Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Primeiro politizam, depois policiam

M.M.

 

P

rimeiro esquecem, depois politizam, depois policiam, depois esquecem. Este é o drama da seca nos meios de comunicação. A rigor: primeiro politizam (por omissão), depois politizam (ao esperar a ação do MST para dar manchetes, depois a ida de FHC e Lula ao Nordeste em campanha), depois politizam (uso da força contra os sediciosos – continuação da política por outros meios, ou, como dizia Tancredo, falência da política), depois politizam (ao deixar o assunto novamente esquecido).

A repórter Marta Salomon, transcrita no Entre aspas (ver abaixo), mostra quão antigo era o alerta de que este ano haveria problemas. Clóvis Rossi diz que os jornalistas não têm autoridade para criticar o governo.

A Folha de S. Paulo, entre os quatro grandes, esforça-se para dar continuidade à cobertura, mas a pauta é velha e sensacionalista. Trata do que permanece, não do que muda.

Celso Furtado, em entrevista ao Jornal do Brasil (12/5/98), traçou um quadro abrangente, mostrando que os dados do problema não são os mesmos. Não trata do assunto como se se tratasse de mandar prender “os suspeitos de sempre”.

O senador Sérgio Machado, líder do PSDB, ex-secretário de Estado do Ceará, aponta uma das pautas ignoradas nos últimos meses:

“O Pacífico e o Atlântico Norte, que interessam aos países desenvolvidos, são bem estudados. O Atlântico Sul, não. O governo brasileiro importou seis bóias para medir a temperatura das águas atlânticas em diversas profundidades, ficaram retidas na alfândega quase um ano. Não saiu nada nos jornais”.

Trata-se de bem economicamente estratégico. “Estudiosos prevêem que nas próximas décadas a água será objeto de disputas. Precisamos discutir as soluções estruturais do problema. O Senado criou uma comissão.”

Resume o senador, em tom proverbial: “Deus perdoa, a Natureza, não. É preciso criar mecanismos de convivência com a seca.”

 

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Marta Salomon, Entre aspas