Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Renato Cruz

INTERNET

"Milionários confirmam aposta na internet", copyright O Estado de S. Paulo, 22/09/02

"Quem disse que a crise acabou com as pontocom? Empreendedores que venderam suas empresas no momento certo e conseguiram se tornar milionários voltam a investir na internet. Este é o caso, por exemplo, de Aleksandar Mandic. Filho de imigrantes iugoslavos, ele trabalhava na Siemens em 1990 quando montou, em sua casa, a primeira Bulletin Board System (BBS) brasileira e a batizou com seu nome, Mandic. ?Começou como um hobby e tomou forma de empresa?, lembra o paulistano de 48 anos.

Para quem não conheceu, as BBS eram serviços em que as pessoas podiam se conectar, via telefone, a um servidor, para participar de listas de discussão e trocar mensagens de correio eletrônico, entre outras atividades.

Era um mundo eletrônico formado a princípio somente de texto, com velocidades baixas de comunicação, que, de certa forma, preparou o caminho para a revolução da internet.

Em 1995, a BBS Mandic tinha 10 mil usuários quando transformou-se em provedor. Quando foi vendido para a operadora argentina de telecomunicações Impsat, em 1999, tinha 110 mil clientes.

O segundo projeto de Mandic, desta vez com outros sócios, foi o provedor de acesso grátis iG. Apesar de continuar como acionista, ele deixou a vice-presidência da empresa no final do ano passado para montar uma nova empresa que leva o seu nome. A nova Mandic oferece serviço de email com qualidade diferenciada. O slogan, ?A internet em pessoa?, foi criado pelo amigo Nizan Guanaes, que, antes de se engajar na campanha do candidato José Serra, ocupou a presidência do iG.

?O iG já tinha uma estrutura, tornou-se uma empresa grande?, explica Mandic, justificando sua saída. ?Gosto de emoções fortes.? Mesmo assim, diz que parou de participar de provas amadoras de autobilismo.

Estar à frente da própria empresa, porém, dá a Mandic a liberdade de trabalhar de calção, camiseta e tênis. E de decidir qual rumo deve tomar, sem ter que consultar outros sócios. Sobre a estimativa de que seu patrimônio soma US$ 10 milhões, ele afirma não saber de onde surgiu. ?Nunca falei quanto tenho. Você diria quanto ganha??

Busca – O serviço de busca Cadê pertence hoje ao Yahoo! Brasil. E o Yahoo foi uma das fontes de inspiração para sua criação, em 1995, pelos engenheiros Gustavo Viberti e Fábio Oliveira, que se conheceram quando cursaram a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Nascido há 36 anos na Argentina, Viberti vive no Rio desde criança. Ele conta que o primeiro contrato internacional de publicidade do Cadê veio em 1996, mesmo ano em que a empresa equilibrou as contas. ?A Amazon decidiu anunciar em seus 10 maiores mercados no mundo e o Brasil era o sétimo.?

Quando chegou o primeiro pagamento pelo correio – um cheque de US$ 5 mil assinado pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos -, eles pensaram até em não sacá-lo e pendurá-lo enquadrado na parede, como um amuleto. ?Como precisávamos do dinheiro, acabamos fazendo isso com uma xerox.?

Em 1998, o Cadê começou a procurar investidores e acabaram batendo às portas da StarMedia, portal latino-americano com sede nos Estados Unidos. ?O interesse da StarMedia era comprar, o que para nós foi difícil.? Os fundadores venderam o Cadê e ficaram até o começo de 2000 na empresa.

Depois disso, Viberti participou de um projeto para criar um fundo de investimento em internet. em parceria com o Bank Of America. A idéia era levantar cerca US$ 100 milhões, mas o projeto bateu de frente com a crise do Nasdaq, que começou em abril de 2000. ?Só conseguimos entre 20% a 30% do total.? E o fundo foi desfeito.

Hoje, os principais investimentos de Viberti são o centro de dados Dominal, em parceria com Fábio Oliveira, e o Conteúdo Online, que fornece notícias para sites de empresas. O presidente da Conteúdo Online é seu irmão, o jornalista Fernando Viberti.

