Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Robinson Borges

MÍDIA RADICAL

?Mídias radicais lutam para que a história continue?, copyright Valor Econômico, 13/2/02

“?Mídia Radical – Rebeldia nas Comunicações e Movimentos Sociais, de John D.H. Downing, 544 pp., Editora Senac, São Paulo, 2002; R$ 45;

Há pouco mais de dez anos, o escritor nipo-americano Francis Fukuyama escreveu o epitáfio das alternativas anti-capitalistas com o seu livro ?O Fim da História e o Último Homem?, no qual argumentava que a dissolução da União Soviética significava o término de uma era. Em seu livro ?Mídia Radical – Rebeldia nas Comunicações e Movimentos Sociais?, que acaba de ser publicado no Brasil, o ensaísta americano John. D. H. Downing volta à tese de Fukuyama, dizendo que o adeus à potência socialista implicou o encerramento de um período, mas não teve como conseqüência o silêncio diante do pensamento único.

Bons exemplos de resistência e da sobrevivência de uma ?utopia ampliada? são viabilizados no mundo globalizado, segundo Downing, pelas mídias radicais alternativas, que ganharam força nos protestos contra a Organização Mundial do Comércio, em Seattle (1999), e numa infinidade de outros movimentos, agora potencializados com a iminência de uma guerra dos EUA contra o Iraque. Nesse cenário, o Fórum Social Mundial tem papel de destaque e frases como a da escritora indiana Arundhati Roy soam como mantra revolucionário: ?Um outro mundo não só é possíiacute;vel como está a caminho?, disse a autora, em janeiro, numa mesa em Porto Alegre.

?Na época da Guerra Fria, havia um problema grave de compreensão da mídia. Havia a idéia de que o único meio alternativo era o produzido pela União Soviética em virtude da dicotomia ideológica. E isso não era verdade. Hoje, vivemos um momento de muita diversidade?, disse Downing, em entrevista ao Valor, por telefone. ?Temos mídias com vários enfoques e propostas, que, muitas vezes, antevêem os fatos, o que é fundamental para enfrentar a hegemonia americana, com suas ?majors? dominando o mundo?, continua.

O autor considera que a ação militar iminente dos Estados Unidos contra o Iraque é um exemplo apropriado da supremacia e do unilateralismo da grande mídia americana. ?Nos Estados Unidos, os meios de comunicação são totalmente favoráveis à guerra e, na Grã-Bretanha, o único órgão de imprensa que é contra uma ação militar é o ?Independent?, analisa. Ele destaca, porém, que não é preciso um conflito para que a postura parcial dos meios de comunicação seja realçada.

?O maior problema desse sistema midiático dos países centrais é a recusa em conhecer as opiniões do resto do mundo. Eles basicamente seguem as orientações da Casa Branca e de Wall Street. Funcionam como uma orquestra em que, ocasionalmente, apenas um ou dois instrumentos são ouvidos e os outros não têm como se expressar?, afirma. ?Não quero dizer que todas as coisas que a grande mídia produz são negativas. A falha é que ela não preenche lacunas que deveriam preencher?, prossegue.

Nesse contexto, o autor propõe que, ao contrário do que observava Fukuyama, o capitalismo deixou brechas e permitiu que ocorresse uma discordância entre os vários segmentos sociais excluídos do processo de integração das economias. De um lado estaria o mundo das corporações e na contramão estariam os representantes de vários segmentos de um mundo cada vez mais fragmentado. ?Não quero dizer que para toda ação há uma reação. Mas quando as pessoas percebem alguns valores se esvaindo, muitas delas vão se opor e vão desenvolver a oposição por meio da comunicação. Essa é a dinâmica atual?, diz.

O ponto de partida do autor para definir as mídias alternativas radicais é bastante heterodoxo. Segundo Downing, o conceito de meios de comunicação não se restringe aos tecnológicos, como rádio, TV, jornal e cinema. Na visão do escritor, as mídias radicais fogem da esfera hegemônica da indústria cultural e têm como caráter essencial algum tipo de intervenção crítica às posições dominantes. Ou seja, se encaixam na categoria midiática as canções populares, o grafite executado pelas gangues de jovens, o vestuário – as mídias têxteis-, o rock de garagem, o teatro de rua, os cartuns satíricos, a pornografia política, os vídeos caseiros, a internet, as rádios livres e outras expressões.

