Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Quem é medíocre? (*)

Edição: Marinilda Carvalho

Gilberto Dimenstein

Os jornalistas e publicitários têm, em geral, péssimas imagem dos jovens brasileiros de classe média e alta, a futura elite dirigente do país.
Diante de nossos olhos, eles seriam, na média, fúteis, incapazes de ler um livro com prazer; uma massa de seres egoístas, desinteressados de causas sociais.
É possível detectar essa imagem a partir de pesquisa realizada com o apoio do Unicef. Em março e abril deste ano, foi analisada página por página, inclusive a publicidade, das revistas e suplementos dos jornais brasileiros dedicados aos jovens.
Essa é mesmo a elite que vai dirigir o país?

Do total dos anúncios, 46% são de moda e beleza. Não se encontrou publicidade de livros. E, para piorar, nem artigos ou reportagens sobre literatura.
Gravidade: segundo todos os estudos promovidos por educadores americanos e especialistas em recursos humanos, o trabalhador do futuro tem de ter uma sólida formação básica e não-especializada. Ou seja, deve ter uma visão ampla para enfrentar a vertiginosa mudança tecnológica.
Formação ampla quem dá – e até agora ninguém inventou nada melhor – é o livro, que possibilita o aprofundamento da reflexão.

De acordo com a pesquisa, 70% do que escrevemos na imprensa jovem são dedicados a entretenimento, comportamento, moda e beleza.
É estatisticamente insignificante a abordagem de temas como violência ou solidariedade: míseros 2%. Educação e trabalho, temas vitais, recebem apenas 15% do espaço, metade dos itens moda e beleza.

Primeira pergunta: eles são mesmo medíocres ou produto da imaginação mercadológica de publicitários e jornalistas?
Segunda: somos nós que nos acomodamos com o que imaginamos ser mediocridade? Ou apenas somos realistas?

A íntegra da pesquisa pode ser encontrada no seguinte endereço: http://www2.uol.com.br/andi/

PS – Ao fazer o artigo, fiz mais uma pergunta: ser&aacaacute; que eu envelheci, vendo mediocridade no que é modernidade?
A sensação que tenho é que não estamos sabendo educar – e pouco nos preocupa – a futura geração do poder, com valores básicos da cidadania.”

(*) Copyright Folha de S.Paulo, 4/6/98

José Henrique Mariante

“Ronaldinho sofreu uma crise nervosa no último domingo, e não um distúrbio neurológico. Seja pela pressão da mídia, dos patrocinadores e da CBF, seja por problemas pessoais, o atacante teve um colapso no banheiro do quarto 290 do Château de Grande Romaine, em Lésigny, entre as 14h30 e as 15h do último domingo. O problema não foi novidade para algumas pessoas da seleção. Havia alguns dias, andava absolutamente calado na concentração.

