IMPRENSA CRÉDULA
Rodrigo Correia (*)
A guerra contra o Iraque já foi lançada e, neste momento, sem nos esquecermos dos motivos que alimentam a investida anglo-americana, é importante discutirmos o papel dos meios de comunicação.
Com tecnologia de ponta, as grandes redes de televisão prometem uma cobertura nunca antes vista. A americana CNN conta com equipe de cerca de 200 profissionais na região do conflito. A inglesa BBC segue no mesmo rumo. Agências internacionais, como Reuters, Associated Press e France Presse, também preparam suas armas para a cobertura do evento que está dividindo o mundo.
Enquanto isso, o jornalismo brasileiro tem uma presença tímida no front. Pouco mais de uma dúzia de jornalistas terá a incumbência, diretamente do local dos fatos, de transmitir aos telespectadores, ouvintes e leitores brasileiros o que ocorre no Oriente Médio. Das TVs, somente a poderosa Globo conseguiu enviar correspondentes. Repórteres dos diários Folha, Estadão, O Globo e Zero Hora também lutam para chegar mais perto dos fatos.
No mais, a grande maioria da imprensa brasileira será subsidiada por materiais de agências internacionais. A falta de uma estrutura própria na cobertura da guerra de Bush pode nos deixar reféns da parcialidade da versão oficial, que, normalmente, utiliza o maniqueísmo como princípio de análise da conjuntura mundial.
Todo cuidado é pouco
Ainda está na memória dos mais atentos a lembrança de que na Guerra do Golfo, em 1991, foram vendidas ao mundo as maravilhas dos armamentos inteligentes, que poupava alvos civis. O alto comando dos Estados Unidos alardeava aos quatro ventos aquilo que os americanos, abalados desde o Vietnã, precisavam assistir: uma guerra sem derramamento de sangue, envolvendo uma potência forte e vendedora contra o poder de um ditador sanguinário e desvairado. Após todo o show, ficamos sabendo que as bombas não eram tão inteligentes como anunciado, já que pelo menos 140 mil pessoas ? em sua maioria, civis ? foram mortas. Mas a popularidade de George Bush, o pai, atingia 90%.
Imagens editadas, cortes cirúrgicos, gráficos animados. Os técnicos americanos desafiaram nossa inteligência, insistindo numa guerra sem morte de civis, quando um dos principais pontos do bombardeio, a capital Bagdá, tinha quase 5 milhões de habitantes. Capitaneada pela CNN, a cobertura da Guerra do Golfo mostrou como o jornalismo pode servir a interesses vis.
Desta forma, é preciso ficar atento com a cobertura que pretendem nos oferecer. Isso pode ser levado em consideração mesmo com relação a alguns veículos nacionais. Todo o cuidado é pouco quando interesses tão sórdidos precisam ser maquiados, numa operação militar a que o mundo se opõe.
(*) Jornalista, 23 anos, assessor de imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, SP