Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Protesto sem estilo

DEVER DE CASA

Fabiana Amaral (*)

Não me compete julgar se a mídia é boa ou má, mas vamos observar um episódio deste período eleitoral: O fenômeno Roseana ? como Veja deu na capa de 14 de novembro de 2001. A governadora despontou com uma possibilidade e, de repente, roubou a cena. Todos os veículos mostravam seu rosto na capa. Mesmo que não falassem bem dela, sabiam que sua imagem atraía.

Em meio à confusão na cúpula do PSDB, Roseana ia despontando ? com ajuda de quilos de maquiagem e esgotante exposição televisiva. Conteúdo? Não precisava. Bastava botar o ritmo do comercial de cerveja, ela sorrindo, mostrando o lado "bonito" da campanha, e pronto. Já deu certo uma vez, daria de novo.

A revista Veja a chamava de "dama da sucessão". Mas surgiu um fato novo: o governo lançou oficialmente a candidatura de Serra, o ministro da Saúde. Estava começando a se definir o cenário, pelo menos aparentemente. E nele Roseana já não desfilava tão bem. O jeito era derrubá-la da passarela, e isso, a grande imprensa sabia bem como fazer.

A outrora "dama" e "fenômeno" passou a ser rotulada de "fantasma". Garotinho é estereotipado como moleque. Lula, o instável e interesseiro, traidor dos ideais petistas. E Serra era vítima de um mosquito que queria atrapalhar sua campanha.

PCO e PSTU sem classe

A metralhadora fez ainda mais barulho na edição de Veja de 13 de março de 2002, com uma sensacional ? o "ista" fica por conta do leitor ? capa em vermelho e o título "A candidata que encolheu". O marido, que na reportagem de novembro era um empresário de sucesso, virou fraudador e cúmplice de um esquema de corrupção do qual a mulher faz parte.

Estava montado o circo. Só que neste picadeiro a mocinha não se dá bem. É louvável que a imprensa desmascare indivíduos mentirosos, mas a mídia muitas vezes age como cafetã, usando a prostituta enquanto é jovem e atraente e a abandonando depois de velha e "passadinha". A analogia pode até ser exagerada, mas é aplicável à situação. A mídia deu toda a atenção a Roseana. Enalteceu sua candidatura, afagou seu ego e depois lhe deu um belo chute.

Acabou-se o voto de protesto. Com Enéas e Roseana fora da corrida presidencial, tudo fica mais casmurro, sem piadinhas para descontrair. A mídia me tirou o direito de protestar em alto nível, ou baixo que seja, mas com estilo. Não dá para fazer isso votando nos PCOs e PSTUs da vida. Não têm classe!

(*) Aluna do 2? ano de Jornalismo do Unasp