Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Redação em estado de choque

THE NEW YORK TIMES

O novo editor-executivo do New York Times, Howell Raines, tem provocado revolta na redação. Ordenou a volta de correspondentes a Nova York ou promoveu transferências para novas seções, sem levar em conta interesses pessoais. Seth Mnookin [New York Magazine, 19/2/02] conta o caso do chefe da sucursal de Atlanta, Kevin Sack, obrigado a se mudar para Washington. O jornalista tentou acordo para ficar na cidade em que mora seu filho pequeno, mas preferiu se demitir devido à inflexibilidade da chefia.

Muitos repórteres estão preocupados por não terem o perfil considerado ideal pelo editor: profissionais de 30 anos, sem mulher ou filhos, dispostos a viajar muito. Mnookin diz ter entrevistado 20 funcionários do Times, e nenhum quis se identificar. Segundo Peter Johnson [USA Today, 12/2/02], não foi só a equipe que sentiu as mudanças. Sob seu comando, matérias sobre a vida pessoal de Mariah Carey e injeções de Botox ganharam a primeira página do tradicional jornalão. Para Ira Stoll, editor do sítio smartertimes.com, trazer cultura pop para a capa não vai ajudar a atrair mais público: "É como sua avó de 70 anos querendo ser moderninha usando óculos escuros e minissaia", diz. "Os leitores podem até apreciar o esforço, mas o efeito geral é um pouco gritante".

NOTICIÁRIO INTERNACIONAL

Ao mesmo tempo em que pressiona o governo por mais informações sobre a guerra no Afeganistão, a mídia americana está lentamente se dando conta de que a TV sempre reservou pouquíssimo espaço ao que acontece fora das fronteiras dos EUA. Executivos de grandes grupos de mídia têm criticado a Casa Branca por ceder pouca informaçãoi sobre as ações contra bin Laden e sua turma, conta David Bauder [AP, 12/2/02]. "Todo dia há dificuldades para descobrir o que aconteceu", reclama Paul Friedman, vice-presidente executivo da ABC News. A briga pelo acesso à informação neste caso se dá ao mesmo tempo em que há um sensível aumento do noticiário internacional na TV americana.

J. Max Robins [TV Guide, 16/2/02] informa que estudo do instituto de pesquisa NewsTV Crews aferiu que os telejornais dobraram o número de notícias internacionais de janeiro de 2000 para cá.. Ainda assim, elas correspondem a apenas 17% do total. O alto custo e o grande risco das coberturas internacionais contribuem para este baixo índice, mas também pesa a falta de interesse do público. Neil Shapiro, presidente da NBC News, acha que é "duas vezes mais difícil" conseguir audiência para notícias do exterior que para as novidades domésticas.

Ainda que insuficiente, o crescimento da cobertura internacional é um bom sinal de que a mídia americana está se sensibilizando. "Nos últimos três anos tem morrido diariamente no Congo quase o mesmo número de vítimas do World Trade Center", exemplifica Ted Koppel, âncora da revista eletrônica Nightline, que sempre se destacou pelo noticiário internacional. Agora que seu programa exibe uma série sobre a situação do país africano, ele se sente na obrigação de pedir desculpas aos telespectadores por ter deixado de informar durante anos sobre acontecimentos de proporção tão terrível.