Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Reportagem distorcida

THE WASHINGTON POST

Em 28/11, o Washington Post publicou uma matéria na primeira página afirmando que alguns especialistas criticavam o processo de seleção dos inspetores de armas enviados pela ONU ao Iraque. As alegações de que os profissionais convocados não teriam experiência nem formação científica para a missão, e de que o Departamento de Estado e a ONU não checaram o passado dessas pessoas, seriam confirmadas pelo exemplo dado pelo repórter James Grimaldi: como os nomes dos inspetores não são revelados, o Post descobriu na internet o currículo de Harvey McGeorge, de 53 anos, que declara não só ter sido treinado para o cargo pela ONU, mas também ser o co-fundador de um "grupo pansexual sadomasoquista" em Washington e ser ex-presidente do conselho da Coalizão Nacional por Liberdade Sexual.

Michael Getler [8/12/02] conta que alguns leitores argumentaram que a atividade sexual de McGeorge é irrelevante para o desempenho de seu trabalho, e acusaram a matéria de tentar desacreditá-lo. Eric Umansky, da revista Slate, chamou a matéria de "gratuita e barata": "O Post deveria se desculpar… e levar 40 chibatadas". A editora-geral Marilyn Thompson afirma que a preferência sexual de McGeorge não é o problema. "Começamos a investigar como alguém se qualifica para ser inspetor de armas da ONU, que tipo de treinamento especializado ele tem que fazer e que tipo de instrução cultural e política eles devem ter."

Para o ombudsman, essa reportagem investigativa está fora dos padrões do Post, pois se concentrou na história de apenas um inspetor (são mais de 100) e fundamenta-se na acusação de um ex-inspetor de armas anônimo, cuja citação é ambígua. A história pode ter contribuído ao revelar que os currículos dos candidatos não foram checados, mas a relevância dada às atividades sexuais de McGeorge parece ter distorcido a intenção da matéria.