Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Quando a mídia cala

MONITOR DA IMPRENSA

PAI PRESIDENTE

No dia 20 de março o tablóide americano National Enquirer divulgou a notícia de que a filha do presidente George W. Bush seria usuária de maconha. Num país em que cerca de 600 mil pessoas são presas todos os anos por porte da drogas e cujo chefe maior põe a guerra ao tráfico como uma de suas prioridades, por que teria o resto da mídia se calado diante da revelação? É isso que questiona James Pinkerton (Salom.com, 23/3/01).

A reportagem do Enquirer se baseava em informações de dois estudantes que afirmaram ter fumado com Jenna Bush, 19 anos. "Não diria que ela é uma grande maconheira, mas gosta de dar uns tragos quando está rolando", disse um deles. A credibilidade de fontes anônimas depende da reputação do veículo, que no caso do Enquirer cresceu muito nos últimos tempos, segundo Pinkerton. A Casa Branca se recusou a comentar o assunto.

Em 1998, o Congresso americano aprovou emenda que corta ajuda financeira a estudantes envolvidos com drogas. Entre tais cortes e prisões, seria uma grande matéria. Então, por que o silêncio da mídia? Pinkerton acredita que seriam possíveis razões a falta de evidências, a falta de interesse da grande mídia em divulgar crimes relacionados ao uso de maconha, já que muitos jornalistas são simpáticos à droga, ou o medo de que a investigação gere problemas com o governo.

Jenna, obviamente, não foi condenada, diz Pinkerton, mas seu pai continua a liderar um sistema hipócrita que discrimina os mais fracos e favorece os mais fortes. E esta, sim, devia ser uma grande matéria.

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O mercado da propaganda impressa continua nebuloso nos Estados Unidos. Na esteira da crise, jornais e revistas cortam gastos, e todos, vendedores e compradores de anúncios, temem que a recessão se aproxime da do início dos anos 90, a pior desde a Segunda Guerra Mundial.

Os primeiros meses de 2000 foram o auge da boa safra da propaganda impressa. Entretanto, a situação agora é outra, afirmam Felicity Barringer e Alex Kuczynski (New York Times, 26/3/01. Não há mais a necessidade de mão-de-obra extra, e o número de classificados caiu. O que ficou foi a dependência gerada durante esses bons tempos, em que a mídia impressa se acostumou com a renda vinda dos anúncios.

Os jornais são os primeiros a serem cortados; seu público é mais velho, os custos da propaganda impressa por leitor ou espectador tendem a ser os mais caros da mídia e mais fáceis de se estragar. Com as vendas em queda, disse ao Times o diretor da agência MinShare, Ernie Simon, obter retorno é o principal objetivo das companhias, que têm de prestar contas à Wall Street.

Enquanto os otimistas acreditam que esta seja apenas uma fase de um ciclo, em que as forças que aceleram o declínio agiriam da mesma forma na recuperação do mercado, as evidências enfatizam a fraqueza do momento. Na semana passada, por exemplo, a editora do Chicago Tribune e do Los Angeles Times afirmou que a renda dos classificados em fevereiro foi 12% menor que no mesmo período de 2000; no New York Times, houve queda de 6,9%; 35,5% foi a perda do Wall Street Journal. O lucro gerado por anúncios nas revistas americanas caiu 9,7% em relação ao ano passado.

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