Segundo o lateral Roberto Carlos, seu companheiro de quarto, o atacante tinha dificuldades para pegar no sono e, quase sempre, acordava reclamando de cansaço. No sábado, Ronaldinho estava visivelmente irritado. Andando de bicicleta pela área do hotel, foi flagrado batendo a roda dianteira contra pedras do jardim, em clara demonstração de descontrole.
No domingo, após o almoço, quando os jogadores dormiam, gritos foram ouvidos no jardim.
Era Roberto Carlos, que berrava da janela do quarto, pedindo por socorro. Ronaldinho tinha tido o colapso no banheiro. Depois de alguns jogadores, entre eles Edmundo, Dunga, Leonardo e César Sampaio, o médico da seleção, Lídio Toledo, chegou ao local.
Tremendo e suando muito, Ronaldinho foi colocado na cama, onde aconteceu o atendimento médico. Temendo que fosse um ataque epilético, o volante César Sampaio segurou a língua do jogador para evitar que enrolasse.
Depois, aconteceu uma discussão entre os jogadores da seleção.
Passaram-se alguns minutos, e Lídio Toledo saiu do quarto. Estava chorando, o que provocou comoção nos funcionários do hotel.
Há versões conflitantes sobre o que ocorreu em seguida. Ronaldinho teria adormecido, mas há quem diga o contrário. Uma hora mais tarde, porém, foi visto no bar do hotel, tomando suco de laranja. Demonstrava abatimento, calado, olhando para baixo, conforme relatos colhidos pela Folha.
Por volta das 16h30, Ronaldinho sumiu. Sem mesmo o gerente do hotel ter percebido, havia sido levado em um carro do comitê organizador da Copa à Clínica Des Lillas, na periferia Paris, em companhia do médico Joaquim da Matta e de um fisioterapeuta da seleção.
Toledo tomou a decisão de levá-lo à clínica para poder ter certeza de que o jogador não precisava mesmo de algum tipo de tratamento ou medicamento.
Conforme o resultado dos exames, Ronaldinho seria escalado ou não para o jogo. A preocupação com doping já vinha desde a semifinal contra a Holanda, quando surgiu um boato de que o atacante havia sido pego no exame da Fifa.
Joaquim da Matta tinha ficado nervoso com o episódio, indício de que o jogador poderia ter feito infiltrações no joelho, informação não confirmada pela Folha.
O próprio jogador admitiu, no entanto, que havia tomado remédios para a dor no tornozelo até a última sexta-feira. E que havia interrompido o tratamento por instrução da comissão técnica, que receava pelo exame antidoping.
Ronaldinho passou por exames, como tomografia computadorizada e eletroencefalograma, mas nada foi constatado. O jogador jamais foi informado de suspeita de problemas neurológicos.
As convulsões têm sempre origem neurológica, ou seja, são desencadeadas a partir de algum problema já existente no sistema nervoso central, explica o neurologista Getúlio Rabelo, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Mas o jogador pode ter sofrido apenas uma síncope (desmaio) convulsígena, que pode ser causada por uma forte crise nervosa e apresenta sintomas semelhantes ao de uma convulsão (perda de consciência, sudorese, agitação).
Respaldado pelos exames, Joaquim da Matta levou o jogador para o Stade de France, ao qual chegou cerca de 50 minutos antes do jogo. A comissão técnica se reuniu. O técnico Zagallo perguntou: “E aí, dá para jogar?”. Ronaldinho respondeu: “Sim, estou inteiro.” Zagallo escalou Ronaldinho, e o Brasil perdeu de 3 a 0.”

Copyright Folha de S.Paulo, 16/7/98

“O clitóris, órgão da sexualidade feminina, pode ser duas vezes maior do que o descrito pelos principais livros de anatomia, segundo cientistas australianos.
O órgão também apresentaria maior complexidade estrutural, com mais nervos e vasos sangüíneos do que se supunha, segundo um estudo publicado em junho no “The Journal of Urology”.
A maior parte do clitóris se encontra no interior do corpo. A urologista Helen O’Connell, da Universidade de Melbourne, que coordenou a pesquisa, diz que a anatomia moderna subestimou o tamanho dessa porção interna.
Os segmentos externo e interno do clitóris somados têm, em média, 3 cm de comprimento, sendo a maior parte composta por tecido erétil, segundo o estudo.
O’Connell descreve ainda dois prolongamentos internos, com aproximadamente 9 cm, inseridos no corpo principal do órgão. A essa estrutura se somam dois bulbos de tecido erétil situados em ambos os lados da cavidade vaginal.
Ao contrário do que se sabia, os prolongamentos do clitóris envolvem a uretra (canal entre a vagina e a bexiga) e são responsáveis por seu estrangulamento durante o ato sexual, afirma O’Connell.
O órgão todo contém um grande número de terminações nervosas. A danificação de qualquer uma das partes pode comprometer sua sensibilidade.
O conhecimento dessas novas estruturas poderia reduzir os riscos de disfunção sexual feminina após cirurgias realizadas na região pélvica e proximidades da uretra, segundo os cientistas.
A pesquisa, que contou com a colaboração de John Hutson, especialista em cirurgia de reconstituição genital, analisou, por meio de autópsias, a estrutura do clitóris de dez indivíduos, com idade variando de 22 a 88 anos.
Para visualizar as novas estruturas, foi usada a técnica da microdissecção, que permite a identificação e separação de nervos e de pequenos vasos, segundo a revista, que é editada pela Associação Americana de Urologia, dos EUA.
A microdissecção foi usada nos anos 70 para fornecer mais informações sobre a estrutura e o funcionamento do pênis. O’Connell afirma que seu estudo foi o primeiro a empregar a técnica para o estudo do clitóris.
Denise Pedreira, obstetra da Universidade de São Paulo, diz que os resultados, apesar de interessantes, devem ser encarados como sendo preliminares.
Pedreira afirma que um estudo anatômico confiável precisa basear seus achados em centenas, ou mesmo milhares de casos.
Mas o ginecologista Carlos Czeresnia diz que, caso os cientistas tenham sido criteriosos ao descrever as estruturas, o número de indivíduos analisados foi suficiente.
Czeresnia afirma que os novos dados reforçam ainda mais a importância do estímulo do clitóris na sexualidade feminina.

