Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Retorno sem destaque

VENEZUELA

No sábado, 13 de abril, milhares de manifestantes cercaram o palácio presidencial na Venezuela, permitindo a volta de Hugo Chávez ao cargo, dois dias após ter sido deposto. A história era importante, mas a mídia local, que cobriu intensamente a queda do presidente, não deu bola: os canais de TV passaram o dia exibindo velhos filmes americanos e desenhos animados, e os jornais não saíram no dia seguinte.

A razão do silêncio: medo do ataque de partidários de Chávez, furiosos com a imprensa, inimiga declarada do presidente. "Não podíamos sair às ruas por causa dos saques e tiroteios", alegou Aymara Lorenzo, repórter de TV. "Como poderia sair para cobrir quando havia um ódio profundo, fomentado pelo presidente, contra nós?"

Mas assim que as coisas acalmaram, relata Juan Forero [The New York Times, 23/4/02], profissionais expressaram dúvidas quanto à falta de cobertura. O colunista Ibsen Martinez, que já escreveu a favor de Chávez no passado, disse que vai encerrar sua coluna no El Nacional por causa da aversão aos colegas, responsáveis pelo "apagão diabólico" que deixou o país desinformado sobre o que estava acontecendo.

"Talvez tenhamos ultrapassado os limites e sido muito ativos, em vez de informativos", admitiu Alberto Federico Ravell, diretor de notícias do canal Globovisión. Na mesma semana, ele apareceu na TV para pedir perdão a qualquer telespectador "que sinta que falhamos naquele dia". O mea-culpa fez Chávez abrandar o discurso e suplicar aos partidários que não agridam repórteres ? no dia 11, o fotógrafo Jorge Tortoza foi baleado e morreu, cobrindo as manifestações ? mas a discórdia continua: na Assembléia Nacional, aliados do presidente prometem investigar o papel das estações de TV no golpe.

ITÁLIA

O primeiro-ministro italiano e magnata da mídia Silvio Berlusconi acusou, na sexta-feira (19/4), dois jornalistas e um comediante de "uso criminoso" da emissora pública RAI. Em viagem à Bulgária, ele afirmou que o comentarista Enzo Biagi, o apresentador Michele Santoro e o comediante Daniele Luttazzi faziam uso indevido da rede às custas dos contribuintes. Se eles se corrigissem, não teria nada contra sua permanência, garantiu Berlusconi. "Mas já que não mudam…", disse, dando de ombros.

No mesmo dia, no entanto, o premiê negou que eles estivessem despedidos, e o presidente da RAI, Antonio Baldassare, confirmou que os dois jornalistas continuam na rede, sem fazer menção a Luttazzi. "Suas palavras são desejos de político e pertencem à arena política. Sempre lutei por uma RAI independente e vou continuar."

Ainda assim, o discurso causou polêmica. O jornal Il Foglio, controlado em parte pela mulher de Berlusconi, escreveu que "nada pode justificar uma ?caça as bruxas? aos jornalistas, ordenada pela voz autoritária do dono da Mediaset"; tais "comentários comprometem seriamente sua carreira política". Santoro também atacou o primeiro-ministro na mesma sexta-feira: ele abriu o programa cantando Bella Ciao, canção de combatentes do fascismo, na Segunda Guerra Mundial. Informações de Shasta Darlington [Reuters, 19/4/02] e Philip Willan [The Guardian, 20/4].