O fundamental para ele é que a comunicação seja sempre realizada entre pessoas ativas – ao mesmo tempo emissores e receptores -, que dão sustentação a tais meios. ?A mídia radical não tem o objetivo de ser ?mainstream?, de atingir milhões e milhões de pessoas – embora possa chegar a ser. Tem, muitas vezes, uma perspectiva local, com operações comunitárias. O que importa é que essa mídia se comunica dispondo de exemplos mais próximos de seu grupo e fala de necessidades que nem sempre estão na agenda das grandes corporações de comunicação?, comenta.

Em comum, os meios radicais alternativos têm o poder de romper regras, embora raramente ?quebrem todas elas, em todos os aspectos?. Essas mídias também são tipicamente de pequena escala e dispõem de poucos recursos. Downing aponta ainda que os radicais têm dois propósitos fundamentais. O primeiro é expressar verticalmente, a partir dos setores subordinados, oposição direta à estrutura de poder e seu comportamento. O segundo é obter, horizontalmente, apoio e solidariedade e construir uma rede de relações contrária às políticas públicas. ?Existe também uma tendência na organização interna de tentar ser mais democrática do que a mídia estabelecida?, observa.

O autor destaca como fenômeno recente os centros independentes de mídia. Trata-se de uma rede sem uma central de organização, que teve início em Seattle. Hoje já existem entre 80 e cem ao redor do mundo. A maioria está nos Estados Unidos e no Canadá, mas há alguns na América Latina e no Brasil. ?Esses centros oferecem informações e os profissionais fazem uma cobertura de assuntos nacionais e internacionais. Mas ali é possível obter conhecimento menos ideológico sobre o que ocorre no Oriente Médio, por exemplo. Essa é uma alternativa internacional e pública de mídia?, comenta Downing.

Mas há ressalvas. Mídia alternativa não é sinônimo de ações contra a hegemonia dos meios de comunicação nem de uma perspectiva progressista. Downing adverte que há muitas manifestações de mídia radical do tipo fundamentalista, racista ou fascista, que representam forças negativas e podem levar a sociedade a retroceder. ?O conceito de mídia alternativa não está ligado a uma ação positiva ou negativa. Mas, muitas vezes, ela pode ser uma saída importante para os que estão à margem?, diz.

Segundo Downing, a mídia alternativa radical não é um fenômeno recente, mas com o fim da dicotomia ideológica da Guerra Fria, tornou-se mais claro seu potencial de ação tanto hoje como no passado. ?Na verdade, eu recupero um ideal que nasceu nos movimentos de contra-cultura dos anos 60 e 70, como as rádios livres e o cinema marginal, mas o observo sob um viés mais libertário ideologicamente?, justifica.

Ao olhar para a história das mídias radicais, Downing resgata algumas passagens importantes, que nasceram de movimentos sociais com meios alternativos. De tais caldeirões podem emergir mudanças sociais e culturais em muitas direções: as revoluções de 1848 na Europa; a turbulência na Rússia no início do século XX; a República de Weimar; o movimento de libertação da Índia do domínio inglês e a efervescência internacional dos anos 60 e 70. ?Sem esses caldeirões, há estagnação, que pode levar, de fato, ao fim da história?, conclui o autor. [Jornalista; professor da UFSC e coordenador de Pós-Graduação do Departamento de Jornalismo.]?”

 

ECONOMIA NA MÍDIA

“Jornalismo econômico”, copyright O Estado de S. Paulo, 23/02/03

“O jornalismo econômico brasileiro está sem dúvida entre os melhores do mundo, embora às vezes funcione mais para deseducar do que para informar.

Convivo com jornalistas e colunistas de economia há cerca de 30 anos e com eles reparti um dos momentos mais difíceis de minha carreira e do País.

Aprendi a admirá-los.

A censura do regime militar seria uma das explicações para o grau de excelência do nosso jornalismo econômico, pois dificultava a cobertura política e assim direcionava as energias para a economia. Outra contribuição teria sido a inflação desenfreada. Naquela época, era preciso entender o fenômeno, explicá-lo ao público e indicar formas de proteger-se de seus efeitos. Recentemente, os avanços institucionais nas finanças públicas e na política monetária exigem preparo adequado para escrever sobre um campo antes restrito a escassos especialistas.

