Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Profissão urubu

Imprima esta p?gina    

MONITOR DA IMPRENSA

SHOW DE HORRORES

Macabras, grotescas, burocráticas e bizarras. É assim, na opinião de Peter Carlson [The Washington Post, 11/4/01], que se pode descrever os preparativos para a execução de Timothy J. McVeigh, de 32 anos, autor do atentado que destruiu um prédio público, em Oklahoma City. Cerca de 1.400 repórteres cobrirão o "espetáculo", pelo qual terão direito a garrafas de água, cadeiras acolchoadas, mesas, serviço telefônico e transporte por carros de golfe ? mas somente se pagarem 1.146 dólares.

Nem os extravagantes jornalistas, contudo, poderão presenciar o momento em que a injeção letal será aplicada em McVeigh, no dia 16 de maio, na prisão federal de Indiana. No máximo poderão caminhar ? ou se locomover com os pequenos carrinhos ? até o local da prisão designado oficialmente como área para os manifestantes. Apenas 10 escolhidos da mídia poderão assistir à execução de dentro da câmara. Além deles, estarão presentes 8 parentes de algumas das 168 vítimas da explosão de 1995, e seis testemunhas escolhidas por McVeigh. Ele será o primeiro prisioneiro a ser executado pelo governo federal desde 1962.

Parentes das vítimas pediram ao Departamento de Justiça que um circuito fechado de TV fosse instalado para que pudessem assistir à execução. Segundo Lou Michel e Dan Herbeck ? repórteres que entrevistaram McVeigh por 75 horas para escrever o livro American Terrorist: Timothy McVeigh & the Oklahoma City Bombin ("Terrorista americano: Timothy McVeigh e o bombardeio de Oklahoma City") ?, ele garantiu que caso a Justiça aprovasse um pedido desses, exigiria que sua morte fosse televisionada para todo o país.

Na semana passada, uma empresa da Flórida requereu o direito de transmitir a execução. A Entertainment Network quer cobrar 1,95 dólar de quem quiser assistir. A Justiça ainda vai apreciar o pedido. Enquanto isso, só é certa a transmissão da execução ao vivo e em circuito fechado para familiares das vítimas. O evento não será gravado, de forma a impedir que se assista às cenas posteriormente.

Um editorial do New York Times (13/4/01) afirmou que se trata de uma solução sustentável para um problema de base logística ? o número absoluto de vítimas diretas do crime de McVeigh. A Agência Federal de Prisões, que autoriza famílias de vítimas a testemunharem a execução, aumentou o número de testemunhas permitidas na prisão em Terre Haute para 10. Mas é impraticável acomodar no local todos os parentes das 168 pessoas que morreram na explosão.

Para o Times, o procurador geral John Ashcroft foi absolutamente correto ao barrar a execução para o grande público. "Na maioria das vezes, acreditamos que tais decisões cabem à mídia noticiosa, não ao governo", dizia o editorial. "Nesse caso, porém, o ato de permitir câmeras de TV para transmissão pública faria da sentença legalmente decretada um espetáculo cruel e pouco usual."

A opinião do Times despreza a de McVeigh. "Ele disse que gostaria de ter sua execução televisionada, mas são os padrões de uma sociedade civilizada que deveriam governar, não sua opinião."

O Times defende o acesso garantido da mídia a eventos noticiáveis ? princípio a muitos justificável da necessidade de transmissão da execução; mas acredita que "no caso de McVeigh, o interesse público estará bem servido pela presença de 10 testemunhas de mídia que estarão, sem câmeras, na prisão de Terre Haute junto aos membros das famílias.

Volta ao índice

Monitor da Imprensa ? próximo texto

Monitor da Imprensa ? texto anterior

Mande-nos seu comentário