Foco – Uma característica comum dos novos empreendimentos desses pioneiros da internet é o foco em públicos específicos. Os projetos de massa surgidos na fase da euforia ficaram para trás. ?O acesso nas classes A e B já foi massificado?, explica o diretor de serviços de análise do Ibope eRatings, Marcelo Coutinho. ?As oportunidades estão nos nichos.?

A WebForce, que criou o serviço de homepage grátis hpG, não é exceção. Hoje, seu principal projeto de internet é o bpG, que permitirá a pequenas empresas venderem pela rede mundial. Com 50% de participação do iG, o bpG deve lançar seu produto no próximo mês, conta Caio Paes de Andrade, de 38 anos, diretor da WebForce.

Em um ano e meio de operação, o hpG havia conquistado o terceiro lugar entre os sites mais visitados da internet brasileira e foi comprado pelo iG, em julho de 2001. Com a aquisição, o iG tornou-se o segundo mais visitado. Além de projetos de internet, a WebForce investe também na imobiliária Maber, e em uma empresa que constrói imagens eletrônicas tridimensionais, a Mop Digital."

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"Depois da Zipnet, Moraes investe em mídia e moda", copyright O Estado de S. Paulo, 22/09/02

"Depois de vender o controle do provedor Zipnet por US$ 365 milhões para a Portugal Telecom em fevereiro de 2000, dois meses antes do estouro da bolha, Marcos de Moraes deixou de investir na internet. ?Ele consegue vender suas empresas no momento certo, quando o mercado está no auge?, diz um executivo que já negociou com Moraes. ?Poucos meses depois, a situação vira e a companhia passa a valer uma fração do valor pago.?

Filho do ex-rei da soja, Olacyr de Moraes, o executivo teve sucesso antes mesmo da criação do Zipnet. Em meados da década de 90, ele criou e vendeu a operadora de paging Access, também pouco antes de o mercado entrar em crise.

A venda do Zipnet foi um dos maiores negócios da internet brasileira.

O principal foco dos investimentos de Moraes hoje está no mercado de moda nos Estados Unidos. Ele controla, por meio de sua holding B4, a Language, de Nova York. Criada em 1998 pelo casal de artistas brasileiros Lipe Medeiros e Ana Abdul, a loja trabalha com marcas como Chloe, Stella McCartney, Pucci, Lucien Pellat-Finet e Philip Treacy. Sua coleção com marca própria encontra-se à venda em cerca de 50 lojas de departamento nos Estados Unidos.

O criador do Zipnet também tem 28% da Editora Trip, que publica, além da revista com o mesmo nome, a TPM, a Daslu, a Expand e a Gol.

A Zipnet começou em 1996, como uma joint venture com o provedor americano Netcom, e chamava-se Internetcom. No ano seguinte, quando a Netcom foi vendida para a ICG Communications, Moraes assumiu o controle da operação brasileira e redirecionou o negócio, que até então tinha como foco o mercado corporativo, para o público de massa. O executivo transformou então a Internetcom na Zipnet e criou o Zipmail, um serviço gratuito de correio eletrônico voltado para o público jovem, que, além de audiência, atraiu a atenção dos investidores.

Literatura – Jack London prepara seu novo romance. É claro que não se trata do homônimo americano, autor de livros como Caninos Brancos, que viveu entre 1876 e 1916. Mas do brasileiro que, em 1995, criou a livraria virtual Booknet, depois de ter visitado no ano anterior a iniciante Amazon, nos Estados Unidos. Em junho de 1999, o executivo vendeu sua empresa para a GP Investimentos, que transformou a Booknet no Submarino, o maior varejista da internet brasileira.

O London brasileiro faz uma correção. Na verdade, o americano não é homônimo, pois seu nome real era John Griffith. ?Eu sou o único?, explica, ressaltando que London é o nome da sua família. ?Não sou um Jack London da Silva ou um Jack London Pereira.? Ele espera publicar seu segundo romance no ano que vem. O primeiro foi O Grande Pã Morreu, de 1995. Jack London também é autor de dois livros sobre internet.

