Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Renata Gallo

CIDADE DOS HOMENS

“Dois adolescentes na ?Cidade dos Homens?”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/10/03

“Que adolescência é uma fase complicada já foi dito à exaustão, o que ainda não foi feito foi acompanhar ano a ano as mudanças que esses turbilhões de hormônios causam na vida dessa turma. E é exatamente essa a vontade de Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus e um dos idealizadores de Cidade dos Homens, série rodada em filme (16 milímetros) que estréia sua segunda temporada na Globo no próximo dia 14, às 22h30, com cinco episódios inéditos.

Desta vez, os já conhecidos Acerola (Douglas Silva) e Laranjinha (Darlan Cunha), hoje com 15 e 16 anos respectivamente, mostrarão os anseios e as perturbações que atingem seus personagens e, no caso, seus intérpretes também. ?À medida que os meninos estão crescendo, os assuntos estão mudando e a série está acompanhando essas transformações?, explica Fernando Meirelles.

O fato de a série se passar na periferia também abre o leque para se abordar uma infinidade de outros temas. ?Ano que vem, dá para falar de trabalho, pois, com 16, 17 anos, todo mundo já está trabalhando e a família já conta com o dinheiro do cara. Com 18, 19, a molecada também já tem filhos?, enumera Meirelles.

Nesses cinco episódios, o que ficará mais evidente é a relação com as garotas. ?Eles estão muito assediados, ainda mais por causa da fama, e vamos falar dessas experiências deles com as meninas?, diz Meirelles.

A primeira história a ser exibida será Sábado e vai mostrar a ansiedade da dupla para ir ao baile no sábado à noite. Acerola quer conquistar uma garota, enquanto Laranjinha pretende bater seu recorde: beijar três e ainda levar uma quarta para casa.

Na terça seguinte, irá ao ar Dois em Brasília, que contará a viagem de Acerola e Laranjinha para Brasília: a pretensão da dupla é entregar, nas mãos do presidente, a carta de uma ONG que decidiram apoiar – por causa de uma garota, é claro.

Ainda haverá Tem Que Ser Agora, que irá relatar a democracia da praia; Os Ordinários, quando Acerola irá salvar um playboy de um afogamento, e Chapa Quente, que contará a história de um primo de Laranjinha que decide sair do tráfico.

Overdose de periferia? Não na visão de Fernando Meirelles. ?A sociedade tem assistido há anos, na dramaturgia, a cerca de nove horas por dia de classe média e isso representa apenas 30% da população. Cidade conta o lado maior do País, então, temos história para 150 anos no mínimo?, afirma.

Tutor – A relação de Meirelles com Darlan e Douglas vai muito além do set de filmagens. Meirelles conta, no Rio, com Marcelo Pires, que toma conta dos meninos 24 horas por dia. Quer saber onde eles estarão amanhã à tarde? Liga para ele. Marcelo é meio tutor, meio pai, agenda entrevistas e outros trabalhos. Sabe de tudo.

Além dele, os meninos também têm uma pedagoga, uma professora particular e dentista – Douglas irá colocar aparelho. ?Estou ligado com eles o tempo todo. A diretora da escola liga, foi mal em matemática, sei de tudo?, diz Meirelles. O próprio diretor assina os contratos de trabalho para os dois e, portanto, é agente também. Mas não cobra porcentagem.

E não é caridade. ?Dou uma força porque sei que se eu segurá-los por dois, três anos, daí eles poderão seguir sozinhos?, diz. A justificativa vem a seguir: ?Já trabalhei com muito ator, mas os meninos são bons de um jeito, de uma verdade, de uma intensidade que é difícil de ver por aí. O Douglas é muito talentoso e é um absurdo ele ser desperdiçado?, diz.”

***

“DARLAN CUNHA”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/10/03

“Tímido e desconfiado como qualquer garoto de 16 anos, Darlan Cunha se distingue dos outros da turma não só por ter se transformado em Laranjinha, mas também por carregar a responsabilidade de dar o exemplo àqueles que não tiveram a chance dele. ?Tudo o que eu faço chama atenção e agora estou servindo de exemplo pra muito moleque de rua?, diz.

