Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Roberto Maciel

O POVO

"Outra guerra ? nós somos o alvo", copyright O Povo, 30/3/03

"Há uma nova guerra se desenhando nas entrelinhas dos jornais locais. Nada de tão ameaçador quanto a ofensiva da coalização Bush/Blair contra o Iraque, mas que merece a legítima preocupação da imprensa e de seu público. Trata-se de uma guerra de informações que pode ser deflagrada com a abertura de processo disciplinar na Assembléia Legislativa para apurar ilegalidades imputadas ao deputado estadual Sérgio Benevides (PMDB). Apontado por uma CPI da Câmara Municipal de Fortaleza como gerente de um esquema que desviava verbas da merenda escolar no Município, Benevides deverá ser investigado pelo poder ao qual pertence. É preciso, pois, extrema atenção de jornalistas e de leitores com o fluxo de informações e contra-informações possível nesse episódio. Afinal, se o alvo é a opinião pública, corre o risco de ser colocada na berlinda, como em outras ocasiões, a credibilidade que deve ser justamente o patrimônio maior de quem vive da comunicação.

Quarta-feira passada, O Povo estampou a seguinte manchete: ?Merenda escolar ? Relatório pede investigação de deputado?. Tratava da decisão do deputado estadual Ivo Gomes (PPS), ouvidor da Assembléia, de requerer ao Conselho de Ética da Casa processo para apurar denúncias contra Benevides. A base da decisão do parlamentar, conforme se leu naquela edição (Editoria de Política), eram indícios de tráfico de influência detectados pela CPI na Câmara e pelo Ministério Público Estadual. O parecer de Ivo foi divulgado na manhã do dia anterior, terça-feira, no plenário da Assembléia ? ou seja, de forma absolutamente aberta. Na mesma quarta-feira, contudo, a coluna Sônia Pinheiro, no caderno Vida & Arte, trouxe uma nota intitulada ?Stress?. Eis o teor: ?Tititi circulante no Palácio Adauto Bezerra dá conta que o deputado Ivo Gomes andaria literalmente com as mãos na cabeça. Motivo: a inconsistência das provas contra Sérgio Benevides no escândalo do lanchinho escolar que teria tomado Doril. No capítulo: é com base em tal realidade que o primeiro-genro acredita que será absolvido pela Comissão de Ética, já que Gomes não elaboraria um relatório sem provas, sendo, como o é, um jurista com Mestrado em Harvard?. Nada mais distanciado da realidade, portanto, já que os fatos expostos pela própria manchete do jornal contradiziam o que afirmava a coluna (novamente com base em ?tititi?). Tenho insistido, neste espaço e nos comentários internos que faço diariamente à Redação, na necessidade de se aprimorarem os mecanismos de apuração, notadamente nas colunas. Esse episódio é um típico caso de informação mal conferida. Ou sequer conferida.

Na quinta-feira, a coluna Sônia Pinheiro publicou um posicionamento de Ivo Gomes a respeito da nota anterior. O texto era o seguinte, com o título ?Ivo fala?: ?Em troca de figurinhas com a coluna, o deputado Ivo Gomes afirmou que, no papel de Ouvidor do Conselho de Ética da Assembléia Legislativa, elaborou seu parecer prévio ? favorável à abertura do processo disciplinar contra Sérgio Benevides ? com bases, SIM (!) em fortes indícios de fraudes detectados pelo TCM e que, posteriormente, serviram para o the end do relatório da CPI da Merenda Escolar da CMF. Acrescentou Gomes que não promoveu, no parecer prévio, um julgamento dos fatos mas que encontrou sinais de irregularidades. Resuminho da opereta: caberá, daqui pra frente, aos demais integrantes do Conselho formar juízo, aprofundar as investigações e, por fim, analisar o mérito da questão…? Apesar de ser uma contestação da informação errada veiculada pela própria coluna, nenhuma referência à nota ?Stress? foi feita. Para o leitor que não acompanhou o caso, ficou a impressão de que não se tratava de uma resposta do deputado, mas de uma prosaica ?troca de figurinhas?.

Por fim, um detalhe que talvez não possa ser identificado como mera coincidência: a coluna de quinta-feira brindou o leitor com uma citação atribuída ao pintor espanhol Salvador Dalí (1904-1989). O título da nota era ?A frase?: ?Não tenha medo da perfeição. Você nunca vai atingí-la (sic)?. Que não se perca pelo surrealismo.

Quem criou quem?

A Editoria de Política do O Povo publicou domingo último (23) ampla matéria sobre a migração do deputado federal Gonzaga Mota, que deixou o PMDB, para o PSDB. O foco era o fato de que o neotucano Gonzaga Mota se abrigaria novamente sob a mesma legenda do senador Tasso Jereissati. O título: ?Fato político ? A dinâmica do reencontro entre criador e criatura?. Um erro. A história registra que Mota não foi o criador da criatura política Tasso Jereissati. O hoje deputado, quando governador, apoiou Tasso na sucessão estadual contra os coronéis da política cearense. Só que a candidatura do então desconhecido empresário já desembarcou pronta no PMDB da época. Gonzaga Mota a apoiou por várias circunstâncias ? entre as quais, a de ser a de seu partido. O editor-executivo do Núcleo de Conjuntura, Gualter George, e o repórter Salomão de Castro lembram que Mota teve papel decisivo na primeira eleição de Tasso Jereissati. Estão corretos, mas daí para ter ?criado? Tasso há um abismo imenso.

Aliados invasores

Embora não seja errado o termo ?tropas aliadas? para se referir aos exércitos norte-americano e britânico que invadem o Iraque, O Povo está reduzindo seu uso. Assim, evita confundir a ação articulada pelo governo de George W. Bush com os princípios das forças militares ? entre as quais as do Brasil ? que, na Segunda Guerra Mundial, combateram o nazismo.

Revisão, essa ingrata

Vez por outra os leitores do O Povo deparam-se com hífens mal colocados nas quebras de linhas. E, com muita freqüência, ligam para reclamar dos erros, alguns perguntando se os jornalistas não sabem escrever. O que existe é um problema no sistema de paginação eletrônica. Uma revisão cautelosa antes de a página ser enviada para a impressão pode resolver as falhas. Nem sempre, porém, essa revisão é eficaz. O que, para o leitor, não tem explicação."