Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Reafirmando e discordando

Nahum Sirotsky (*)
De Tel Aviv

 

D

evo começar por reafirmar o que afirmo há anos: na geração de Alberto Dines, não teve editor igual. A obra dele no JB entrou para a história do jornalismo brasileiro. Ele tem um texto magnífico. E li todos os livros que publicou, inclusive um que editou para os colegas nos tempos do JB. Mas acho que ele não me entendeu bem, o que me acontece, infelizmente, com freqüência.

Ao fazer sugestões para dar maior abrangência ao OBSERVATÓRIO, não pensei nem em ouvidor nem em ombudsman. Longe de mim reclamar contra a filosofia do pluralismo, ou propor censura. O que afirmei, reafirmo, é que somos uma “publicação” (estará certo chamá-la assim?) dedicada ao aprimoramento do jornalismo e do uso dos meios de comunicação. E que devemos, por isso mesmo, começar pela crítica a ela antes de mais nada e, simultaneamente, a nós mesmos.

A palavra “crítica” tem inúmeros significados, como Dines sabe muito bem. Pode ser critério, julgamento, análise, apreciação, censura. E o crítico pode ser um exegeta, um comentarista, explanador, expositor, interpretador etc. Portanto, pode ser uma negação como um complemento. Marinilda, por exemplo, fixou-se no que eu disse sobre a extensão dos textos e a ausência de procura de uma linguagem para a net.

Uma das grandes contribuições do Dines ao jornalismo impresso foi o de editar com a preocupação permanente de renovar, de aperfeiçoar, de informar fatos e significados em seus contextos: recurso ao arquivo, e mais ainda, correspondentes nos centros mundiais de importância estratégica. E foi ombudsman de grande jornal paulista. O OBSERVATÓRIO é outra audaciosa contribuição dele.

Pluralismo, palavra tão na moda, é sem dúvida, fundamental ao processo de concretização das liberdades. E a palavra processo não está aí por acaso. As liberdades fundamentais são um processo por definição, pois as sociedades são dinâmicas, por todos os fatores que participam no desenvolvimento de economias e culturas. As liberdades sofrem transformações, ampliam-se, tornam-se tão abrangentes quanto necessário para que as sociedades continuem democráticas em todos os mais amplos significados desse sistema. Não esqueçamos de que rádio e TV dependem de concessões do Estado e que, por isso mesmo, tiveram de conquistar, com sérios riscos, o direito de expressar opiniões.

Mas, pluralismo, na expressão de opiniões nos meios de comunicação de massa, não pode ser traduzido como o direito absoluto, de quem tem acesso a tais veículos, de abuso desse poder. Urge um código de ética a ser respeitado, inclusive, por existir a força de fazê-lo acatado. Daí insistir em que o OBSERVATÓRIO, preservadas as liberdades, tenha suas manifestações criticadas, em outras palavras, que seja o primeiro exemplo de respeito à ética que defende como essencial à prática correta do jornalismo.

Vou ao ponto de sugerir que seja eleito um comitê de ética, que seria presidido por alguém fora da profissão como, por exemplo, um juiz aposentado. Alguém de indiscutível conceito e comprovada correção.

Quanto à extensão, é uma questão de critério. Mas não abro mão da crítica sobre falta de pesquisa de uma linguagem para a net. A media é a mensagem, como foi bem observado. Cada mídia desenvolveu a sua. A net exige o mesmo.

(*) Correspondente de Zero Hora e Rádio Gaúcha