Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Professor contesta programa

CÁSPER LÍBERO & OI NA TV

Manifestação do professor Erasmo de Freitas Nuzzi, diretor da Faculdade Cásper Líbero, sobre o programa Observatório da Imprensa na TV exibido pela Rede Pública de TV em 16/9/03


São Paulo, 17 de setembro de 2003

Prezado Alberto Dines,

O Observatório da Imprensa é um programa referência, um marco na defesa da ética na imprensa e das boas práticas do jornalismo, como a necessidade de apurar bem uma matéria, concedendo condições idênticas para os diversos envolvidos em um fato apresentarem suas versões e isenção nas análises.

Será que esses requisitos foram observados na última edição do Observatório que debateu a crise do ensino nas escolas de jornalismo?

No programa falou-se de mercantilismo e baixa qualidade do ensino e a Faculdade Cásper Líbero, que passou por uma crise envolvendo direção e alguns de seus professores, foi referência para a matéria apresentada e debatida. Não foram apresentados dados concretos que comprovassem tais práticas na Cásper Líbero.

Houve efetiva apuração dos fatos?

Aparentemente a associação da Cásper com mercantilismo baseou-se nas declarações do senhor Mário Vitor Santos, professor demissionário da Faculdade. É verdade que o professor Erasmo Nuzzi, Diretor da instituição, também foi ouvido. Mas enquanto Santos pode fazer diversas intervenções durante o programa, foi apresentada apenas uma transmissão de 1 minuto de entrevista concedida por mim e gravada durante mais de meia hora, onde afirmo que não há e nunca houve mercantilismo na instituição.Minhas justificativas não foram mostradas.

Houve isonomia de tratamento?

O senhor Mário Vitor Santos, parte envolvida na crise da Cásper Líbero, foi convidado a analisar a situação da Faculdade como professor demissionário. É possível confiar em isenção dessa análise?

São pontos para reflexão.

Com relação às acusações de prática de mercantilismo e falta de democracia interna, a Cásper Líbero esclarece que todos os atos praticados pela Diretoria e aprovados pelo seu Conselho Técnico Administrativo respeitaram integralmente o Regimento da Faculdade.

Esclarecer essa parte poderia ajudar a analise de observadores isentos.

A Faculdade Cásper Líbero é a mais antiga escola de jornalismo do Brasil, com 56 anos de atividade. Durante 20 anos formou profissionais sem cobrar nada por isso. Atualmente mantém o curso de jornalismo mais barato no mercado em que atua, São Paulo, além de disponibilizar cerca de 200 bolsas de estudos totais e parciais aos seus alunos. Os professores da Casa têm direito a bolsas para fazerem Curso de Mestrado.

A Faculdade tradicionalmente conta com turmas de 45 alunos por sala, quando o MEC autoriza para diversos cursos até 50 alunos. De fato, em 2002 o MEC autorizou elevar o número de alunos por sala de 45 para 50. Negociações ocorridas no início de 2003 entre a Superintendência Geral da Fundação Cásper Líbero e professores, porém, limitaram a 48 alunos nesse ano e garantiram a volta para o limite de 45 alunos em 2004. Mais ainda: O Curso de RP teve todas suas classes reduzidas de 60 para 50 alunos por decisão espontânea dos órgãos diretivos da Faculdade.

Esse é o perfil de uma instituição mercantilista?

Portanto, a greve dos professores ocorrida em agosto de 2003 não foi uma disputa sobre o número de vagas nas classes da Faculdade, uma vez que a questão já estava resolvida.

A greve ocorreu pela eventual recontratação do professor Marco Antônio Araújo, demitido no final de 2002. Relembrando: o professor Erasmo de Freitas Nuzzi, Diretor da instituição, vetou a eventual recontratação por considerar que não havia mais confiança e condições dos dois profissionais (Nuzzi e Araújo) trabalharem juntos após ofensas proferidas e publicadas por Araújo à pessoa do Diretor.

O impasse chegou à Justiça do Trabalho. Em 14 de agosto, em audiência de Instrução e Conciliação as partes aceitaram recomendação do Juiz João Carlos de Araújo de delegar ao Conselho Técnico Administrativo (CTA), a decisão sobre a recontratação ou não do professor Marco Antônio Araújo.

O CTA, formado por representantes da direção da Faculdade, dos alunos, da Fundação e pelos professores coordenadores dos diversos cursos da Faculdade, no dia 19 de agosto, votou pela não recontratação do professor : 10 integrantes votaram contra a recontratação, três a favor e houve duas abstenções: do representante da Fundação e do próprio professor Erasmo Nuzzi.

Um grupo de 17 professores (dentre os 116 da Faculdade) não aceitou a decisão do CTA, disseram tratar-se de golpe anti regimental e, sem condições de convivência com os demais 99 docentes, optaram por se desligar da Faculdade em pleno ano letivo.

Quem desrespeitou a democracia interna?

Segundo os critérios de avaliação de qualidade do ensino do MEC vigente nos últimos anos, a Cásper Líbero é classificada com a nota máxima. Outro critério, abstrato, mas também valido: tradicionalmente inúmeros profissionais formados pela Cásper ocupam lugar de destaque nas redações. E isso ocorre há cinco décadas. É uma realidade e uma tradição que merecem respeito.

Prof. Erasmo de Freitas Nuzzi, Diretor da Faculdade Cásper Líbero

A direção do curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero levou 10 dias para redigir esta peça, obra-prima da retórica taquigráfica. Pretensamente irônica, rigorosamente cínica, retrato fiel dos seus novos paradigmas acadêmicos.

O mote do programa do dia 2/9 foi a qualidade do ensino de jornalismo em nosso país. A inédita crise na Cásper Líbero foi o fato deflagrador e não o objeto principal da discussão ? tanto que a maioria dos participantes nos diferentes estúdios foi convidada a manifestar-se a respeito do Provão e das novas modalidades de avaliação dos cursos superiores. Não obstante, incluímos na reportagem de abertura a manifestação de um dos responsáveis pela Fundação.

Não merecia mais do que isso.

Este observador, editor-responsável do programa, está comprometido com a melhoria do jornalismo e, portanto, com a melhoria do ensino de jornalismo. A busca da objetividade não pode nos levar a defender iniciativas que contrariam nossas crenças. Diante de determinadas situações morais é imperioso tomar posição.

Foi o que fizemos. (A.D.)