Copyright Folha de S. Paulo, 30/7/98

 

Flávio Tiné

Há dias vivo pensando no que existe por trás do interesse do povo norte-americano em investigar até as últimas conseqüências se Monica Lewinsky teve ou não relações sexuais com o presidente Bill Clinton. Um grande júri popular foi montado para ouvir um depoimento da maior autoridade dos Estados Unidos a respeito. O País e o Mundo estão de olhos e ouvidos atentos à questão, cuja importância é no mínimo discutível, principalmente se levarmos em conta a enormidade de outras questões que mereceriam prioridade, da fome no Sudão ao suposto maníaco do Parque do Estado. O suposto, no caso, fica por conta da lição de outro Parque, uma escola em que honestos diretores foram difamados à exaustão por policiais que queriam mostrar serviço e uma mídia sequiosa de furos.

E o que dizer da volúpia global em explorar nos mínimos detalhes o nascimento da filha de Xuxa, cuja beleza física não é nem um pouco compatível com a beleza moral de que falavam nossas “tias” no ginásio e nossos avós nos serões domésticos. Primeiro, arruma um pai ad hoc e em seguida monta um circo faraônico em torno de uma criaturinha inocente, dá-lhe um nome que em russo seria masculino e joga na cara de milhões de telespectadores um cenário que nem é de novela, pois é real, mas não é totalmente verdadeira, pois todos sabem o quiproquó doméstico em que se transformou o sonho de ser mãe por capricho, assim como quem resolve comprar um cachorrinho ou um automóvel.

A propagação leviana desse nascimento em berço de ouro, além de um acinte ao desemprego e à miséria, leva-nos a pensar que interesses movem tamanho despropósito. Quem sabe nos States, que nos acostumamos a copiar desde criança, Xuxa não estaria hoje sujeita ao Grande Júri, com direito a Promotor Independente e acordos secretos? Ela poderia, quem sabe, implicar não o feliz pai, mas sua empresária, ou a própria emissora chupa-cabra, que explora até o último fio loiro de seu ventre. O que será que existe por trás dessa enorme promoção? O que devem estar pensando os tais baixinhos de que ela tanto se orgulha de divertir com tantas brincadeiras inocentes? Já pensou se as baixinhas amanhã quiserem imitar a apresentadora?

Já se disse que o fazendeiro esconde o leite, o produtor quebra a safra, a empresa de transporte coletivo diminui o número de ônibus em circulação – tudo se faz para aumentar os preços. Há borracheiros que colocam objetos pontiagudos nas proximidades de seu negócio para atrair clientes. Tem até quem mele a maçã de açúcar e a chame de maçã do amor, um convite ao prazer do doce e do sexo, que atrai os inocentes em todos os parques.

Ainda não descobri o que há por trás da distribuição de placebos pelos hospitais. Quem sabe os laboratórios queiram aumentar a população compradora, enganando as mulheres que queriam evitar a gravidez. O mesmo raciocínio não vale no caso dos que sofrem de câncer de próstata, pois esses são os que mais consomem medicamentos, mesmo quando quase no bico do corvo.

Por trás das privatizações não há dúvida alguma. A modernidade impõe. Por trás do caso Clinton-Mônica-Paula Jones quero voltar a Nova Iorque, Washington e Boston para entender melhor. Quanto a Xuxa, só Deus sabe o que há por trás de tudo isso. Se fosse outra loira, a Carla Perez, era mais fácil descobrir.

Flávio Tiné é jornalista

Ilka de Andrade Zanotto

Creio que o fórum adequado para dirimir controvérsias entre profissionais da imprensa seja o deste OBSERVATÓRIO, que em boa hora dá continuidade ao trabalho ímpar de Alberto Dines à testa do saudoso “Jornal dos Jornais”, ombudsman avant la lettre do jornalismo nacional.

Causa involuntária da atual discussão sobre o caso “Osasco Plaza”, peço espaço semelhante para responder às imputações de “atitude estranha” e do envio de “documentos dúbios com objetivos pouco claros”, para não ser rotulada como o “mordomo” da questão.

