Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ricardo Boechat

“ESTOU PARA MORRER. PODEM PUBLICAR”

"O quadro Covas", copyright O Globo, 13/01/01

"A luta contra o câncer que Mário Covas enfrenta há dois anos tornou-se desigual.

Mesmo admitindo a piora de seu estado de saúde, as informações médicas de ontem mantiveram-se no limite da cautela com que o assunto deve ser abordado em público, diante do drama vivido pelo paciente e por sua família.

Entre os clínicos que assistem o governador, entretanto, os últimos exames confirmaram graves suspeitas.

Covas está com células de câncer no cérebro e também no abdômen.

A análise de seu liquor encefálico identificou células cancerosas, ao mesmo tempo em que uma tomografia mapeou alterações cerebrais compatíveis com o tumor que ele desenvolvera na bexiga há dois anos.

A pressão resultante desse fenômeno é a origem da dor de cabeça que Covas sentiu esta semana e da confusão mental que o acometeu na quarta-feira.

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Para tentar interromper tal processo, Covas poderá vir a ser medicado com radioterapia e quimioterapia no sistema nervoso central.

Em sua primeira cirurgia para extirpar um tumor, realizada em fins de 1998, Covas deveria ter feito seis ciclos de quimioterapia, mas o tratamento foi interrompido na terceira, pois ele apresentou forte arritmia cardíaca.

Se a nova série quimioterápica vier a acontecer, sua duração mínima será de 15 dias, tempo em que o governador terá que permanecer afastado de suas funções, sob internação hospitalar."

"Covas desdenha da morte anunciada", copyright Jornal do Brasil, 17/01/01

"O governador de São Paulo, Mário Covas, fez ontem um desabafo em tom sarcástico ao ser surpreendido por um batalhão de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas que acompanhavam, do lado de fora de um salão do Palácio dos Bandeirantes, a reunião que fazia com técnicos do Programa Estadual de Desestatização (PED). ”Estou para morrer. Podem publicar no jornal”, disse, amparado por assessores. Covas mal conseguia manter-se em pé. Ainda assim, tentou caminhar. Diante da dificuldade – os joelhos dobravam e os pés eram praticamente arrastados -, foi obrigado a usar uma cadeira de rodas.

Enquanto era levado, com dificuldade, para a cadeira, demonstrou ainda mais irritação. ”Estão arrancando meu braço”, reclamou. Duas versões explicariam o mau humor do governador. A primeira dá conta de que ele estaria zangado com uma entrevista do advogado Tito Costa. Nela, o advogado sugeriu a interdição de Covas. Costa, que se diz amigo da família Covas há 30 anos, confirmou ontem ao JORNAL DO BRASIL, que ”os vazios de memórias e a dificuldade de raciocínio poderiam conduzir o governador a uma incapacidade civil”.

Também circula pelos bastidores do Palácio o boato de que Covas irritou-se com o assédio e a especulação da imprensa sobre sua saúde. Desde que assumiu o governo estadual, há seis anos, ele participa semanalmente de reuniões do Programa Estadual de Desestatização. Ontem, pela primeira vez, o encontro recebeu grande número de jornalistas. O governador, porém, não atendeu aos pedidos para entrevista. Seguiu direto para o gabinete, onde reuniu-se a portas fechadas com o secretário estadual de Recursos Hídricos, Antônio Carlos de Mendes Thame, e com o procurador geral de Justiça, José Geraldo Brito Filomeno.

Covas não tem procurado esconder a sua debilidade física. Pelo contrário. Ontem, fez questão de aparecer na frente dos jornalistas, ainda que cambaleando, sem a cadeira de rodas. Chegou a percorrer os cerca de dez metros que separam a mesa onde estava até a porta de saída sem auxílio. Mas tremia muito. Acabou concordando em receber ajuda. Pouco antes de entrar na cerimônia, em cadeira de rodas, o governador já havia demonstrado irritação. ”Podem escrever que estou sendo carregado”.

Na segunda-feira, o infectologista David Uip e o oncologista Ricardo Brentani anunciaram o resultado dos exames neurológicos feitos no governador: células cancerosas atingiram a meninge – membrana que reveste o cérebro e a medula óssea. Também confirmaram metástase, o que significa que o tumor cancerígeno detectado em 1998 havia se espalhado por outros órgãos. O câncer teria se espalhado por intermédio do sistema linfático ou pela corrente sanguínea.

Fontes ligadas ao Palácio dos Bandeirantes, garantem que Covas faz todos os dias, de seu gabinete, seguidos contatos telefônicos com os médicos que o assistem. Uip, também amigo particular do governador, não confirmou os telefonemas, mas revelou que está ”dando um tempo” para a família assimilar os problema de saúde do governador."