Ao criar a Booknet, ele já conhecia o mercado livreiro, pois havia ocupado a diretoria da José Olympio, quando a editora era a maior do Brasil. ?Tinha os contatos para fazer os negócios andarem.? Esta experiência faltou para um de seus empreendimentos depois da Booknet, o site de leilões Valeu. ?O projeto não foi bem. Superestimei meu conhecimento na área.? Além disso, uma fonte de problemas foi a falta de tradição no País de negócios diretos entre consumidores.

Outro projeto de Jack London, depois da Booknet, foi a Tix, que
vendia entradas para espetáculos. Entre outros, para o Rock
in Rio. O executivo, de 53 anos, considera a Tix uma experiência
de sucesso. Ele deixou a empresa no começo deste ano e hoje
ocupa a presidência do conselho da IdeiasNet, única
pontocom brasileira que conseguiu abrir o capital. A IdeiasNet é
uma holding que investe em 12 projetos de internet, e tem entre
seus sócios o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES)."

 

ENTREVISTA / MARCELO TAS

"Para Tas, os bons contadores de história farão a diferença num mundo high tech", copyright O Estado de S. Paulo, 22/09/02

"Há quatro anos à frente do Vitrine – ?quarta, 10 e meia da noite?, como ele diz -, na TV Cultura, Marcelo Tas acredita que finalmente descobriu o ovo de Colombo: óbvio, mas difícil de realizar, que é alcançar a participação ativa do telespectador no programa. Falamos aqui de um produto que, só pelo tema abordado – a mídia -, já é capaz de deter diante da TV um telespectador altamente qualificado. Não por sua faixa social ou de escolaridade, mas pela atenção dispensada.

Tas faz jus ao produto que comanda. É bom de comunicação, o rapaz. Emenda um raciocínio no outro, com começo, meio e fim, sem perder o fio de outras meadas. A seguir, alguns trechos da nossa conversa.

Estado – O ?Vitrine? sofreu quando tentou falar só de internet. O que mudou?

Marcelo Tas – Acho que, no início, o assunto era novo demais para todo mundo e parecia um bicho-de-sete-cabeças. Achei natural as críticas porque foi o primeiro programa de TV aberta a falar de internet, mas, hoje, o Jornal Nacional fala de internet, o Fantástico fala. E o Vitrine continua sendo um programa que traz assuntos em que ninguém tocou. O blog (diário) foi um assunto que a gente trouxe à tona. Foi bem legal o barulhão que isso causou, culminando com a renúncia do ACM, quando a gente deu o blog que tinha mostrado que o discurso de renúncia do ACM era um plágio.

Estado – A aceitação à discussão do tema é maior hoje?

Tas – Esse eco vai ser cada vez mais próximo. Agora, muitas coisas que a gente começou a falar há quatro anos hoje fazem sentido para um número maior de pessoas. O que eu aprendi muito foi a traduzir esses conteúdos de um jeito muito mais popular. A chegada do Gabriel Priolli (diretor) me deu muita liberdade para bolar a minha performance como apresentador. Ele veio exatamente para essa troca.

Estado – E olhe que o boom da internet sofreu um certo baque.

Tas – Mas que de certa forma consolidou algumas coisas. Há hoje a obrigação de ser criativo, não basta só ter um bom discurso de marketing e enganar um monte de gente disposta a ganhar um supersalário. É cada vez mais difícil enganar um investidor. Isso abre portas a quem tem criatividade, a quem realmente rala.

Estado – Onde você acha que começou essa aproximação?

Tas – O site do Vitrine era um site normal de programa de TV. No começo do ano, a gente o transformou num blog, um diário da equipe que faz o programa. A qualquer momento, a gente entra lá e conta o que está fazendo. Imediatamente, as pessoas começam a dar palpites.

Estado – Mas você se dá ao luxo de antecipar os temas do programa no site porque não tem um concorrente direto.

Tas – Essa história do discurso do ACM, por exemplo, a gente segurou, não pôs no ar. Agora, eu acho que essa primazia de quem falou o quê primeiro, cada vez faz menos sentido. Isso é geral, não é só no jornalismo. O que interessa, cada vez mais para o telespectador, é como ele pode processar a informação.

