Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Renato Cruz

COMUNICAÇÃO MULTIMÍDIA

"Presidente da Anatel faz crítica a TVs que questionam serviço SCM", copyright O Estado de S. Paulo, 29/11/01

"Para o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Renato Navarro Guerreiro, ?não faz o menor sentido? as emissoras de televisão questionarem o regulamento do Serviço de Comunicação Multimídia (SCM). A agência obteve na semana passada uma vitória na Justiça sobre as empresas de TV.

A juíza Lília Neiva, da 4.? Vara da Justiça Federal de Brasília, recusou a ação cautelar apresentada pela TV Cidade, operadora de TV paga, e pelo SBT contra as regras do SCM. Segundo a juíza, não há prejuízo concreto para as requerentes: ?A princípio, o serviço regulamentado pela resolução refere-se apenas à oferta de capacidade de transmissão, não englobando divulgação de conteúdo, o qual deve ser objeto de autorização pertinente?.

De acordo com Guerreiro, o artigo 67 do regulamento, questionado pelas emissoras de TV, tem como objetivo protegê-las. ?Sem ele, ficaria valendo tudo?, argumenta. Diz o artigo: ?Na prestação do SCM é permitido o fornecimento de sinais de vídeo e áudio, de forma eventual, mediante contrato ou pagamento por evento?.

As empresas de TV temem que o SCM permita às operadoras de telecomunicações oferecer serviços como vídeo sob demanda, em que o cliente escolhe o programa que quer assistir e paga por ele. O presidente da Anatel diz que o artigo permite às operadoras transportarem imagem e áudio para as próprias empresas de TV. ?Como faz hoje a Embratel.?

Guerreiro participou na noite de segunda-feira de evento realizado pelo Instituto Sérgio Motta, em São Paulo."

JORNALISMO ECONÔMICO EM XEQUE

"O jornalismo econômico", copyright Veja, 5/12/01

"’Sete anos e meio depois do fim da hiperinflação, parece evidente que o jornalismo econômico se transformou, como seu próprio objeto’

A partir de meados dos anos 1980 o Brasil viveu uma hiperinflação, uma das mais graves e monumentais patologias econômicas que se conhecem, uma insensatez comparável, em virulência e em vítimas inocentes, a uma epidemia ou a uma guerra civil. Mas, independentemente das responsabilidades, jamais apuradas em CPI, pelo Ministério Público ou pelo Tribunal de Contas, deve ser óbvio que a híper foi, como não poderia deixar de ser, a maior de todas as notícias neste país durante os oito anos (1986-1994) em que vigorou. Nada teria tamanha importância ou afetaria tanto a cada um de nós em todos os planos da existência, do aluguel ao supermercado, passando pelo domínio da ética na política. Se um país inteiro se vê entregue a essa forma terminal de ‘alcoolismo monetário’, o jornalismo econômico não poderia mesmo tratar de outra coisa.

Assim sendo, a cobertura desse monstruoso fenômeno transbordou para o noticiário geral, roubando a cena dos crimes hediondos, das celebridades, dos grandes rituais e movimentos da política. Todo dia, em poucas horas, a voragem da inflação poderia destruir fortunas, poupanças de uma vida inteira, sem falar na enorme ferida simbólica representada pelo cotidiano aviltamento da moeda, um símbolo nacional como a bandeira e o hino.

A híper passou, então, a dominar o noticiário, como se fosse um crime cotidiano, inesgotável em seus detalhes, superlativo em seu desenrolar. Eram dezenas de índices, quase todos publicados semanalmente, cada qual ocupando nunca menos de meia página, com seus heróis e vilões, o chuchu, a batata-inglesa, o corte de cabelo ou o lingote de aço. O léxico da mídia pareceu se ajustar ao que se passava de forma natural, prestando o serviço de tornar inteligível um fenômeno de outra maneira impossível de apreender. Toda grandeza econômica com sinal negativo, como as contas do governo, passava a ser um ‘rombo’ ou ‘buraco’, diante do qual nada era capaz de simplesmente subir, mas sempre ‘disparar’, ‘estourar’ ou ‘explodir’, como ocorria com a base monetária todo santo mês. Em contrapartida, nada simplesmente sofria uma queda, mas ‘despencava’ ou ‘desabava’. É verdade que essa terminologia vinha caindo em desuso, mas, depois das crises da Ásia e da Rússia e do regime de flutuação cambial, o velho dicionário foi redescoberto, esperemos que apenas temporariamente.

A esta altura, a vida econômica já deveria estar livre de sustos, as políticas públicas não mereceriam a designação de ‘pacotes’ e também deveríamos estar livres de iniciativas descritas como ‘tunga’ ou ‘confisco’. Ou, pelo menos, assim esperamos.