À rotina escola-teatro, que cumpria antes de Cidade de Deus, acrescentou novos amigos, aulas de tênis, surfe, natação e uma namorada. Há três meses ele namorada Benedita, a filha de Regina Casé, uma das diretoras e roteiristas de Cidade dos Homens. Darlan continua no mesmo bairro, o Catumbi, no centro do Rio, mas amadureceu muito depois que ?sacou? que agora é famoso. Se desse para relevar o número de ?pôs? de seu vocabulário, ele até passaria por gente grande.

Estado – Sua relação com seus amigos mudou?

Darlan Cunha – Os meus amigos de antes não são mais os mesmos. Agora as pessoas têm certos interesses, não querem saber quem eu sou, mas o que eu tenho. Acho que essas relações de amizade mudaram porque eles não estão sendo meus amigos por causa do Darlan, mas pelo Laranjinha.

Estado – As pessoas se aproximam por causa do Laranjinha?

Darlan – Muitas pessoas sim, e é complicado, porque não sou o Laranjinha: eu faço o Laranjinha.

Estado – Como é sua relação com o Douglas?

Darlan – Todo mundo confunde e acha que a gente é irmão, mas, no começo, a gente não se entendia direito. Agora, tentamos um compreender o outro. O Douglas zoa, brinca muito, mas, quando eu brinco com ele, ele não gosta.

Estado – Deve haver um monte de meninas querendo namorar o Laranjinha, não?

Darlan – Eu acho que tem, mas, pô, não dá para namorar todas.

Estado – E você já tem namorada. Qual sua relação com ela?

Darlan – Pô, é maravilhosa. A gente se fala todo dia. Eu gosto dela, ela gosta de mim e assim a gente se entende.

Estado – O que você viu de mais bacana em ?Cidade dos Homens??

Darlan – O bacana é que não tem um programa como esse na TV e eu acho importante mostrar a realidade da comunidade. As pessoas não têm idéia do que se passa na comunidade e na mente dos adolescentes da comunidade. O adolescente da comunidade também pode ser ator, pode virar um advogado. Não é só bandido.

Estado – Mas a concentração de droga e violência é maior no morro.

Darlan – É, mas os maiores causadores da violência estão fora do morro, estão na zona sul. Tem muito playboy aí que é abafado na parada e daí acabam acusando só quem mora na comunidade. A única diferença é a classe social.

Estado – Você se sente famoso?

Darlan – Na verdade, eu comecei a notar isso agora. Antes falavam: ?Olha o Laranjinha?, mas eu não pensava: ?caramba, sou famoso?. Mas agora eu estou notando mais que as pessoas gostam mesmo do meu trabalho. A galera me pára na rua e fala que eu mando bem, tal, pede autógrafo.

Estado – Qual o melhor da fama?

Darlan – É trabalhar com essa galera, o Douglas, o Fernando Meirelles…

Estado – E a pior?

Darlan – Agora tudo o que eu vou fazer eu estou sendo rotulado. Tudo o que eu faço chama atenção e agora eu estou servindo de exemplo pra muita gente, pra muito moleque de rua.

Estado – Tem uma galera que se identifica com você?

Darlan – Às vezes, eu paro no sinal. Chega um moleque: ?Laranjinha, quero fazer filme?. Eu pergunto: ?Você estuda? Então volta a estudar que depois eu passo aqui e te dou um toque para você ir lá fazer filme comigo.?

Estado – Você se identifica com o personagem?

Darlan – Claro. O Laranjinha é o Darlan. Ele pode fazer o que o Darlan tem vontade, o que o Darlan não teve chance. Faço o Laranjinha como se fosse eu de verdade, mas depois que saio dali vejo que sou o Darlan, que tenho que dar exemplo. E me seguro.

Estado – Então você queria fica com quatro garotas, como o Laranjinha?

Darlan – Não, porque sei também que tem muita garota que cola em mim só porque eu apareço na TV. Elas não gostam de mim de verdade. E eu também tenho namorada.”

***

“DOUGLAS SILVA”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/10/03

“Tímido e desconfiado como qualquer garoto de 16 anos, Darlan Cunha se distingue dos outros da turma não só por ter se transformado em Laranjinha, mas também por carregar a responsabilidade de dar o exemplo àqueles que não tiveram a chance dele. ?Tudo o que eu faço chama atenção e agora estou servindo de exemplo pra muito moleque de rua?, diz.