Estado – Em transmissões ao vivo, a ânsia de informar primeiro provoca uma série de desencontros…

Tas – As informações hoje são desencontradas. A razão é simples: o volume é astronômico. Hoje, a virtude está em saber escolher a informação e saber contar. Todos os comunicadores vão ter de virar bons contadores de história, o que, até bem pouco tempo, era uma coisa vista com preconceito, do tipo ?eu não posso me confundir com artista?.

Estado – Seria, por exemplo, a diferença entre um mediador mais técnico e o Boris Casoy num debate?

Tas – O Boris é o exemplo do que eu vejo como uma tendência da comunicação. O Boris conseguiu fazer o melhor debate entre os candidatos porque ele usou de arte, algo que está ligado à dramaturgia, não ao raciocínio, a uma coisa lógica. Teve de ser meio Groucho Marx, Woody Allen (?Eu não quis dizer isso?, ?eu não sou um magistrado…?, ?muito obrigado?). Ele soube jogar usando de sua intuição.

Estado – Você tem uma empostação de voz no ar. É sempre um personagem como presentador?

Tas – Qualquer pessoa que aparece na televisão é um personagem de si próprio.

Estado – Você conhece a Hebe Camargo fora do ar? Ela é exatamente a mesma pessoa. Será que ela incorporou o personagem?

Tas – A Hebe é uma CNN dela mesma, 24 horas. Mas na televisão, obrigatoriamente, você tem outro tom, tem outro tempo, que não é o tempo de vida, é um tempo artificial. Tem gente que tem medo de falar isso. Eu não tenho e a minha grande fascinação com a televisão é que ela é artificial, ela é um lugar onde se manipula a realidade. Isso, para mim, é fascinante e eu gosto de deixar isso muito claro. Eu vivo mostrando como as coisas são feitas, acho legal mostrar o avesso do pano.

Estado – Quem vê o ?Vitrine??

Tas – Um dia, um (telespectador) observou que o papel que eu estava usando era reciclado. É legal saber que tem telespectadores com esse grau de atenção no programa. Esse cara é totalmente diferente de um telespectador de um programa de pegadinhas ou de um programa policial que mostra, às 7 da noite, motoqueiro sendo atropelado e que deixa a TV ligada, à toa. A gente tem retorno de moleques do interior ou do norte de Minas Gerais, do Rio Grande do Norte. Cada vez mais o poder de alteração do produto que está sendo consumido está nas mãos de quem está recebendo, não de quem está fazendo. Isso é uma característica deste momento que a gente está vivendo.

Estado – É uma inversão de papéis?

Tas – O que me dá a sensação é de que as coisas estão cada vez mais transparentes. Por isso é que me fascina a manipulação, que todo mundo associa com mentira. Eu acho o contrário: a artificialidade, a tecnologia, a instantaneidade, tudo isso pode estar a serviço, cada vez mais, da transparência. O discurso do ACM é um exemplo, o caso do Tim Lopes é outro. Antes, era muito difícil descobrir um plágio. Hoje, você descobre fácil. Isso é transparência. Uma outra coisa que significa transparência, que está além da mídia, é o consumo. O consumidor, hoje, escolhe a cor do carro e o preço tem de ser justo, porque senão ele checa rapidamente os da concorrência. Aquela pernada que as nossas tias faziam pelo centro da cidade para achar a batedeira mais barata, hoje se faz num clique.

Estado – Isso implica mudança de conceitos?

Tas – Se tudo está transparente, o que vai ter de mudar? O conceito, como ele vende, o que ele dá de vantagem, se ele é confiável. Então, a credibilidade passa a valer muito mais. E aí a gente volta para o Boris Casoy, que tem credibilidade para dizer ?eu sei se devo dar ou não o direito de resposta?. E você compra isso, mais do que se for um cara frio. O caminho é ficar mais transparente e é mais intuitivo. O Boris foi justo, justamente porque teve a generosidade de ceder mais, muitas vezes, o direito de resposta, a ponto de esvaziar o joguinho daqueles políticos. Todos eles estavam ali para aparecer e ele mostrou isso. E o telespectador não é burro

Estado – Quantos e-mails vocês contabilizam por semana?

