Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Roberto Maciel

O POVO

"Mundanismo para quem?", copyright O Povo, 9/3/03

"Para que serve o colunismo social? A quem serve o colunismo social? Perguntas assim são feitas ao ombusdman do O Povo com freqüência. Não só a mim, mas também aos demais jornalistas que ocuparam o cargo. Não são questionamentos corriqueiros, mas provocações de um público que não vê renovação na área e, por isso, incomoda-se com o que costuma ler ? ou, pior ainda, com o que já se habituou a não ler por considerar superficial, pouco criterioso e sem objetividade. Como sempre afirmo aos leitores que me interpelam sobre o assunto, repito aqui que o colunismo social é importante, sim. Primeiro, por atender as demandas de um público real, palpável, que consome jornal da mesma forma que aquele, por exemplo, que deseja informações sobre política ou esportes. Depois, por ter o potencial de apresentar, em boa medida e com boa aproximação do exato, tendências de comportamento da sociedade.

No entanto, assim como as provocações, são praticamente as mesmas as reclamações sobre o nosso ? para usar um termo muito empregado na década de 60 ? mundanismo. Em relação ao O Povo, as queixas recorrentes são as de que o espaço dedicado às colunas sociais é muito grande. E têm razão os leitores. São oito colunas espalhadas no jornal ao longo da semana, além de um caderno aos domingos, o People. Lúcio Brasileiro assina duas no primeiro caderno (Reportagem, de segunda-feira a sábado, e Acontecendo, aos domingos) e Sônia Pinheiro tem uma diária, no Vida & Arte. O People, por sua vez, traz quatro: Atitude (Adriano de Lavor), De A a Z (Luiz Carlos Martins), Geração News e Young People (ambas não assinadas, mas vez por outra estranhamente informam que ?este colunista fez isso?, ?nós promovemos aquilo?). Por fim, o caderno Buchicho inclui Íntimos & Chiques (assinada por Lázaro Medeiros, que não é jornalista e chama a si de ?euzinho?).

Sobre notas cifradas

Existe uma premente necessidade de os jornais corrigirem as rotas do colunismo social. Entre muitas razões, a primordial: os conceitos de ricos, famosos, belos, bem sucedidos e bem nascidos ? que sempre sustentaram o conteúdo das seções especializadas ? já não são os mesmos de 50 anos atrás, quando começou a proliferar e a se consolidar o noticiário do gênero. Depois, porque, no formato que têm, as colunas são excludentes ? e a comunicação cidadã, tendência irreversível, não contempla posturas assim. Um terceiro aspecto prende-se à credibilidade dos jornais. Notas cifradas, muitas incompreensíveis para o leitor comum ? e na verdade só ?lidas? pelos destinatários ?, estão invariavelmente presentes em colunas sociais. Um exemplo, pinçado da coluna Young People de domingo último (2 de março): ?Metida a ser da imprensa, com sobrenome de planeta, sendo desagradável em várias rodas?. No fim de semana anterior, a coluna Geração News dava conta do fechamento de uma casa noturna e criticava os empreendedores. Nenhuma dizia a que ou a quem se referia. Não se pode levar a sério informações assim, ou o que quer que isso possa ser chamado.

Notas crifradas, aliás, não são os únicos traços da distorção que atinge as colunas sociais em todo o País. Se ?damas de vermelho? pululam entre uma nota e outra e há referências a ?belas da tarde?, há também agradecimentos por ?mimos? ? da chinela japonesa à viagem internacional ?, venda de convites para festas, venda de publicidade em livros e revistas, propaganda velada ou escancarada de restaurantes e lojas e, de resto, um mundo de amigos que circulam em festas, que nunca fracassam, que recebem bem, que ?são vistos? em locais da moda. Se em outra ocasião escrevi que jornalismo não é casa de amigos, cabe aqui reconhecer que o colunismo social contraria esse que é um das mais caros axiomas da atividade.

A propósito, cabe aqui um esclarecimento. A jornalista Sônia Pinheiro escreveu na coluna deste sábado (8/3) que a palavra tititi é ?detestada? por mim. Engano. Em princípio, não sou contra palavra nenhuma. Palavras existem para ser usadas. O significado delas é que às vezes deixa as coisas um tanto complicadas. O que este ombudsman ?detesta?, assim como todo leitor que cobra precisão no jornal que compra, é que tititis e zunzunzuns sirvam de base para informações.

Um erro inexplicável e não esclarecido

A Coluna Política assinada pelo jornalista Fábio Campos trouxe quarta-feira passada (5) uma nota com um título chocante: Idiota. Estava escrito: ?Requerimento para criar a comissão do Judiciário foi apresentado pelo deputado petista João Alfredo (PT), que defende como um dos temas centrais da reforma o controle externo deste Poder. Segundo o petista, a proposta do novo colegiado tem o apoio do líder do PSDB, Jutahy Magalhães (BA)?. No dia seguinte, o jornalista se retratou. A nota intitulada ?O erro? dizia que ?A Coluna Política pede desculpas públicas ao deputado federal João Alfredo (PT) pelo inexplicável equívoco no título de uma nota, publicada ontem, que noticiava a apresentação de requerimento do parlamentar pedindo a criação da Comissão do Judiciário na Câmara dos Deputados?.

Segundo o Dicionário Aurélio Século XXI, ?inexplicável? significa ?1. Não explicável; obscuro; 2. Incompreensível, estranho, singular?. Classificou-se assim um deslize que poderia e deveria ter sido explicado. Até porque O Povo tem um padrão ético e histórico que não inclui considerações como o tal ?idiota?. Do modo como foi posto nas ?desculpas públicas?, ficou para o leitor uma série de interpretações, nenhuma exata, na qual se incluem as possibilidades de o termo ter sido ato falho do autor ou resultado da intervenção de terceiros na coluna, entre uma série de outras causas ?obscuras?. O ombudsman apurou que o texto foi publicado conforme o original, o que pelo menos exclui a alteração indevida. Lamentável, além do título grosseiro, é que as razões ficaram nubladas e restritas às definições do dicionário."