Na verdade, esse êxito se deve em grande parte ao esmero dos jornalistas em entender o mundo complexo da economia, particularmente o mercado financeiro.

A maioria busca com afinco discernir o universo aparentemente insondável da matemática financeira, dos mercados futuros e dos derivativos. Muitos freqüentam seminários e lêem livros técnicos.

Outros se diplomam em economia, obtêm graus de mestrado em administração de negócios (MBA) e fazem cursos especiais no Brasil e no exterior.

Infelizmente, uma parcela ainda se move pelo preconceito contra o lucro, os juros e os bancos. Contribui, assim, para deseducar o público sobre temas como a dívida pública, a política monetária e o papel das instituições financeiras em uma economia moderna. Por exemplo, quando se anunciou a nova meta de superávit primário, de 4,25% do PIB, a cobertura de alguns jornais enfatizou que a medida servia para pagar juros. Na elevação da taxa de juros pelo Banco Central, destacou-se o efeito na economia e não o objetivo, qual seja o de evitar que uma inflação renitente fuja do controle. O leitor menos avisado deve ter-se revoltado, pois associa juros a uma suposta ganância irrefreável dos bancos.

Superávit primário é a diferença entre a receita e a despesa do governo antes do pagamento de juros. É óbvio que sempre se destina a pagar juros.

Quando se torna uma meta, o objetivo é evitar uma tendência explosiva na relação entre a dívida pública e o PIB, que levaria o governo à insolvência e, desse modo, à moratória ou ao calote. Os poupadores percebem esse risco e passam a cobrar juros mais altos para financiar o Tesouro. O perigo é o processo se transformar em bola de neve, o que esmagaria a economia, destruiria empregos e traria de volta a inflação galopante.

Na Bélgica, por exemplo, percebeu-se, em 1993, que essa relação havia chegado a um nível insustentável e ameaçava provocar o colapso da economia e dificultar a permanência do país na União Européia. Já em 1994, o governo gerou superávit primário de 4,2% do PIB e continuou aumentando. Desde 1998, o superávit tem sido superior a 6% do PIB.

Como a Bélgica e o Brasil demonstram, o superávit primário é uma prova inequívoca de responsabilidade para com o país e não um ato para beneficiar bancos. Os juros são auferidos essencialmente por depositantes, fundos de investimento e fundos de pensão.

Matérias opinativas como essas não raramente refletem visões pessoais e equivocadas do autor. Em recente reunião do ministro da Previdência com especialistas do mercado financeiro, deu-se a entender que seus interlocutores eram lobistas que queriam forçar a reforma previdenciária para ganhar dinheiro com fundos de pensão. Era como se cobiçosos banqueiros estivessem tramando a eliminação de benefícios sociais para vender produtos financeiros. Por esse raciocínio, a defesa de melhoras na educação deveria ser acusada de lobby para vender jornais.

Vale registrar que o governo americano faz exatamente o que os interlocutores do ministro têm pedido: regulação eficaz, tributação adequada do mercado e regimes previdenciários sustentáveis. Nos EUA, por conta desse ambiente, o mercado gira um patrimônio de mais de US$ 20 trilhões, 200% do PIB, impulsionando a economia e a geração de bem-estar. Aqui, são magros 40% do PIB.

Felizmente, a grande maioria do jornalismo econômico informa bem e educa. Mailson da Nóbrega é ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria Integrada (e-mail: mnobrega@tendencias.com.br)”

 

TELEJORNALISMO

“Memória do telejornalismo anda esquecida”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 17/2/03

“Neste final de semana tivemos o privilégio de testemunhar, mais uma vez, o poder da TV para retratar a nossa História recente. Todos os telejornais mostraram imagens impressionantes de milhões de manifestantes que tomaram as ruas das principais capitais do mundo em gigantescos protestos contra a guerra no Iraque e a favor da paz mundial. As imagens da TV mandavam uma mensagem clara e evidente aos telespectadores e líderes de todas as nações sobre os perigos de decisões apressadas e unilaterais que podem afetar a vida de todos em nosso planeta. As imagens diziam que o povo não é bobo.