À rotina escola-teatro, que cumpria antes de Cidade de Deus, acrescentou novos amigos, aulas de tênis, surfe, natação e uma namorada. Há três meses ele namorada Benedita, a filha de Regina Casé, uma das diretoras e roteiristas de Cidade dos Homens. Darlan continua no mesmo bairro, o Catumbi, no centro do Rio, mas amadureceu muito depois que ?sacou? que agora é famoso. Se desse para relevar o número de ?pôs? de seu vocabulário, ele até passaria por gente grande.

Estado – Sua relação com seus amigos mudou?

Darlan Cunha – Os meus amigos de antes não são mais os mesmos. Agora as pessoas têm certos interesses, não querem saber quem eu sou, mas o que eu tenho. Acho que essas relações de amizade mudaram porque eles não estão sendo meus amigos por causa do Darlan, mas pelo Laranjinha.

Estado – As pessoas se aproximam por causa do Laranjinha?

Darlan – Muitas pessoas sim, e é complicado, porque não sou o Laranjinha: eu faço o Laranjinha.

Estado – Como é sua relação com o Douglas?

Darlan – Todo mundo confunde e acha que a gente é irmão, mas, no começo, a gente não se entendia direito. Agora, tentamos um compreender o outro. O Douglas zoa, brinca muito, mas, quando eu brinco com ele, ele não gosta.

Estado – Deve haver um monte de meninas querendo namorar o Laranjinha, não?

Darlan – Eu acho que tem, mas, pô, não dá para namorar todas.

Estado – E você já tem namorada. Qual sua relação com ela?

Darlan – Pô, é maravilhosa. A gente se fala todo dia. Eu gosto dela, ela gosta de mim e assim a gente se entende.

Estado – O que você viu de mais bacana em ?Cidade dos Homens??

Darlan – O bacana é que não tem um programa como esse na TV e eu acho importante mostrar a realidade da comunidade. As pessoas não têm idéia do que se passa na comunidade e na mente dos adolescentes da comunidade. O adolescente da comunidade também pode ser ator, pode virar um advogado. Não é só bandido.

Estado – Mas a concentração de droga e violência é maior no morro.

Darlan – É, mas os maiores causadores da violência estão fora do morro, estão na zona sul. Tem muito playboy aí que é abafado na parada e daí acabam acusando só quem mora na comunidade. A única diferença é a classe social.

Estado – Você se sente famoso?

Darlan – Na verdade, eu comecei a notar isso agora. Antes falavam: ?Olha o Laranjinha?, mas eu não pensava: ?caramba, sou famoso?. Mas agora eu estou notando mais que as pessoas gostam mesmo do meu trabalho. A galera me pára na rua e fala que eu mando bem, tal, pede autógrafo.

Estado – Qual o melhor da fama?

Darlan – É trabalhar com essa galera, o Douglas, o Fernando Meirelles…

Estado – E a pior?

Darlan – Agora tudo o que eu vou fazer eu estou sendo rotulado. Tudo o que eu faço chama atenção e agora eu estou servindo de exemplo pra muita gente, pra muito moleque de rua.

Estado – Tem uma galera que se identifica com você?

Darlan – Às vezes, eu paro no sinal. Chega um moleque: ?Laranjinha, quero fazer filme?. Eu pergunto: ?Você estuda? Então volta a estudar que depois eu passo aqui e te dou um toque para você ir lá fazer filme comigo.? Estado – Você se identifica com o personagem?

Darlan – Claro. O Laranjinha é o Darlan. Ele pode fazer o que o Darlan tem vontade, o que o Darlan não teve chance. Faço o Laranjinha como se fosse eu de verdade, mas depois que saio dali vejo que sou o Darlan, que tenho que dar exemplo. E me seguro.

Estado – Então você queria fica com quatro garotas, como o Laranjinha?

Darlan – Não, porque sei também que tem muita garota que cola em mim só porque eu apareço na TV. Elas não gostam de mim de verdade. E eu também tenho namorada.”

 

PERFIL / LÚCIO MAURO FILHO

“Sempre caí nas mãos certas?”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/10/03

“Lúcio Mauro Filho, o Lucinho, é uma pessoa de sorte. ?Sempre caí nas mãos certas?, conta. Em sua carreira, tudo acontece por meio das mais felizes coincidências. Nasceu filho de Lúcio Mauro. Fazia comédia no teatro, mas tinha medo do humor na TV. Nessa época, recebeu um convite e um conselho de Chico Anysio. Decidiu arriscar. Seu papel em Zorra Total, um gay caricato – que surgiu graças ao seu trabalho em uma peça teatral -, foi realizado ao lado de Jorge Dória, ?o que é 80% de garantia de sucesso?, como Lucinho afirma.

