Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Reflexões sobre o jornalismo político em época de eleições

Victor Gentilli

 

O

OBSERVATÓRIO NA TV do dia 25 de agosto de 1998 ocupou-se exclusivamente do noticiário político e das coberturas eleitorais. A partir de uma entrevista antológica com o veterano Villas-Bôas Correa, que completa 50 anos de jornalismo político, tivemos intervenções lúcidas e instigantes de Augusto Nunes, Dora Kramer, Marina Colassanti e Mauro Malin.

Augusto Nunes lembrou que vivemos um momento diferente. Mas nenhum dos participantes atentou que naquele dia completavam-se 37 anos da renúncia de Jânio. Ou 44 anos e um dia do suicídio de Getúlio Vargas.

Marina Colassanti mostrou que temos hoje muito mais perguntas do que respostas. É verdade. Seguem algumas perguntas cujas respostas poderiam nos ajudar muito a entender a imprensa brasileira contemporânea.

Os jornais selecionam, organizam e hierarquizam os acontecimentos da atualidade; os jornalistas explicam, traduzem, esclarecem tais acontecimentos. A atividade de uma equipe de jornalistas, nas suas diversas funções, resulta num jornal: um conjunto de acontecimentos explicados, esclarecidos e traduzidos para o consumidor (leitor, radio-ouvinte ou telespectador) já selecionados organizados e hierarquizados.

A política é certamente o grande assunto do jornalismo. Os jornais surgiram para apresentar e debater idéias políticas e são hoje o mais importante meio de acesso de cada um à informação necessária à fruição plena dos direitos de cidadania, em particular, os direitos políticos.

Mas o que é o jornalismo político, qual a sua função, quais os seus papéis? Como conceber o jornalismo político numa campanha eleitoral?

Jornais se abastecem de fatos. É fácil perceber o que constitui um fato jornalístico, de um modo geral: um acidente, uma queda de avião, uma epidemia, um jogo de futebol são ocorrências noticiáveis. O que é um fato noticiável na política? Como tratá-lo? Movimentos, estratégias, táticas políticas resultam em falas, ações, silêncios e omissões. Na política, um silêncio, uma omissão ou uma ausência podem se constituir nos grandes “fatos” do dia. Como noticiá-los, com que critérios?

Quem é o “outro lado”? Ouvir uma declaração acusando alguém e em seguir ouvir a resposta do acusado é isenção e neutralidade ou é ceder ao pernicioso vício de aceitar acusações. Qual o critério para confiar numa fonte? Qual o grau de tolerância na troca de informações entre fonte e jornalista? Vale tudo por uma informação? O furo no caso “x” pode ser negociado pelo silêncio no caso “y”. Como entender os limites entre o interesse público e a invasão de privacidade? São questões decisivas para a reflexão sobre o jornalismo político contemporâneo.

E numa campanha eleitoral? Qual o papel dos jornais e dos jornalistas políticos?

O jornalista tem o direito de criar “fatos”?

O jornalista pode se limitar aos “fatos” ou “factóides” criados pelos políticos?

Como diferenciar um fato de um factóide?

Se pensamos os jornais na perspectiva da cidadania e entendemos a informação por eles produzida como um serviço público, temos uma nova perspectiva na avaliação da cobertura eleitoral.

Algumas questões para reflexão:

1. Os jornais estão sendo um eficiente meio de produção de informação política?

2. Os jornais estão oferecendo ao cidadão os elementos indispensáveis para que faça sua escolha política com consciência e plenamente abastecido das informações necessárias?.

3. Como os jornais estão cobrindo a campanha presidencial?

4. Como os jornais estão cobrindo a campanha para governador?

5. E para senador, deputados federal e estadual?

6. Os jornais fazem uma cobertura meramente declaratória ou questionam as fontes? Se questionam, o fazem a partir do interesse público ou do interesse dos proprietários?

7. Os jornais fornecem elementos para que se conheça os programas dos candidatos ou apenas narram os acontecimentos das campanhas?