Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Questão de método

como foi feita. A repórter nem sempre se identificou como jornalista; e, nos diálogos que manteve (e gravou) com lobistas e funcionários do Ministério dos Transportes, muitas vezes fez-se passar por parte interessada no recebimento de uma determinada bufunfa a que teria direito. Agiu corretamente? Na humilde opinião deste escriba, não teria maneira mais prática e eficiente de apurar sua reportagem e desvendar essa história nada edificante. Foi a campo com as armas que dispunha e levantou informações suficientemente consistentes para escancarar um esquema imoral e ilegal de favorecimentos vários. Prestou um serviço relevante e balançou o prestígio do ministro Eliseu Padilha – peça importante na campanha pela reeleição presidencial do ano passado e herdeiro de uma máquina administrativa – a dos Transportes – na qual, em passado recente, pontificavam personagens de reputação, digamos… bom, deixa pra lá.

Nem todos os observadores da mídia pensam assim. E, no frigir dos ovos, a opinião expressa no parágrafo acima importa pouco. De todo modo, e por estarmos na rubrica Jornal de Debates, fica o convite a uma discussão que, se não é nova, é ainda atual: pode (ou deve) o jornalista esconder sua condição profissional para apurar matérias cujas fontes, de outra forma, não lhe abririam as informações necessárias para a construção de uma história envolvendo, por exemplo, utilização suspeita de dinheiro público?