Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Princípios de um veterano I

MONITOR DA IMPRENSA


MANUAL DE JORNALISMO

"O jornalismo tem o dever de interessar." Nesta frase o estudante de mestrado Amy Sacks [Pointer.org, 5/5/01], da Columbia University de Chicago, sintetizou a palestra de Arthur Sulzberger Jr.. Reunido com 40 estudantes de Jornalismo, o publisher do New York Times e presidente da New York Times Company baseou-se na própria história dos 150 anos do Times para dar conselhos aos futuros profissionais e indicar princípios da profissão.

Com uma cópia do jornal de 1911, com a manchete "Marcianos constróem dois canais imensos em dois anos", Sulzberger começou alertando: "Informação não é poder. Conhecimento é poder." Citou dois dos maiores sucessos do Times, separados por um século ? a matéria de 1871 sobre Tammany Hall, grupo de políticos corruptos de Nova York, e a publicação dos Documentos do Pentágono, em 1971, com a história secreta da Guerra do Vietnã. Um dos maiores fracassos, segundo ele, teria sido o silêncio do jornal diante das atrocidades do Holocausto.

Ressaltou também a importância da liberdade de expressão no jornalismo, uma luta que deve ser contínua, e que o grande desafio do jornalista é ser responsável e consciente de que suas notícias podem mudar o curso dos acontecimentos e a vida das pessoas. A missão de uma redação, acrescentou, é fornecer informação e conhecimento para manter viva a democracia. "Isso é algo que tem que motivar publishers, editores e repórteres todos os dias".

No dia 22 de março, o jornalista Bill Moyers fez discurso ao Clube Nacional da Imprensa americano, a convite da PBS, a rede pública de TV, para falar sobre seus 30 anos como jornalista. Parte foi reproduzida no The Nation [7/5/01]. A primeira grande lição que Moyers disse ter aprendido foi que é extremamente complicado o dever de falar a verdade sobre pessoas cujo trabalho é escondê-la. Para isso, é preciso estar preparado para enfrentar obstáculos, acusações e, acima de tudo, amar tal serviço.

O veterano, que trabalhou na Casa Branca nos anos 60, disse ter aprendido lá também que, no jornalismo, o que importa não é sua proximidade do poder, e sim da realidade. Algumas reportagens arriscadas o levaram a perder contratos de seguro, e a receber diversos nãos de seguradoras.

A televisão já não é mais a mesma, disse Moyers, e ficou ainda mais difícil fazer os assuntos de interesse público ? como o eram suas arriscadas reportagens ? interessarem ao público. Em busca de audiência, seu trabalho mais árduo nos últimos anos foi ter que transformar notícias do governo em informações voltadas ao consumidor ou em fofocas de celebridades. "E isso tem importância?", questionou o jornalista. De acordo com aquilo que aprendeu durante os anos 60 sim, muita, pois "o governo diz quem ganha e quem perde no vasto mercado da democracia".

Além dos que controlam os bastidores da política e da sociedade, também interessa quem define as notícias e decide o que cobrir. Dinheiro e negócios, corporações e comércio são ainda hoje indiscutíveis soberanos na política e no governo, e fazem refletir seus interesses na Casa Branca, no Congresso e no Judiciário. E qual a função do jornalismo neste cenário? Moyers conclui: é necessário para manter os líderes na honestidade e armar os que não têm poder com as informações que necessitam para se proteger contra a tirania dos poderosos.


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