a de que esse assunto já deveria estar para lá de Marrakesh… O que se discute aqui não é esse aspecto. Mas sim, a verdadeira máscara que o Brasil veste durante todo um mês. O futebol é um esporte que está enraizado em nossa cultura. E milhões de pessoas acompanham, todos os dias, os noticiários do meio futebolístico. Realidade que não pode ser confundida com a mudança de referencial que todos sofrem com a realização de uma Copa do Mundo. Pois é nessas horas que o espírito de cidadania atinge a estaca zero, a ponto de quase ninguém se importar com absurdos, como a absolvição de um dos sete anões envolvidos no escândalo do Orçamento de 1993.

No entanto, não deu para deixar de torcer. Eu esperava que o Brasil tivesse podido vibrar com mais uma conquista. Fica para a próxima…

 

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