Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Prova de fogo

Victor Gentilli

 

O

s jovens de hoje talvez não saibam, mas o jornalista Bóris Casoy, hoje no comando do Jornal da Record viveu sua prova de fogo em 1989, quando iniciava sua experiência como âncora de telejornal no SBT. O SBT não tinha tradição de jornalismo – como, aliás, acaba de demonstrar que continua não tendo – e todos temiam pela independência do jornalismo na emissora.

O contrato de independência de Bóris já fora notícia e seu jornal gerava muita expectativa. Mas quando Silvio Santos, seu patrão no SBT, decidiu candidatar-se a presidente da República, Bóris teve que testá-lo no limite. Passou com todos os méritos. O âncora cobriu a fracassada aventura de seu patrão, contou todas as suas dificuldades aos telespectadores. A candidatura não foi aceita pelo TSE porque Silvio Santos não afastou-se da direção de suas empresas no prazo legal.

Dificuldade da mesma ordem o âncora enfrentou NO dia 10 de novembro último, quando teve que noticiar que o laudo no inquérito que apurava a queda de um telhado de parte do templo da Igreja Universal do Reino de Deus – cujo pastor-chefe, o bispo Edir Macedo, é o dono da Rede Record – aponta responsabilidades.

Bóris noticiou com discrição, de forma correta, mas omitindo detalhes importantes e sem comentários. Encerrou afirmando que a Igreja vai recorrer.

O Jornal Nacional, como de praxe, deu detalhes e montou até uma simulação pelo computador de como a madeira foi apodrecendo com a infiltração de água durante anos, como foi a queda e diversos outros detalhes do laudo. A largura das portas e o lado de abertura de várias delas estava irregular. Algumas estavam fechadas. O laudo aponta vários responsáveis pela tragédia que matou 26 pessoas. O Jornal Nacional não ouviu nenhum deles; Bóris só deu voz à Igreja.

A dúvida que permanece é a seguinte: se o telhado que caiu não pertencesse ao seu atual patrão, Bóris noticiaria com a discrição com que o fez? Ou talvez encerrasse a notícia com seu famoso bordão “Isso é uma vergonha!”?