"‘Estou para morrer’, diz governador", copyright Folha de S. Paulo, 17/01/01

"Um dia depois de divulgada a existência de células cancerígenas em sua meninge (membrana que reveste o cérebro e a medula espinhal), o governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), afirmou ontem que está para morrer.

‘‘Estou para morrer. Pode publicar no jornal’, declarou, após participar de uma reunião do PED (Programa Estadual de Desestatização), realizada no Palácio dos Bandeirantes. A frase foi pronunciada depois que o governador, ao sair do encontro, perdeu o equilíbrio e teve de ser amparado por assessores e colocado em uma cadeira de rodas.

Desde que foi submetido a uma cirurgia para a remoção de dois tumores malignos -um no reto e outro no intestino delgado-, em novembro, Covas vem apresentando dificuldades de locomoção e reclamando de dores de cabeça.

Na avaliação dos médicos que acompanham o governador, a contaminação do sistema nervoso central pelas células cancerígenas explica os dois sintomas.

Covas passou o dia ontem no palácio, em reuniões e despachos internos. Para amanhã está prevista sua presença na solenidade de posse do novo secretário da Fazenda, Fernando Dall’Acqua.

De quinta-feira a sábado, de acordo com agenda divulgada no final da tarde de ontem por sua assessoria de imprensa, Covas viaja a quatro cidades para a entrega de moradias da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) e para a inauguração de obras.

Apesar do incidente pela manhã, a assessoria de Covas informou que ele passou bem o dia e que às 18h se dirigiu à residência oficial do governo, no Horto Florestal (zona norte da capital).

A descoberta de um novo foco da doença, de acordo com o médico particular do governador, David Uip, representa a ocorrência de metástase, isto é, a contaminação de outros órgãos pelo tumor maligno de bexiga detectado em dezembro de 98.

Ainda não há definição quanto ao tratamento que será adotado. Mas, segundo oncologistas ouvidos pela Folha, os dois únicos métodos disponíveis para um caso como o do governador são a quimioterapia e a radioterapia."

"Alckmin defende permanência de Covas", copyright Folha de S. Paulo, 17/01/01

"O vice-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse ontem que não há razão para o governador Mário Covas (PSDB), 70, licenciar-se do cargo por causa da descoberta de um foco de células cancerígenas na sua meninge.

‘Não tem a menor procedência dizer que ele estaria deixando o cargo. Ele está trabalhando ‘full time’ (o tempo todo), inclusive nos finais de semana. Até compromissos externos ele está cumprindo’, afirmou o vice.

Segundo Alckmin, Covas e os médicos que o assistem não cogitam seu afastamento do governo para se dedicar exclusivamente ao combate ao câncer.

‘Nem Covas nem a equipe médica estão pensando nisso neste momento. O governador é um homem de coragem e dá valor à vida. Por isso não vai parar de trabalhar’, declarou.

O vice-governador, que também é médico, disse que está confiante na evolução da medicina para casos como o de Covas.

‘Ele é um guerreiro e está trabalhando normalmente. É um exemplo e nos dá uma lição de vida’, disse Alckmin, após representar Covas na solenidade de abertura da 28ª Couromoda, no pavilhão do Anhembi.

Segundo Alckmin, a descoberta do novo foco de câncer em Covas não mudará a rotina estabelecida no governo desde o final do ano passado, quando o governador se submeteu a uma cirurgia para a retirada de dois tumores malignos na região intestinal.

O vice disse que continuará representando o governador nos eventos externos quando ele não puder ir.

Resultados de exames realizados na sexta-feira revelaram a presença de células cancerígenas na meninge de Covas.

O presidente Fernando Henrique Cardoso, que iniciou anteontem uma viagem de dez dias à Ásia, também deu declarações de apoio ao governador (leia texto abaixo).

O presidente da República interino, Marco Maciel, que representou FHC na Couromoda, disse que não se considera habilitado para opinar sobre um eventual afastamento de Covas do cargo.

‘Estamos torcendo pelo seu restabelecimento. Estive com ele em em outra oportunidade e achei-o bem. Vamos continuar a torcer a rezar para que ele se recupere, como todos desejamos’, disse Maciel.

O ex-prefeito Paulo Maluf, adversário de Covas na eleição de 98 e que está em viagem ao exterior, divulgou nota em que afirma acreditar que a ‘força de vontade’ do governador e os ‘desígnios de Deus’ permitirão a ele superar esta ‘fase difícil’."

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