Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Quando o furo é fria

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MONITOR DA IMPRENSA

BARRIGA

Em 1994 o jornalista Tim Bullard encontrou um prostíbulo em Marlboro County, um município rural da Carolina do Sul, EUA. Repórter do diário local Florence Morning News, suas investigações o levaram à descoberta de que o Trucker?s Motel operava há 30 anos. Bullard sabia da fama de corrupção do estado, mas não imaginou que estivesse se metendo em tamanha encrenca ao expor a suposta casa de prostituição. Segundo Cynthia Cotts [Voice, 18/4/01], o editor do jornal destruiu sua reportagem, ele foi despedido e ameaçado de morte.

De acordo com Eugene Zeigler, advogado do Florence Morning News, embora a história fosse verdadeira, havia uma grande possibilidade de o jornal ser processado em função do provável envolvimento de pessoas como o xerife da comunidade. Era um risco que não podiam correr, disse Zeigler, que já defendia o cliente em batalha judicial de US$ 1,5 milhão.

Em novembro de 1994 a matéria já estava pronta para uma capa de domingo, quando Bullard viu um grupo de candidatos a governador num programa da TV local, ligou para o show e perguntou a eles o que fariam sobre o caso. Depois disso, o editor cancelou a matéria e Bullard encontrou um recado anônimo em sua secretária eletrônica com ameaças de morte.

No início de 1995 publicou a história no independente Point, e alguns dias depois foi despedido. Enviou a matéria ao governador, e a polícia fez duas batidas no local, levando presas nove pessoas. Todos os jornais locais divulgaram as prisões. O atual xerife de Marlboro County disse a Cynthia que depois da reclamação de Bullard o estado conduziu uma nova batida ao local, há dois anos, mas ninguém foi preso.

Um relato dramático no Philadelphia Inquirer, no sábado, descreveu com detalhes a tentativa de assalto a um casal num parque local e o assassinato de uma das vítimas. Na reportagem, o freelancer Thom Nickels acrescentou que a imprensa e a televisão não haviam divulgado nada a respeito do caso.

Houve, porém, uma razão para isso, disse Howard Kurtz [Washington Post, 20/4/01]. O assassinato nunca aconteceu, e publicar a matéria foi "uma profunda falha" do Inquirer, escreveu o editor Chris Satullo em editorial do dia 19. Nickels se disse vítima de uma brincadeira de um amigo roteirista de Hollywood.

O repórter nem chegou a tentar confirmar a história com a polícia, e nenhum editor do jornal sugeriu que ele o fizesse. Nickels não tinha sequer o sobrenome da vítima. Depois que perguntas começaram a surgir, ele pressionou sua "fonte" para obter detalhes, e gravou a conversa. Foi quando ficou sabendo que tudo não passava de uma piada, e que o crime era na verdade parte de um roteiro de filme.

Publicar uma história fabricada é provavelmente o maior pecado no jornalismo, disse Kurtz. Jornalista veterano e autor de três livros, Nickels, 53 anos, considera-se um dos primeiros colunistas homossexuais declarados da cidade. O editor Satullo disse que ele não escreverá mais para o jornal.

REALITY SHOWS

Depois de participar do fenômeno de audiência que foi o reality show Survivor, da CBS, Stacey Stillman processou o programa, seu produtor-executivo e a emissora. Se for provado que houve fraude ou violação de contrato, os acusados podem ser condenados por crime federal, disse John Cook [Brill?s Content, 16/4/01].

Em Survivor ? inspirador de No Limite, da Rede Globo ?, a cada episódio os candidatos votavam na eliminação de um participante. Segundo Stacey Stillman, a terceira a ser expulsa do jogo, o produtor Mark Burnett pediu a dois candidatos que a escolhessem. Segundo ela, o provável candidato a ser eliminado naquele dia já havia trabalhado com Burnett, e era uma personagem que trazia audiência. Consta no processo que Dirk Been, um dos participantes a quem Burnett teria feito o pedido, confirma a história.

Se isso tudo for verdade, os acusados podem ser condenados por crime federal, pois normas da Federal Communications Comission proíbem a transmissão de qualquer "esquema em que um prêmios sejam concedidos em termos "ilusórios ou falsos". O regulamento da FCC se aplica a "competições", e os advogados da CBS e de Burnett descrevem Survivor como um "programa", com apenas "participantes".

Em resposta à acusação, a companhia produtora do show, SEG Inc. entrou com processo de US$ 5 milhões contra Stacey Stillman por extorsão, violação de contratos e calúnia.

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