Tanto o presidente Bush como o primeiro-ministro Blair, seguramente assistiram às mesmas imagens dos telejornais e, sem dúvida, devem estar preocupados. Afinal, eles bem sabem que vencer uma guerra não costuma garantir reeleição para presidentes americanos e primeiros-ministros britânicos. Muito pelo contrário. A cobertura internacional de TV foi excelente. Mobilizou centenas de jornalistas em diversos continentes, mostrou a sua força e, mais uma vez, registrou a História.

No Brasil também já tivemos momentos importantes da nossa história recente retratados pela TV com imagens inesquecíveis de grandes mobilizações populares. Estas imagens estão preservadas em nossa memória como um grande sinal da nossa força e como um constante alerta aos nossos dirigentes sobre os riscos de novas decepções.

Quem conseguiria esquecer as imagens impressionantes, de outras milhões de manifestantes durante os grandes comícios pelas Diretas na Praça da Sé ou na Candelária, as manifestações populares em diversas capitais brasileiras contra o Collor e, mais recentemente, as comemorações populares durante a posse do presidente Lula em Brasília? Estas imagens, no entanto, são mais do que meras lembranças ou recordações. Elas são registros muito importantes da nossa história recente. São verdadeiros ?documentos visuais? de grande valor jornalístico que testemunham de uma forma definitiva, e melhor do que muitas palavras impressas, os fatos marcantes da vida social e política brasileira.

Se concordarmos que os nossos telejornais são documentos visuais importantes, que eles retratam a nossa história e que, por isso, merecem ser preservados, ficam no ar algumas questões em tom de alerta e provocação: afinal, para onde vão essas imagens ou essas matérias após serem exibidas em nossos telejornais? Como elas estão sendo preservadas? Quem possui esses acervos, e, o mais importante, quem controla o acesso a esses acervos tão importantes?

Ficou surpreso? Nunca tinha parado para pensar no assunto? Pois bem, então é bom começar a pensar. Se você acredita que um povo sem acesso a sua própria memória e a sua própria história é um povo sem direito à cidadania, e se você também concorda que o telejornalismo é uma referência fundamental para a nossa história, a principal fonte de informações para a maioria dos brasileiros, então você também deveria concordar que, provavelmente, estamos com sérios problemas.

Pare e pense, o que aconteceria se um jornalista, pesquisador ou estudante estivesse interessado em investigar, por exemplo, o dia do seu nascimento através dos nossos principais jornais. Não teria algum problema. Instituições públicas, como a Biblioteca Nacional, garantem a todo brasileiro acesso livre e democrático aos seus acervos. Ou seja, existe uma política de preservação da memória jornalística brasileira através do depósito público de jornais e revistas que garantem ao público um acesso livre, sem qualquer tipo de restrição à consulta e pesquisa.

Muito bem. Agora, o que aconteceria se o mesmo pesquisador, jornalista, estudante quisesse ter acesso aos telejornais brasileiros não só do dia em que nasceu, mas também aos noticiários de TV produzidos, por exemplo, durante os ?sensíveis? anos da ditadura em nosso país? Como seria garantido o acesso livre e democrático a essas coleções de telejornais?

Entenderam o problema? Sentiram as dificuldades e as conseqüências? Em verdade, os nossos arquivos de TV ou centros de documentação pertencem exclusivamente às próprias emissoras de televisão. No Brasil, por incrível que pareça, imagem de telejornal ainda não é considerada documento jornalístico ou histórico, suficientemente importante para justificar sua preservação pelas instituições públicas. É claro que ainda existem problemas econômicos, técnicos e, principalmente, políticos.

Sem dúvida, alguns centros de documentação em nossas emissoras de TV fazem um trabalho excelente de preservação de acervos audiovisuais preciosos. Apesar da falta de reconhecimento, das limitações financeiras e tecnológicas, os profissionais da documentação fazem um trabalho heróico na preservação e recuperação desses documentos. O problema é que esses arquivos não são públicos. Simplesmente, eles não garantem o que deveria ser um direito de qualquer cidadão: o acesso livre e democrático aos acervos jornalísticos das televisões brasileiras para qualquer tipo de pesquisa, independentemente de questões ideológicas, econômicas ou de interesses empresariais. Não deveria haver a necessidade de ?autorizações especiais? para o acesso aos arquivos do jornalismo televisivo.

