Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Quem plantou o quê?

O Globo e O Estado de S.Paulo são, em princípio, governistas sem restrição, com uma ou outra idiossincrasiazinha para dar colorido à vida, que ninguém é de ferro.

Veja é mais seletiva. Apóia objetivamente o presidente, mas na vertente “serjista antipefelista”. Mais do que hospitaleiramente abrir suas páginas para a entrevista do ministro Sérgio Motta, na edição de 23/7/97, saiu, na edição seguinte (em que a crise das ruas foi evacuada da capa), em defesa de sua participação – dela própria, revista – no enredo da política palaciana.

No balanço da semana política, todo o espaço é dedicado a comemorar o que seria o triunfo de Sérgio Motta sobre Luís Eduardo Magalhães. O artigo “Hora da verdade” – subtítulo “O PFL tenta dar uma faturadinha com a entrevista de Sérgio Motta a Veja, se dá mal e é frito em dendê” – encerra-se com o seguinte manifesto:

“Ao pefelê interessa a aliança com o PSDB. Aliás, ao partido interessa qualquer aliança, com qualquer partido, para continuar no poder. Foram serviçais da ditadura, lacaios de Sarney, coadjuvantes do marajanato de Collor. E no momento fazem o seu joguinho miúdo com Fernando Henrique. Agora, têm o PMDB como sombra, unidos sob a mesma divisa: cargos e verbas. É uma política velha, hipócrita, à qual Fernando Henrique vem adaptando-se. A eles todos não interessa que se diga a verdade.”

Apresenta-se a idéia de que Sérgio Motta saiu a campo e, criando ou não problemas para o presidente, disse que o precisava ser dito, porque soara a “hora da verdade”.

Num país do tamanho e da complexidade do Brasil, um ministro de Estado que entrou na política nacional em 1994 – portanto não tem votos, bancadas, bases – revolta-se, incapaz de conter o grito preso na garganta. O presidente é surpreendido, fica aborrecido, mas prefere sacrificar uma parcela de autoridade.

É uma argumentação.

Outros viram no episódio todo só teatrinho.

Não vamos tomar partido. Fiquemos com um roteiro fornecido pelo próprio presidente da República em entrevista à Folha de S. Paulo (setembro de 1996):

“Todo mundo planta tudo. Quando leio jornal hoje, já sei quem plantou o quê. Como os jornais estão cheios de colunas – e são colunas de plantação -, há 500 fofocas por dia no Brasil. Quinhentas! O Serra, que gosta de contar tudo, mandou contar e disse que tem 500 por dia. Você descobre quem pôs a fofoca, sabe qual a intenção da fofoca e acaba acreditando nela, o que é o mais grave. E os mesmos que põem a fofoca acreditam na do outro. É uma confusão danada. Isso é informar?”

No caso, quem plantou o que, presidente?

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