O otimismo, por sua vez, apenas cabia dentro de vocábulos como ‘enxurrada’ ou ‘farra’, pois nunca podia ser pequeno, mas sempre era fugaz, tendo em vista, em bom economês, sua inevitável insustentabilidade. A híper tornou a melancolia e o ressentimento embocaduras naturais para a imprensa, e nesse contexto era evidente o desassombro nas ‘crises’, ‘corridas’ ou ‘pânicos’. A beira do precipício era a regra. As coisas complexas da economia, com espantosa facilidade, eram pejorativamente tratadas como ‘negociatas’, como se nada que não fosse simples pudesse ser honesto e sempre estivéssemos a um passo do ‘escândalo’. Mesmo estatísticas inocentes, quando envolviam alguma explicação ou revisão, entravam no terreno do ‘expurgo’ ou da ‘maquiagem’. A linguagem era cruel e presunçosa, mas não há como negar que a própria híper era um insulto e merecia esse palavreado.

O problema era que, com esse vocabulário superlativo e reducionista, ficava difícil explicar o Brasil pós-1994. Sete anos e meio depois do fim da híper, parece evidente que o jornalismo econômico se transformou, como seu próprio objeto. A cobertura ficou mais técnica e analítica, mas jornalistas não devem virar economistas. Basta que ouçam, de preferência, os dois lados, quando forem apenas dois, uma vez que, como aprendi recentemente com um experiente jornalista, a verdade dos fatos nada mais é que um equilíbrio entre versões."

COPA DO MUNDO

"Acordo sobre direitos de TV vira ?novela?", copyright O Estado de S. Paulo, 29/11/01

"A Rede Globo quer vender. A Rede Record, comprar. Mas o negócio continua emperrado

Das telas para a vida real. Rede Globo e Rede Record de Televisão são os protagonistas de uma verdadeira ?novela?. O roteiro é a negociação entre as duas sobre a transmissão da Copa do Mundo da Coréia e do Japão. De um lado a emissora carioca, detentora dos direitos pelos quais pagou US$ 221 milhões.

Do outro, os paulistas, que já se manifestam interessados no produto.

Como ponto central do drama está o Comitê Organizador do Mundial. O órgão estipulou uma data limite (amanhã) para que todos os acordos de transmissão fossem fechados, já que os organizadores necessitam saber, com antecedência, quantas emissoras e profissionais estarão envolvidos na cobertura do evento.

De acordo com esses dados, será montado o Centro de Imprensa.

Nos bastidores, as emissoras não se entendem em relação ao preço. Enquanto a Globo pede US$ 46 millhões (a primeira oferta foi de US$ 75 milhões, depois caiu para US$ 60 milhões), a Record aguarda a conclusão de uma pesquisa de mercado para fazer uma proposta definitiva, o que deve ocorrer na próxima semana. ?Vamos enquadrar nossa oferta dentro das perspectivas que teremos de retorno?, explicou o diretor de Esportes da Record, Eduardo Zebini. Ele não vê dificuldade para fazer o acerto após o prazo estipulado pelo Comitê.

?Nesse caso, apenas teríamos alguns problemas para nos instalarmos por lá.?

Quem não vê muito motivo para otimismo é o empresário J. Hawilla, dono da Traffic, agência de marketing esportivo. Ele foi um dos que receberam uma proposta da Globo, mas optou por rechaçá-la. ?O mercado hoje está complicado por uma série de fatores, como o terrorismo e a instabilidade do dólar?, afirmou.

Acordo – Ontem, a Central Globo de Comunicação confirmou que a emissora chegou a um acerto com 16 emissoras de rádio. Para isso, teve de reduzir o valor pedido de US$ 3 milhões para US$ 1 milhão (US$ 62,5 mil para cada). A diferença será completada por meio da cessão de espaços publicitário nas transmissões."

RECORD & TRAFFIC

"Record negocia parceria com Traffic", copyright O Estado de S. Paulo, 29/11/01

"Emissora pode formar aliança para comprar campeonatos de futebol, entre eles, a Copa

A Record volta a olhar para os gramados, e não volta sozinha. Tentando retomar espaço nas transmissões de futebol, a emissora está negociando uma parceria com a Traffic, empresa de marketing esportivo, antiga parceira da Band.

Corre no mercado que a parceira entre Record e Traffic envolveria a compra de vários eventos esportivos, mais especificamente, campeonatos de futebol. Os alvos principais da emissora do bispo Macedo seriam: Copa do Mundo, Campeonatos Brasileiro e Paulista. A Globo, que possui exclusividade dos três eventos, também estaria disposta a negociar .

Se fechada, a parceira pode facilitar a compra desses eventos, dividindo os custos. Seria também uma forma de a Globo desovar os jogos sem espaço em sua programação.

A Record já mostrou interesse em transmitir a Copa, mas considera o preço cobrado pela Globo ?impagável?. A emissora dos Marinhos anunciou que estava disposta a repassar a transmissão do evento pela bagatela de US$ 60 milhões. Na terça, a rede colocou um desconto de 40% em cima desse preço.

RedeTV!, Band e SBT tinham descartado a transmissão da Copa até ontem."