No passado, já tivemos algumas experiências representativas dessas dificuldades. Muitos ainda se lembram da proibição de exibição em todo o Brasil do documentário Beyond Citizen Kane (Além do Cidadão Kane), produzido pelo falecido diretor inglês Simon Hartog para o canal 4 da TV britânica em 1993. O documentário, na melhor tradição do gênero, fazia uma investigação crítica da trajetória da Globo e, por isso mesmo, enfrentou sérios problemas de acesso aos arquivos de imagens da emissora. O diretor Simon Hartog, na época, bem que tentou seguir as normas estabelecidas para quaisquer clientes interessados na aquisição de imagens de TV. Ele apresentou seu roteiro à emissora e solicitou acesso às imagens que, obviamente, foi negado. Na Inglaterra, ao contrário, é assegurado a todos os jornalistas, pesquisadores e documentaristas, o acesso às imagens do conteúdo dos telejornais. O documentário ?Além do cidadão Kane? foi produzido de qualquer maneira com imagens captadas do ar, sem autorização expressa da emissora e fez um grande sucesso na Inglaterra sendo exibido em diversos países do mundo. Mas não pôde ser exibido no Brasil. Logo no Brasil, que teria tanto interesse e necessidade de ver pelo menos um documentário sobre a nossa TV que não fosse simplesmente mais um produto de jornalismo ?chapa-branca?.

É claro que existem diversas cópias piratas disponíveis no Brasil, exibições clandestinas são organizadas nos sindicatos e universidades, o acesso ainda é livre na Internet (o endereço é http://www.teno.com.br/ ou você pode ir diretamente para a URL: http://www.teno.com.br/arquivos_especiais/brasil_beyond_citizen_kane.htm). No entanto, o problema enfrentado pelo documentarista inglês que, por sinal, viria a falecer logo após a conclusão do filme, trata-se de um exemplo claro das dificuldades para se pesquisar a nossa televisão, e ainda mais, o nosso telejornalismo. Muitos não sobrevivem. Não é à toa que não temos bons documentários sobre a nossa TV ou pesquisas sérias sobre a História do telejornalismo brasileiro! As negociações e os compromissos seriam muito delicados. Sem o acesso totalmente livre e público aos acervos dos nossos telejornais, fazer uma pesquisa crítica do nosso principal meio de informação é muito difícil, desaconselhável, ou até mesmo, arriscado..

Algumas instituições públicas, como a Cinemateca de São Paulo, sem recursos e incentivos, ainda tentam com grandes dificuldades econômicas manter um acervo com alguns dos nossos telejornais. Esta é uma das vantagens oferecidas pela introdução das novas tecnologias. Com a digitação eletrônica de imagens e o acesso cada vez mais rápido de material audiovisual via Internet, já é possível garantir um acesso público mais eficiente, econômico e, principalmente, mais democrático ao conteúdo dos nossos telejornais. O problema não é mais questão essencialmente técnica ou econômica. A questão, na verdade, é muito mais política. Envolve diversos interesses que incluem uma discussão sobre ?direitos de imagem? e, principalmente, envolve uma preocupação ainda muito grande em lidar com os fantasmas de um passado que insistem em não desaparecer nem ser esquecido.

Mas, se considerarmos que jornalismo é prestação de serviços e, que televisão é uma concessão pública, deveríamos também exigir o direito de acesso ao conteúdo dos nossos telejornais da mesma forma que asseguramos em nossa Constituição, o direito à informação. Os responsáveis pelo telejornalismo e pelos arquivos brasileiros deveriam ?lembrar? que uma da mais importantes missões dos jornalistas é a de preservar a história de uma nação e assegurar que a sua memória não seja esquecida. Afinal, o direito de se informar, segundo a Constituição brasileira, consiste na liberdade de recolha de informação, no direito de procura e de acesso a fontes de informação, isto é, no direito de não ser impedido de se informar. É sempre mais fácil exigir acesso à informação para investigar e denunciar… os outros.”