De pronto afirmo que não houve o envio de dois dossiês diferentes para órgãos de imprensa diferentes. Existe um único dossiê de 122 páginas de 1996; um artigo intitulado “Tragédia e Mídia” de 2 páginas e meia, de março de 97; e o mesmo artigo com ligeiras modificações acrescido de um anexo de página e meia, de junho de 98, e que chamaremos de “Tragédia e Mídia II” para maior clareza.

Foi este último artigo que enviei recentemente a vários jornalistas, que constavam de uma relação de destinatários de dossiês enviados entre 96 e 98, entre os quais Luis Nassif (no. 253 da lista anexa ao dossiê, cujo exemplar foi entregue na redação da “Folha” e, soubemos agora, extraviado). A alguns, juntamente ao artigo “Tragédia e Mídia”, reenviei o dossiê de 96 ou porque não haviam ainda recebido (caso das editorias de “Imprensa”, “República” e “Super Interessante”e outros) ou reenviei para reavivar as informações nele contidas, caso de Paula Pereira, que havia recebido seu exemplar meses atrás através da IR Comunicações. Impossível confundir dossiê e “Tragédia e Mídia II” porque além de data, título, escopo e extensão dos dois textos, digo textualmente na nota que finaliza o segundo: “o texto acima constitui, em parte, um resumo das razões aduzidas no dossiê elaborado em 96; foi publicado quase na íntegra, em 97, no Observatório da Imprensa que Alberto Dines mantém na Internet. Acrescentei em 98, as informações referentes aos depoimentos dos Professores José Atílio Vanim e Reynaldo Gomide”. Assim, se houve leviandade, não me cabe a carapuça.

Historiando os fatos, não as versões:

Dossiê e artigos

a) Dois meses após a explosão do shopping em agosto de 96, elaborei um dossiê de uma centena de páginas intitulado “O outro lado da tragédia do Osasco Plaza Shopping – por que somos vítimas e não culpados” que foi enviado paulatinamente a 355 pessoas (jornalistas e outros) a partir de setembro de 96 até hoje. Esse dossiê contém laudos do Instituto de Criminalística e do IPT, petição de advogados ao delegado, além de dezenas de documentos importantes para a compreensão dos fatos. Nele cito a cobertura de vários órgãos da Imprensa que a princípio contribuiram para esclarecer o leitor, anexando, entre outros, artigos de Renato Lombardi, Bruno Paes Manso e José Carlos Cafundó de O Estado de S. Paulo e entrevista de Isto É com Marcelo Zanotto. Esse dossiê foi acrescido até maio de 97 com laudos periciais elucidativos, certidões da Cetesb e da Defesa Civil sobre a questão dos cheiros no recinto do Shopping um ano após lá não mais haver GLP.

Esse dossiê permanece, portanto, com a mesma página de rosto, ressaltando a cobertura de alguns órgãos da Imprensa, inclusive do Estadão, e nem poderia ser diferente porque enfeixa artigos elucidativos dos mesmos órgãos publicados nos primeiros dois meses após a tragédia.

b) Em 5 de março de 97, a convite de Alberto Dines, a quem enviara o dossiê, escrevi para o OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA (edição no. 17 – seção Caixa Postal), artigo intitulado “Tragédia e Mídia”, aproveitando trechos do dossiê e acrescentando reflexões minhas acerca da experiência terrível vivida naqueles 9 meses de calvário quando me decepcionou profundamente o silêncio da Imprensa sobre fatos que mereciam ser divulgados uma vez que sofríamos acusações infundadas e muitas vezes caluniosas. Neste artigo, referindo-me à mídia, destacava o trabalho da “Folha de S. Paulo” e da TV Cultura que continuaram a dar a público reiteradamente as múltiplas facetas do caleidoscópio. Repito: há, portanto, dois documentos, com intervalo de 9 meses, sendo o primeiro um dossiê de 122 páginas e o segundo um artigo de 2 páginas e meia (Tragédia e Mídia), ao qual acrescentei em junho de 98 informações relevantes sobre os últimos depoimentos prestados em juízo em abril, que mereceram da parte da grande imprensa o silêncio dos cemitérios, apesar de sua importância. Apenas Luís Nassif, em ato de solidariedade espontânea que muito me comoveu, escreveu em sua coluna sobre o fato.

