Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

PUC-SP oferece curso de especialização em Jornalismo

Victor Gentilli

 

A

partir de março deste ano, tem início na PUC-SP um curso de especialização em jornalismo dividido em oito cursos sobre áreas editoriais: Jornalismo Internacional – Jornalismo Cultural – Jornalismo Político – Jornalismo Econômico – Jornalismo, Educação e Ciência – Jornalismo Social – Jornalismo Institucional – Jornalismo Multimídia.

Os quatro primeiros cursos estão sendo oferecidos a partir de março de 1999; os demais, ainda em fase de implantação, têm lançamento previsto a partir do segundo semestre. Os cursos são dirigidos a: profissionais e graduados da área de Comunicação que desejam ampliar sua formação e aprofundar conhecimentos sobre temas específicos do Jornalismo; graduados de outras áreas que têm interesse em conhecer e pesquisar o mundo da mídia.

A professora Margarethe Born, chefe do Departamento de Comunicação Jornalística da PUC, fala sobre o curso em entrevista ao OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA.

– A PUC está oferecendo oito cursos de especialização em jornalismo. Por que a escolha do jornalismo como campo de formação em pós-graduação?

– Em primeiro lugar, porque a sociedade brasileira merece informação de melhor qualidade. Para além dos pactos neocoloniais, precisamos de um jornalismo mais crítico, independente e inovador. O bom jornalismo não se faz de acomodação, peleguismo e má-consciência. Dizer que o público tem a mídia que merece? Só serve para atirar-nos ao círculo vicioso: a mídia também tem o público que faz por merecer. Infelizmente, ainda nos falta o amadurecimento crítico – e político – para reclamar nosso direito à informação honesta, bem apurada, contextualizada, prestadora de serviço. Quanto lixo somos obrigados a engolir até chegar ao que interessa! Em segundo lugar, porque a mídia nunca teve tanto poder no Brasil quanto agora. Também porque nunca os limites éticos estiveram sob tamanha pressão. E a informação jornalística que circula à noite através de todas aquelas janelinhas azuladas das nossas grandes cidades é que vai fazer a cabeça e orientar o comportamento do cidadão no dia seguinte. A voz da mídia é a voz de Deus porque ela fala ao povo e em nome do povo.

O desenvolvimento tecnológico permitiu que a mídia crescesse além de qualquer poder executivo, legislativo ou judiciário. Mídia é opinião pública, é juiz, é eleitor, é prelado, é arauto popular. E em países subdesenvolvidos como o Brasil, o poder da mídia é ainda maior. Não é o caso, então, de perguntar: que poder é esse? Em terceiro lugar, caro Victor, não é que escolhemos o jornalismo à frente de outras áreas. A PUC-SP já tem um sólido programa de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) implantado em quase todas as áreas acadêmicas, desde Psicologia, Ciências Sociais, História, Lingüística, Língua Portuguesa, Filosofia, Fonoaudiologia, Economia, Administração, Direito, etc.etc. até Comunicação e Semiótica. Os programas de pós em Educação e Serviço Social, por exemplo, foram avaliados pela Capes/CNPq como os melhores do País. Não é à toa que mantemos o status de universidade comunitária, carregamos uma grande história de prestação de serviços à sociedade. A PUC-SP não trabalha com fins lucrativos e nosso reitor não vai de helicóptero para casa.

Desenvolvemos pesquisa básica, mas não perdemos de vista os fins sociais. Formar bons jornalistas para hoje é formar bons cidadãos para amanhã.

– A qual público os cursos se destinam? Jornalistas e profissionais de comunicação? Outros profissionais?

– Ao jornalista faz-tudo, sujeito a virar massa de manobra na mão de patrão. Em países emergentes como o Brasil, o poder da mídia, salvo raras exceções, não é socialmente partilhado. O jornalista geralmente é um faz-tudo, sofre com a alta rotatividade de emprego e não desenvolve competência editorial em área específica. Isso o torna mais facilmente substituível e, portanto, diminui seu valor no mercado de trabalho. A especialização profissional funciona como hedge, perdoe-me o jargão financeiro, mas é isso: preserva o valor sob condições instáveis. O jornalista especializado preserva melhor seu poder de fogo, isto é, esse poder de formar opiniões é mais facilmente aproveitado. Sem emprego, ele é requisitado como consultor, conferencista ou assessor junto a empresas, universidades, fundações.