O êxito em Zorra Total chamou a atenção de Guel Arraes, que o escalou para a montagem de Lisbela e o Prisioneiro, nos palcos. Na TV, Mauro Mendonça aconselhou que Lucinho fizesse o teste para A Grande Família, o que o aproximou de seus ídolos. ?Sempre fui fã dos textos de Pedro (Cardoso)?, fala. E a tietagem rendeu um espetáculo. Pedro Cardoso decidiu dirigir Lucinho em É Morrendo que se Vive, que deve estrear no final do ano.

O trabalho com Guel Arraes abriu caminho para outra amizade de peso: João Falcão. E, dessa relação, nasceu o Homem-Objeto, espetáculo que virou especial para o Fantástico. O quadro deu origem a Sexo Frágil, que vai substituir Os Normais a partir de outubro, nas noites de sexta da Globo. Para participar da nova sitcom, ele deixará o Zorra Total, mas continuará em A Grande Família. E, além de tudo, está prestes a se tornar pai. Em entrevista ao Estado, o ator mostra por que é ?um cara sortudo?. Acompanhe os principais trechos da conversa:

Chico Anysio – ?Pouco antes de entrar para o Zorra Total, eu estava passando por uma fase em que tinha receio de fazer humor na TV. Primeiro pela comparação com o meu pai. Depois porque eu achava que quem fazia humor na TV ficava rotulado. Assim, eu nunca poderia fazer novela. Nessa época, encontrei o Chico e ele me deu um ultimato: ?Você vai ficar concorrendo com gente menos talentosa que você ou vai direto pelo caminho mais fácil, que é o humor, área em que você manda bem e vai ser respeitado?? Ele tinha razão.?

De Dercy Gonçalves a Jorge Dória – ?Comecei a fazer uns quadros com a Dercy Gonçalves que nunca davam certo… Isso porque chamaram a Dercy para fazer uma freira! Depois pulei para o Agildo (Ribeiro). E o Dória tinha feito a novela Suave Veneno, em que era pai de um homossexual. Acho que aquela turma mais velha do Maurício Shermann (diretor do ?Zorra?) quis dar uma sacaneada no Dória com esse papel… Mas Deus foi muito maravilhoso comigo e lá estava eu, no personagem que me projetou para o grande público.?

Estigma de gay – ?Foi a maior surpresa para mim. Quando começo a fazer um papel, não penso em prós e contras. Só depois comecei a refletir: ?Meu Deus, não estou fazendo uma coisa standard, mas um personagem que me expõe a um tipo de interpelação que é muito delicada.? E senti tudo muito rápido, pois sou um cara simples. Eu não tinha carro e continuei andando de ônibus. Continuei indo ao Maracanã, na arquibancada. E vi que o público está maduro. Eu achava que iriam falar para mim: ?Fala, viadinho!? Mas isso não aconteceu nem nos lugares broncos como o Maracanã, a feira de São Cristóvão…?

Humor na TV – ?O medo passou totalmente. O casamento com o Dória me fortaleceu muito e logo em seguida veio A Grande Família. Eu tinha um personagem extremamente conhecido e entrar num programa semanal era um desafio. Um humor muito mais realista, no qual a comédia está mais na situação do que no personagem. Além disso, ganhei uma família. Foi bacana para exercitar o meu ego, porque como ator jovem você pode cair numa de que é o máximo. Aí se depara com esse elenco, verdadeiras feras. É aí que digo que tenho muita sorte.?

?A Grande Família? – ?Eu me senti envaidecido quando entrei para A Grande Família. Até acredito que naquele momento existissem poucas opções de atores para o Tuco. Eu estava no lugar certo, na hora certa. O Mauro Mendonça me ligou e disse que estava fazendo testes para A Grande Família. Falou que pensava na Guta Stresser, que era minha amiga de longa data. Liguei para ela: ?Guta, caraca, não estou acreditando!? Quando cheguei para fazer o teste, quem era o meu par? A Guta! Fizemos um teste tão bacana que pensamos: ?É, somos nós?.