c) Preferia ater-me às explicações gerais e não particularizar mas como sou citada nominalmente no site do Observatório, reservo-me o direito de responder puntualmente:

Auxílio às vítimas

a ) Quanto as “trapalhadas” e à “negligência” em relação ao auxílio prestado às vítimas: coloco à disposição da imprensa os relatórios sobre esse auxílio prestado desde julho de 96 até hoje, totalizando 2 milhões e 600 mil reais e o vídeo ilustrativo elaborado com a contribuição espontânea de colegas de teatro e da Imprensa – (e por sugestão do Frei Giorgio Callegari da Comissão de Direitos Humanos da Cúria Metropolitana de S. Paulo que acompanha desde o início nossos esforços nesse sentido) – cujas cópias foram enviadas a todas as estações de TV e redações dos jornais em outubro e novembro de 97 e jamais utilizadas.

b ) Quanto ao problema dos hospitais referente aos primeiros atendimentos após o sinistro: as contas começaram a ser apresentadas alguns meses depois, conforme amplamente noticiado pela Imprensa, inclusive pelo JT em 04.12.97. O Shopping tinha duas opções: cessar toda e qualquer atendimento às vítimas (cirurgias, transportes, tratamentos, fisioterapias, ajuda de custas, etc.) interrompendo dezenas de tratamentos em fase crucial e pagar os hospitais, mesmo sem condição de uma verificação efetiva dos valores, ou não pagar os hospitais e manter o atendimento custeado à época com mais de 80% da receita líquida do Shopping (números abertos à verificação). Gostaria de que fosse verificado pela Imprensa se há referência de algum caso de grande tragédia no Brasil em que uma empresa, logo após o sinistro, antes da apuração de qualquer responsabilidade, passasse a dispor como faz até hoje de 80% de sua geração de caixa líquida em prol dos acidentados

Dolo eventual

Quanto à ingenuidade e mediocridade da minha argumentação sobre a questão do “dolo eventual”, tenho a dizer que realmente não sou advogada, mas bastaria uma consulta à peça acusatória da Promotoria para verificar a agressão da denúncia calcada em artigos e parágrafos do Código Penal (datado de 1940 época da ditadura getulista). A denúncia é um processo às intenções dos réus, tão equivocada quanto o indiciamento, sobre o qual, aliás, o advogado dos réus concedeu entrevista à imprensa, à saída do Fórum em 31.08.96. Na página 60 do dossiê reproduzo essa entrevista a qual , estando presentes todas as TVs, jornais e rádios, somente a “Folha” publicou. Ante a agressão da denúncia, permiti-me a ironia do “raciocínio por absurdo”, referindo-me ao “suicídio eventual”, fato que “seria cômico se não fosse trágico”, porque os três réus do Shopping estavam lá no momento da explosão que teriam provocado.

Depoimento do Prof. Dr. José Atílio Vanim

Quanto “à apuração da existência de um contra-laudo extra-oficial encomendado pelo Shopping ao Sr. Vanim, contrariando o Instituto de Criminalística”, temos a dizer que: o Prof. Dr. José Atílio Vanim, titular da Cadeira de Química da Universidade de São Paulo não elaborou contra-laudo algum a pedido do Shopping. Depôs em juízo , como testemunha inatacável e sob juramento, sobre estudo que realiza motu próprio, no âmbito de sua atividade acadêmica, como um dos maiores especialistas em gases do país, motivado que foi pela momentosa questão da explosão do Osasco Plaza. Não contrariou o Instituto de Criminalística, ao contrário, corroborou suas conclusões valendo-se das mesmas, sobre o fato do “brutal erro de construção” que enterrou um tubo em lugar não previsto e inacessível, contrariando todas as normas de segurança, com “juntas, roscas e vedantes incompatíveis com as normas técnicas” . O professor somente retifica o tempo de vazamento que conclui ser instantâneo e não gradual, com argumentos semelhantes aos do Prof. Dr. Reynaldo Gomide, após estudo aprofundado sobre a natureza do GLP.

Vale ressaltar que um mínimo esforço investigativo da parte da reportagem teria verificado que dos 8 peritos que assinaram o laudo do IC, extremamente competentes nas áreas de sua formação (engenheiros civis, matemáticos, etc.), não havia um sequer que fosse químico ou engenheiro químico. Donde a relevância dos depoimentos de dois dos maiores catedráticos da matéria, repito, especialistas em gases.


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