Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Robson Pereira

INTERNET

"Seguindo carros e pessoas pela internet", copyright O Estado de S. Paulo, 12/09/02

"A pequena Danielle, de 11 anos, provavelmente não sabe, mas transformou-se em tema de discussão em centenas de sites espalhados pela internet. Tudo isso pela polêmica decisão tomada por seus pais de submetê-la ao implante de um microchip, capaz de monitorá-la 24 horas por dia.

Danielle mora em Reading, uma cidade de porte médio, localizada perto de Londres. Boa parte dos ingleses continua chocada ainda hoje com o drama vivido pelas famílias de Holly e Jessica, ambas um ano mais nova do que Danielle, que sumiram no início do mês passado e foram encontradas mortas duas semanas depois.

Outras famílias procuraram pelo serviço, mas os pais de Danielle foram os únicos, até agora, que anunciaram a decisão abertamente, dividindo a opinião dos britânicos e de internautas de várias partes do mundo. Muitos acreditam que seus filhos estarão mais protegidos com um aparelho do tamanho de uma aspirina, que custa cerca de R$ 100. Outros discordam, por considerarem inócua a solução ou por detectarem um sério risco à privacidade.

O microchip que será implantado na menina não chega a ser uma novidade. Com ou sem legislação específica, diversos países já utilizam a tecnologia de monitoramento por chips. No mês passado, enquanto os britânicos grudavam os olhos no noticiário em busca de informações sobre as meninas desaparecidas, três alto executivos de uma empresa americana, pioneira na fabricação de chips para implante em humanos, anunciaram que estavam protegidos pelo aparelhinho.

Em maio, oito pacientes de Alzheimer, na Flórida, também receberam o implante, que contém um número de identificação e algumas informações básicas, como eventuais alergias a medicamentos, endereço e telefone de contato com familiares, captadas por um scaner que ativa ondas de rádio freqüência. A empresa que fabrica os chips e o scaner trabalha em um modelo mais ?moderno?, capaz de localizar, via GPS, qualquer portador do equipamento.

A nova realidade e a perspectiva de que os chips humanos se tornem cada vez mais utilizados preocupam as entidades que atuam na esfera dos direitos civis, que vêem nos implantes uma perigosa forma de controle sobre o cidadão. A preocupação maior dessas entidades não está na decisão emocional – e até compreensiva – tomada pelos pais de Danielle ou pelos familiares dos portadores de Alzheimer. O perigo está em saber quem vai decidir quem receberá um chip. E com quais objetivos, evidentemente.

No Brasil, discussões e preocupações como essas parecem ainda distantes, embora uma boa quantidade de chips esteja sendo utilizada para localizar animais de estimação, telefones celulares, carros e caminhões e até mesmo pessoas, ainda que, neste caso, de forma indireta. No Rio e em São Paulo, com ou sem a motivação dos ingleses, pais chegam a gastar R$ 2 mil na instalação de um equipamento no carro do filho, da filha ou da mulher, utilizando como justificativa a preocupação com a onda de violência, especialmente os seqüestros.

Os serviços são oferecidos por várias empresas na internet. Botões de emergência instalados em locais estratégicos do carro acionam a central da operadora que, a partir daí, passa a monitorar não apenas o veículo, como também os seus ocupantes. Para as seguradoras parece um bom filão, já que chegam a dar descontos de até 30% no valor do seguro para veículos dotados com tais mecanismos.

Agora, algumas empresas do setor fizeram o que os tecnólogos costumam chamar de up-grade no serviço. Aperfeiçoaram os equipamentos e passaram a oferecer o monitoramento do veículo pelo próprio contratante. Tudo o que ele precisa fazer (além de assinar o serviço) é entrar na internet, usar a sua senha e localizar o veículo em mapas detalhados. Algo parecido com o ?siga aquele carro? do cinema, só que utilizando um mouse. A margem de erro é de apenas 30 metros, conforme a garantia de uma das empresas que atuam no setor.

Parece pouco, mas talvez seja o suficiente para causar sérios problemas familiares. Quem contrata o serviço recebe acesso também a relatórios que informam quando e onde estacionaram os carros equipados com o serviço nos últimos dois meses. Dia, hora, nome da rua ou avenida e até o número do estabelecimento – seja um posto de gasolina, um supermercado ou o consultório do dentista, entre dezenas de outras possibilidades. Tudo em nome da segurança, evidentemente."

 

"Internet levada ao espaço sideral", copyright Jornal do Brasil, 16/09/02

"A frase já foi ouvida e lida em todos os lugares: ?a Rede não tem fronteiras?. No caso da internet interplanetária (IPN), a afirmação rompe todas as barreiras ao levar a conexão para fora do planeta. Nomes de peso da ciência e da tecnologia estão empenhados em tornar o projeto realidade, em pouco tempo.

Em alguns anos, já será possível mandar um e-mail para um endereço eletrônico .mars, ou .orbit. A iniciativa é capitaneada por ninguém menos que Vinton Cerf, vice-presidente de Arquitetura e Tecnologia da Worldcom e co-fundador do protocolo TCP/IP, que rege todas as comunicações na internet. Em poucas palavras, o pai da internet.

?Vamos adaptar a Rede à realidade espacial?, diz o cientista Eduardo Whitaker Bergamini, especialista em sistemas espaciais de dados e que participa, desde 1982, num projeto para padronizar a comunicação entre a Terra e os aparelhos lançados pelo Homem ao espaço. Ele e os outros envolvidos na internet interplanetária, aspiram a uma realidade em que a troca de dados entre a Rede mundial possa ser transparente com sua parente espacial.