Trabalhar com seus ídolos é uma coisa muito doida. A gente deu sorte, pois acho que um programa sobre uma família só vai para frente se os atores se tornarem uma família. E nos sentimos assim, tanto que a morte de Rogério (Cardoso) deu uma balançada. Foi doido.?

Guel Arraes – ?Não sei se outro cara teria coragem de investir num maluco que estava fazendo um humor como o do Zorra – antigo, que muitas pessoas têm preconceito. Guel me colocou na peça dele (Lisbela e o Prisioneiro). Conheci a turma do Guel e me tornei amigo de Bruno Garcia. Aramis Trindade também entrou em Lisbela e me apaixonei por ele. Começamos a procurar textos para ler. Durante esse tempo, eles me apresentaram ao João Falcão.?

João Falcão – ?Comecei a espetar o João Falcão: ?Vamos trabalhar juntos.? Um dia ele me ligou e falou: ?Vamos trabalhar juntos. Estou escrevendo uma doidera, um projeto antigo que resolvi remontar e se chama Homem-Objeto.? Durante nossas reuniões, percebemos que tudo o que líamos soava muito Verissimo (Luis Fernando). João ligou para o Verissimo, que liberou os textos. Estreamos a peça e foi um furacão. Quando Guel assistiu, disse: ?Gente, isso é um programa de TV.? Fizemos programas para o Fantástico, que desembocaram nesse projeto maior, o Sexo Frágil (o programa estréia dia 17 de outubro).?

Lúcio Mauro – ?Ser Lúcio Mauro Filho mais ajudou do que atrapalhou. Onde eu falava que era o Lúcio Mauro Filho todo mundo abria um sorriso. Esse foi o único pistolão que recebi de meu pai. Não sofri muita comparação, pois temos diferença de quase 50 anos. Meu pai é meu ideal de profissionalismo e coleguismo. Ele tem 75 anos e não tem casa própria, mas, em compensação, deu tudo para sua família.?

Pedro Cardoso e outros amigos – ?Tenho grandes amigos diretores de novela. Mas não quero estar no teatro quando estiver fazendo novela. Com A Grande Família, tenho possibilidade de fazer teatro. Estou dirigindo pela primeira vez um espetáculo, Eles Preferem as Morenas, de Maria Hernandez, que deve estrear em outubro.

Estou ensaiando, como ator, a peça É Morrendo que se Vive, com textos de Pedro Cardoso e Felipe Pinheiro. Textos que vi em minha adolescência inteira e que, depois que o Felipe morreu, o Pedro nunca deixou ninguém montar. Depois que Pedro foi fazer O Homem que Copiava, voltou dizendo: ?Lucinho, é você e o Lazinho (Lázaro Ramos).? E Lazinho caiu na peça Homem-Objeto para substituir Bruno (Garcia), que está em Kubanacan. Lázaro é um dos maiores atores com quem já trabalhei. A gente ensaia e é um furacão. É choro, berro, gargalhada…?”

 

PÂNICO

“Novo humor do ?Pânico? é alento na TV”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/10/03

“Há anos, mais de uma década pelo menos, que não há humor inteligente fora da Globo. Mesmo assim, a inteligência não é privilégio de todos os programas que exibe: Zorra Total e o extinto Sai de Baixo fogem da categoria alto humor. Mas a emissora tem o mérito de insertar em sua grade séries sofisticadas como Os Normais e A Grande Família (a melhor) e Casseta & Planeta Urgente!, engraçado na maior parte do tempo e meio grosso, de vez em quando.

Nas concorrentes não há meio-termo. O humor segue uma fórmula que junta alta grossura e preconceito e, o que é pior, não tem muita graça. Nesse território de piadas velhas e interpretações over, reinam A Praça É Nossa, Te Vi na TV e a Festa do Malandro.

Por isso é surpreendente que a própria Rede TV! (que abriga o trash de João Kléber) dê vez a uma turma capaz de fazer graça de maneira moderna e inteligente. Pânico na TV, que estreou domingo (18h30), é uma algazarra que dura há mais de 10 anos no rádio, mas que não perdeu a graça na transposição para o vídeo. Apresentado ao público como o programa que tem o maior número de apresentadores da TV, o show comandado por Emílio Zurita revela sua fórmula no primeiro momento. Como é programa de domingo, Pânico vai mostrar ?jornalismo fajuto, concurso marmelada e mulher gostosa?, para não destoar dos colegas.