Tas – Já não fazemos mais essa conta porque a qualidade desse retorno é o que mais tem nos impressionado. Eu estava em Manaus, por exemplo, e fiquei impressionado com o número de cyber cafés que há em Manaus. O preço é que me impressionou mais: R$ 2 a hora, mais barato do que se conectar à internet de casa. Entrei em um desses e estava lá: banda larga, uns 20 computadores e um garoto ali, cuidando de tudo sozinho. Entrei numa cabine livre, entrei no blog do Vitrine e fiz um comentário: que havia mais cyber cafés ali do que em Amsterdã e que custava mais barato que um picolé de cupuaçu. E botei no ar. Depois fui responder a alguns e-mails, voltei ao blog do Vitrine e já havia uns cinco comentários sobre o que eu escrevi. E você vê quem escreve, a hora que escreve e são comentários muito sofisticados. Na hora que eu fui pagar os R$ 2, o garoto que cuidava do cyber me diz assim: ?tá legal, viu Marcelo Tas, mas um picolé de cupuaçu custa menos de R$ 2? . Eu fiquei chocado. Ele veio me dizer que via o Vitrine toda quarta.

Estado – E não é incrível que o programa registre só 2 pontos no Ibope?

Tas – Eu lhe respondo: 1 ponto é uma audiência fabulosa. Essa é uma audiência extremamente alta para uma TV pública. Em qualquer país do mundo que você disser que uma TV pública deu 1 ponto de audiência, que signifique isso (47,7 mil domicílios só em São Paulo), vão achar o máximo.

Estado – Talvez a gente esteja meio viciado nesse padrão de audiência da Globo e tudo o que não dá dois dígitos pode ser baixo.

Tas – Mas é bom a gente começar a fazer um tratamento de desintoxicação. A atenção está cada vez mais valiosa porque a gente tem várias telas para ficar olhando – é televisão, computador, celular, que já tem texto, rádio com tela. A qualidade da atenção de um cara para um programa da TV Cultura é diferente da qualidade de um programa do meio da tarde, em que as pessoas ficam lendo revista de fofoca, geralmente com o aspirador de pó ligado.

Estado – Você assiste à TV?

Tas – Assisto a tudo, sou totalmente doente. Mas com atenção mesmo, assisto a muito pouco. Eu dou uma escaneada, passo os olhos em tudo. Gravo muito televisão, sou um rapaz antigo. E vejo tudo em fast, eu adoro ver TV assim. Por exemplo, o debate da Record, eu gravei e vi em fast. O debate teve 2 horas. Não tenho 2 horas para ficar na frente da TV. Aliás, eu não fico 2 horas seguidas na frente da TV para nada. E tem programa que, se eu não gravasse, eu não veria inteiro. O Fantástico, por exemplo, eu não perco, mas nunca o vejo em tempo real. Eu pulo o que não quero ver e o que eu já vi. Vejo tudo em 20 minutos.

Estado – Você aprende a ler gestos para acionar o ?play? quando quer?

Tas – Você começa a virar um telespectador mais ativo mesmo. A tecnologia vai empurrando a gente cada vez mais para o que você quer ver.

Estado – Você aposta que a TV digital vai provocar mudanças de comportamento?

Tas – A mudança já é enorme. Eu tenho uma filha de 13 anos. Televisão, para ela, é uma coisa antiga que o meu pai assiste. Não é uma atração tão legal. Ela assiste a Friends e a Os Normais. E ela sabe a hora do programa. Ela não fica como adulto – que adulto é que é bobo, que senta como uma batata cozida e, qualquer coisa que estiver passando, ele fica ali, uma hora e meia vendo. Criança, não. Saiu uma pesquisa maravilhosa de TV a cabo: quais são os telespectadores mais assíduos do cabo? Tinham lá dois ou três programas, muito bem determinados. Eles sabem que no Cartoon Network, às 9 da noite, tem Laboratório de Dexter. Então, ele liga a TV às 5 para as 9. Aí vem adulto falar na geração que fica zapeando. Quem zapeia são os velhos. Os mais jovens são muito educados em relação ao que querem."