Também recebemos graduados de outras áreas que não Jornalismo. O objetivo é formar colaboradores para a mídia, gente que desenvolveu competência específica em sua área de graduação e agora quer aprender artes e ofícios da imprensa. Há um curioso território cinzento entre os jornalistas que fazem especialização, por exemplo, em Jornalismo Internacional, e os historiadores que também procuram esse curso. Os dois grupos chegam com competências e temporalidades distintas, e dá-se uma troca muito interessante. Os primeiros sabem do aqui e do agora, mas faltam-lhes referências sobre o tempo maior que deu pano de fundo aos fatos. Os outros, ao contrário, conhecem a História em suas largas pinceladas e vêm buscar, ao modo da história das mentalidades, o jeito real e suculento de resgatar, em close e alta definição, filigranas de agoras passados.

– O curso incorpora conhecimentos específicos do jornalismo e de áreas específicas do trabalho jornalístico. Como funciona essa “química”?

– Na formação do jornalista especializado, há que aliar as competências técnica, editorial e acadêmica. Saber apurar, checar e redigir, sem perder o molho e o direito à opinião bem fundamentada. Em geral, a mídia exige pouco dos profissionais em termos de idéias. A pressão advém muito mais do suor e das lágrimas nos plantões de sábado, domingo e feriado, ou do terror implacável dos horários de fechamento.

Ao jornalista, cobram-lhe mais velocidade do que raciocínio. É uma divisão de trabalho infernal: uns poucos são pagos para pensar e a maioria é paga para escrever… Nos nossos cursos trabalhamos para superar essa esquizofrenia.

– O curso é oferecido pelo Departamento de Comunicação Jornalística da PUC-SP, mas conta com professores de outros departamentos e de fora da PUC. Entre a prática e a teoria, há uma divisão de responsabilidades e o respeito pela competência específica de cada profissional em sua área. Como funciona isso?

Pois é, e não são apenas professores de diferentes áreas e instituições.

São jornalistas trabalhando lado a lado com acadêmicos – todos eles, seres híbridos, eu diria… Você me pergunta como isso funciona? Há três anos, quando criei os primeiros cursos de extensão em Jornalismo (dos quais, aliás, nasceu esse programa de pós-graduação lato sensu), eu não tinha certeza de como iria funcionar. O jornalista é um ser do mundo empírico, pensa sempre concretamente, trabalha com fatos. O acadêmico generaliza, é um ser platônico, do mundo das abstrações. Em todo caso, eram cursos de 30 horas apenas, corri o risco da incompatibilidade de gênios… e deu certo. O Programa de Pós-graduação lato sensu em Jornalismo da PUC-SP foi todo concebido com essa visão transdisciplinar.

Na verdade, prevaleceram o valor e a competência dos profissionais envolvidos e, se você me permite uma veleidade culinária: quando todos os ingredientes são bons, a receita tem que dar certo.

– O formato dos cursos permite a cada aluno montar seu currículo a partir de seus interesses. Como funciona?

– O principal fator de flexibilidade do Programa é a articulação em oito áreas, ou seja, cobre todas as “editorias” do curso e incentiva, pela própria estrutura curricular, que o aluno transite entre elas. Um amplo cadastro de conferencistas também confere variedade e riqueza de pontos de vista no tratamento dos assuntos. E o horário permite jogos modulares diversos, de acordo com a disponibilidade do aluno, que é sempre muito reduzida quando ele vive na máquina de moer carne das redações… Também a duração do curso é definida pelo aluno, de acordo com o número de horas livres que tem por semana. No total, são 360 horas, que podem ser cursadas em 1 ano, 1 ano e meio ou 2 anos. Evitamos submeter nossos alunos a maratonas e cargas excessivas de trabalho semanal. Sabemos que, junto com o certificado mais rápido, pode vir a reflexão prematura, apressada. Mais importante é que nosso aluno aprenda a aprender.