Por não descobrirem uma função melhor para enfiar no show garota gostosa, inventaram a ?mulher samambaia?, uma seminua cujo trabalho principal em cena é sustentar um xaxim da folhagem. A piada não é de todo correta, afinal a bela Sabrina Sato faz parte da trupe que também conta com personagens bem conhecidos dos ouvintes: Mendigo, Bola, Carioca, Mestre Fyoda, Silvio Santos, Carlos Camarujo, Zé Fofinho e A Morte.

Pânico mistura a irreverência do Perdidos na Noite (programa da Bandeirantes que transferiu Faustão do rádio para a TV) com a esculhambação do Casseta.

Feito ao vivo, o show conta com a ajuda entusiasmada do telespectador por telefone. Na estréia, esses participantes entraram como entrevistadores do cantor Júnior (da dupla com Sandy) ou como fã dos personagens que conhecem do rádio. Como nada ali é sério, o espectador não tem nenhuma garantia de que sua pergunta será respondida, porque, quando dá na telha, Zurita desliga o telefone na cara do sujeito.

Para avaliar a atração enquanto está no ar, um repórter estagiário consulta uma família (os Pimenta, de Carapicuíba) na hora. Faz também enquete com o público: ?Quanto tempo vocês acham que a gente vai ficar no ar??

As respostas variaram de 1 hora a 10 anos. Bom também o quadro em que Sabrina realiza o sonho de uma família da periferia de conhecer o mar. Num arremedo de ?A princesa e o plebeu?, Sabrina leva um casal e dois filhos a uma praia em Santos e, mesmo com chuva, a turma entra no mar e almoça frango com farofa. O quadro é engraçado porque é despretensioso e respeita os convidados, sem explorar a pobreza.

Hilariante é quando contam o final dos filmes que a Globo e o SBT vão passar na mesma noite. A justificativa: ?Para você não perder tempo vendo filme ruim porque tem que trabalhar na segunda.?

A chegada de Pânico na TV é um alento, especialmente para quem não contava mais com a televisão para juntar humor, inteligência e, por incrível que pareça, uma certa sutileza. As chances de o programa continuar no ar são grandes porque ele triplicou a audiência da Rede TV! na estréia: a média de 1 ponto no Ibope (Grande São Paulo) foi para 3, com picos de 5.”

 

AMERICAN IDOL

“Em busca da fama ?made in USA?”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/10/03

“O canal Sony pega carona no sucesso do reality show American Idol nos Estados Unidos e estréia o programa em sua grade de programação aqui no Brasil. A partir de amanhã, o telespectador brasileiro poderá assistir à segunda temporada da atração, considerada fenômeno de audiência, toda segunda-feira e domingo, às 21 horas. E um detalhe: os episódios serão sempre inéditos, sem reprises. Na segunda, o programa terá uma hora e mostrará a apresentação dos participantes. Já no domingo, será a vez da eliminatória da semana. Antes da estréia, amanhã, o canal recheia o Estilo Sony Especial com informações sobre o reality show.

American Idol: The Search for a Superstar (American Idol: À Procura de Uma Estrela) é diferente do que já foi apresentado no gênero por aqui. Mas pode-se dizer que é uma mistura de Popstars (SBT) com Fama (Globo). Serão 34 episódios e a previsão é que a final seja exibida em 1.? de fevereiro de 2004.

Nos Estados Unidos, a segunda temporada foi ao ar de janeiro a maio deste ano e teve uma audiência maior que a primeira edição, exibida em 2001: 38 milhões de espectadores nos 4 meses de programa. Lá, o reality show foi exibido na Fox (canal aberto).

Ingredientes – O apresentador e os jurados são atrações à parte. O comando do programa é de Ryan Seacrest, conhecido por seu programa em uma rádio de Los Angeles. Ele dá um ritmo próprio e interessante à atração. Já o júri é formado pela cantora e coreógrafa Paula Abdul, o produtor musical Randy Jackson e o executivo de gravadora Simon Cowell. O trio dá um toque ?especial? e engraçado, com comentários e críticas bastante diretas e apimentadas, o que pode chocar alguns espectadores mais sensíveis.”