Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Reformas são teste para os jornais

FECHAMENTO

Monitor de Mídia (*)

A madrugada de 6 de agosto marcou a primeira vitória do governo Lula na aprovação das reformas estruturais no país. Depois de idas e vindas, costuras e acordos, o plenário da Câmara abriu caminho para mudanças na Previdência Social. O processo ainda está longe de terminar e a rotina de Brasília vai ser de muita correria. O fato é que as reformas são um teste não apenas para o governo e seus aliados, mas também para a mídia que tenta acompanhar os principais movimentos políticos. Foi o que se viu no primeiro round da Reforma da Previdência, quando alguns dos jornais catarinenses não conseguiram dar a contextualização suficiente e não adequaram suas operações à dinâmica do processo.

É verdade que há pelo menos oito anos o país ouve falar nas reformas e que o assunto não é novidade. Entretanto, apesar dos esforços para dar a notícia, o jornalismo ainda não conseguiu totalmente esclarecer à população o que significa a taxação dos inativos, a paridade dos reajustes, o sub-teto dos juízes, dentre algumas das modificações. Vem faltando contextualização e decodificação da linguagem técnica em termos mais acessíveis. Em alguns casos, o leitor continua sem saber o que de fato vai mudar em sua vida com as novas regras.

As discussões em torno da votação se iniciaram na terça-feira (05/08) na Câmara. A previsão era de que os parlamentares só começariam a votar na quarta, mas os resultados acabaram saindo na madrugada de quarta, à 1h15min. Como a edição de 6 de agosto da maioria dos jornais já tinha sido fechada, muitos só deram a notícia completa na quinta, dia 7.

O Jornal de Santa Catarina informou seus leitores na quarta que "até o fechamento desta edição, às 23h30min (sic), os deputados não haviam votado o projeto". Como não havia um resultado definitivo, não deu nada na capa, nem mesmo chamando para as páginas internas. Na terça, 5, A Notícia publicou editorial sobre o tema ("Preocupação com previdência") e na p. A6 afirmou que "a reforma pode entrar ainda hoje na pauta", segundo tentativas de parlamentares de antecipar os trabalhos, pressionados pelo executivo. No dia seguinte, o jornal deu as informações que tinha até o seu fechamento, justificando que "até as 00h30 de hoje ainda não havia iniciado a votação nominal da proposta de reforma". O leitor e o assinante despertaram com uma edição incompleta, já que nos principais telejornais da manhã a notícia era a da aprovação, com quadro de votos e repercussões. O Diário Catarinense destoou da cobertura local, prestando um serviço mais eficiente, atualizando os dados em suas páginas. Como em outras ocasiões, o jornal trabalhou com horários diversificados de fechamento. Segundo apurou este Monitor com o setor de distribuição do DC, a 1? edição que chegou à região oeste do estado foi rodada às 22 horas; a 2? ? voltada para as regiões do Vale do Itajaí e Norte ? foi para as rotativas à meia-noite; e uma 3? edição ? que circulou na região da capital ? foi impressa depois do resultado do Congresso.

Mais ágil que a concorrência, a equipe do DC não se limitou a dar o fato até seu o fechamento; foi atrás do desfecho do acontecimento. É verdade que as atualizações que o DC fez em seus clichês foram pontuais, limitadas à matéria de abertura e que acabaram circulando apenas no entorno de Florianópolis. No entanto, o jornal se deu ao trabalho de complementar os relatos e de deixar a sua versão eletrônica a mais atualizada possível. Diferente de A Notícia ou do Santa

É evidente que fazer jornal é uma atividade industrial, complexa e que articula diversas etapas no processo. Da seleção dos assuntos que vão compor a pauta até a chegada do jornal na casa do leitor, são muitos estágios que precisam estar bem engrenados. Muitas vezes, os fatos não esperam os jornalistas. Muitas vezes, são os jornalistas que precisam acertar seus relógios aos dos acontecimentos. Tudo para que o leitor possa ter a melhor informação.

(*) Projeto de acompanhamento da imprensa catarinense desenvolvido por alunos da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), sob coordenação do professor Rogério Christofoletti