Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Resta um consolo

MÍDIA & GOVERNO

Chico Bruno (*)

Desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenho feito considerações, neste Observatório, sobre a comunicação social do governo federal. Num dos artigos, externei a preocupação de que se passe a confundir marketing político com a comunicação oficial.

Em outro artigo destaquei a importância da entrevista diária com os jornalistas credenciados em Palácio, o que até algum tempo atrás era pomposamente chamado de "briefing" de imprensa. Demonstrei certa preocupação com o vazamento de informações para determinados meios de comunicação em detrimento de outros. Citei, como exemplo, a exclusividade da informação aos telejornais da Rede Globo.

Enfim, teci muitas considerações sobre a comunicação social do atual governo. Em alguns momentos, atrevi-me a propor caminhos que considero viáveis para a boa convivência entre colegas que se encontram em lados opostos do balcão da informação. Pelo teor das declarações do jornalista Bernardo Kucinski, assessor especial do ministro Luiz Gushiken (Secom), ao regressar de viagem a Londres e Washington, onde esteve para conhecer os mecanismos de comunicação dos governos da Inglaterra e dos Estados Unidos com a opinião pública e seu relacionamento com a imprensa, constata-se que as dele são preocupações idênticas.

O assessor especial, jornalista Bernardo Kucinski, afirma à Folha que as viagens reforçaram o que ele já sabia, "que o padrão de comunicação do governo brasileiro é ruim e é preciso pôr ordem na casa". O assessor reconhece que a informação precisa ser transmitida de forma institucional, e não de forma privilegiada; que é preciso transmitir a notícia a todos os veículos de comunicação em entrevistas diárias, e não em conversa exclusiva com alguns ou com apenas um. Kucinski prega o fim do vazamento de informações, prática corriqueira na comunicação social oficial, que faz com que existam veículos de comunicação de primeira e segunda classe.

Viagem infrutífera

Outro ponto fundamental, segundo ele, é a unificação do comando da comunicação do governo. Hoje há três: a Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, a Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência e outra em torno do porta voz do presidente. Para Kucinski, o ideal é que as três estruturas tenham uma só coordenação.

Infelizmente, ao terminar de ler a matéria, lembrei-me de outra, publicada na mesma Folha de S. Paulo com o ministro Luiz Gushiken, na qual ele afirma que pretende entregar a coordenação da comunicação do governo ao publicitário Duda Mendonça, por achar que o governo está se comunicando mal por falta desse comando único. Pensam igual o ministro e o assessor, apenas com idéias opostas para sanar o problema.

Em face ao exposto chega-se à seguinte conclusão: o ministro quer fazer chegar a informação à opinião pública pela propaganda, coisa que funciona muito bem em temporada eleitoral. Já o assessor prefere usar os meios de comunicação, o que é muito mais eficiente na administração pública.

Ao que parece, a viagem do assessor especial valeu apenas para reforçar o que ele já sabia, mas será infrutífera, pelo menos no que toca à prática. Resta um consolo: este escriba não está pregando em vão.

(*) Jornalista

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