Os problemas não são poucos. A realidade astral é completamente diferente da experimentada pela comunicação terrestre. ?A resposta de uma mensagem enviada para uma sonda em órbita de Marte pode levar até 40 minutos para chegar?, explica Bergamini.

Além da distância, os fenômenos espaciais influenciam muito nas transmissões via ondas de rádio, praticadas hoje e previstas para serem usadas também na internet interplanetária. ?A radiação cósmica, o vento e as explosões solares e nossa atmosfera interferem na comunicação?, diz Bergamini, ?a ponto de ela chega ao nível de 1 bit de dados para 1 bit de ruído?.

Uma das técnicas usadas para garantir a transmissão efetiva da informação é mandá-la com redundância – a repetição voluntária dos dados. ?A IPN usará por muito tempo as ondas de rádio, embora seja independente do meio de transmissão?, conta Vinton Cerf, em entrevista por e-mail ao JB. Para a IPN, será usada a técnica do blundling, mandando grandes pacotes de dados para garantir sua chegada.

Outro problema inerente a qualquer rede, e fundamental a uma que custe alguns bilhões de dólares é a segurança. Como manter a confiabilidade desejada na IPN, estando conectada à internet terrestre e fazendo parte do grupo das redes que usam ondas de rádio para se comunicar – como as Wi-Fi locais, consideradas inseguras? ?O problema com as redes por rádio pode ser resolvido com camadas e mecanismos mais complexos de segurança. Acredite, a Wi-Fi pode ser confiável?, afirma Cerf, referindo-se ao protocolo usado nas redes sem fio ?terrestres?."

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"Planeta vermelho é o primeiro passo", copyright Jornal do Brasil, 16/09/02

"Internet chegará a Marte antes da primeira viagem tripulada, que deve acontecer entre 2020 e 2030

A internet interplanetária será totalmente baseada no software livre, considerado inseguro pelas empresas de software proprietário. Para essa questão, Cerf tem uma resposta breve, e definitiva. ?No software livre suas fraquezas são expostas rapidamente, e isso é muito bom?.

O desafio da IPN está lançado e será testado em 2003 quando a Nasa, agência espacial norte-americana, lançará sua próxima missão a Marte. Ela será composta de dois rovers, robôs móveis de uma geração superior ao Sujourner, da missão Pathfinder, lançada em 1997.

?O motor da internet interplanetária é a conquista de Marte?, explica Bergamini, que representa o Brasil, através do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no CCSDS, comitê internacional de agências espaciais que objetiva a padronização do sistema de comunicação no espaço. De acordo com o cronograma da Nasa, uma missão tripulada para Marte acontecerá entre 2020 e 2030 e a IPN terá papel fundamental no seu sucesso.

Ela deverá ser dividida em duas etapas: a primeira levará grande parte dos suprimentos e a segunda será tripulada. Contando a ida e a volta, a missão para Marte durará 900 dias, ou quase três anos. A IPN servirá para a comunicação técnica dos astronautas, com relatos das experiências e do estado dos aparelhos e da missão.

Menos importante para o desenvolvimento científico da humanidade mas fundamental para a empreitada é a manutenção da moral a bordo da espaçonave e em solo marciano. A internet interplanetária serviria para a troca de mensagens entre os familiares, estudantes e a tripulação e para o envio de games, notícias e todo o tipo de informação que os mantenha conectados à Terra.

Para a IPN se tornar uma realidade, será necessária uma constelação de satélites, orbitando a Terra, Marte, Lua e outros astros, funcionando como nós da internet espacial. Uma sonda na órbita de Marte, por exemplo, fica sem comunicação com a Terra quando é encoberta por algum astro. A linha de visão entre o aparelho e o nosso planeta é eclipsada, e a transmissão de dados é interrompida. Os satélites rebateriam a informação, permitindo a comunicação dos astronautas e da aparelhagem de qualquer lugar do planeta vermelho.

Com uma taxa de latência mínima entre o solo e o satélite, poderemos ter uma transmissão direta de dados entre Marte e a Terra, mesmo que com os 20 ou 30 minutos de diferença entre o tempo real e a informação recebida. Está aberto o caminho para explorações científicas mais complexas. ?Espero que um dia ela possa estar disponível para o público em geral, mas desde o começo poderemos ter acesso limitado a estudantes?, vislumbra Cerf. As aplicações comerciais podem dar o impulso decisivo ao desenvolvimento da IPN. Poderemos no futuro ter uma TV Marte, com transmissão em boa qualidade, 24 horas por dia."


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"O carteiro da internet", copyright Jornal do Brasil, 16/09/02

"A internet é composta por cerca de 50 mil redes, unificadas pelo conjunto de protocolos TCP/IP. São eles que permitem a intercomunicação e, para o internauta, garantem o uso de uma rede única.

Em 1974 Vinton Cerf, então professor assistente de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação na Universidade de Stanford, na Califórnia, EUA, desenvolveu com Robert Kahn o que ficou conhecido como o Transmission Control Protocol (TCP) e o Internet Protocol (IP).

Quatro anos depois, ficou claro para os envolvidos no projeto que o TCP/IP poderia ser usado numa escala global. O desafio foi convencer a troca do NCP, usado na Arpanet (rede que deu origem à internet) pelo novo protocolo. Só no começo de 1983 a troca foi efetuada, depois de muitos testes e a prova de que o TCP/IP poderia substituir com sucesso o NCP, em uso há anos.

O TCP/IP garantiu a intercomunicação entre computadores de todas os modelos e rodando qualquer sistema operacional, além de interligar as redes e monitorar o sucesso na troca dos pacotes de informação."