Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Rogério Pacheco Jordão

Crime (quase) perfeito – Corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil – Editora Fundação Perseu Abramo, 47 páginas, R$ 7,00 – (11) 5571-4299 – editora@fpabramo.org.br e editoravendas@fpabramo.org.br

A corrupção tornou-se um problema político de peso a ser enfrentado no Brasil nesta passagem de século. Não que não fosse um problema no passado. Mas desenvolvimentos ocorridos no país a partir do final da década de 80 – particularmente a incrível expansão dos negócios ilegais ligados ao tráfico de drogas – colocaram a questão em uma nova dimensão. Por um lado, estamos inseridos em uma lógica que ultrapassa as fronteiras nacionais. Por outro, a corrupção por ela gerada é de um novo tipo: sofisticada e turbinada por um enorme fluxo de dinheiro. Este livro procura estimular a reflexão sobre este processo.

O trabalho está dividido em três partes. A primeira é dedicada especificamente ao tema da corrupção – assunto que nos últimos anos vêm ocupando espaço nos noticiários de forma avassaladora através de denúncias, revelação de esquemas, máfias, grampos telefônicos e da atividade de dezenas de CPIs espalhadas pelo país nos âmbitos federal, estadual e municipal. Essa massa de informações – muitas vezes desencontradas – levou à sensação de que se vivia um verdadeiro cataclismo nacional: a corrupção chegara a níveis insuportáveis.

Mas, o que é corrupção? Ela, de fato, vem aumentando? Quais os prejuízos causados pelas práticas ilícitas nas administrações públicas? E por que ela se transformou, a partir do início dos anos 90, em um assunto mundial? Esses são os questionamentos que nos guiam.Na segunda parte, descreve-se a indústria da lavagem de dinheiro, relativamente nova no Brasil e no mundo. Esse é o ponto de chegada já que, em última análise, todo o dinheiro gerado por corrupção passa, de uma maneira ou de outra, pelo filtro da lavagem. É importante entender os seus mecanismos e perceber como o dinheiro da corrupção, para se legalizar, muitas vezes utiliza os mesmos canais do dinheiro oriundo de outras atividades criminosas, como o tráfico de drogas.

O roubo do dinheiro público é também analisado sob a ótica de três pessoas que, na década de 90, se depararam com grandes esquemas de corrupção e viram, do nascedouro, escândalos se desenvolverem. As entrevistas com o delegado aposentado da Polícia Federal Paulo Lacerda, a ex-juíza Denise Frossard, do Rio de Janeiro, e a comerciante Soraia Patrícia da Silva, de São Paulo, trazem, na terceira parte, um panorama dos temas que compõem a problemática da corrupção no país na atualidade.

O livro nâo tem como objetivo fazer uma história da corrupção no Brasil, nem tampouco especular sobre as origens remotas desse problema. Uma empreitada como essa requereria reflexões mais aprofundadas e detalhadas a respeito de temas como o da estrutura de poder no país, o patrimonialismo (elites que consideram o Estado como patrimônio privado) e o do clientelismo na política brasileira. Crime (quase) perfeito é, antes de tudo, uma introdução ao tema (amplo) da corrupção e de seus significados nos dias de hoje. A idéia deste trabalho começou a germinar em agosto de 1996, quando, como repórter político do Jornal da Tarde, de São Paulo, investiguei operações financeiras realizadas pela Secretaria de Finanças da Prefeitura de São Paulo – o que mais tarde se transformaria no "escândalo dos Precatórios". Foram três anos de reflexão e pesquisa sobre o tema da corrupção. O levantamento de dados incluiu consultas a documentos de órgãos como o Ministério Público, Banco Central, Polícia Federal, de reportagens publicadas pela imprensa e relatórios de CPIs, mas também dezenas de conversas e entrevistas com pessoas, no Brasil e no exterior, que estão ligadas ao assunto da corrupção.O trabalho foi composto em grande parte durante o ano de 1999, em Londres, durante a realização de um curso de pós-graduação na London School of Economics and Political Science (LSE), possibilitado por uma bolsa do British Council, cujo tópico de dissertação final foi a corrupção na política.

Corrupção percebida

Como o futebol, de repente, a corrupção virou um assunto nacional, discutido e debatido nas esquinas, nas casas, entre os amigos, nas páginas dos jornais, das revistas, nas rádios, nas TVs, na internet. Um bombardeio de imagens, palavras, notícias , informações. E as pessoas tiveram a sensação de que se chegou a um "limite".

Este não é, porém, um problema unicamente brasileiro. Corrupção se tornou nos últimos anos um tema mundial.

Crime (quase) perfeito mostra os interesses ligados à corrupção e por que este assunto passou a ter maior visibilidade nos últimos anos. Investiga também como funcionam os esquemas de lavagem de dinheiro, etapa obrigatória para a legalização dos fundos obtidos por meios ilegais. Além disso, discute como se dá a percepção da corrupção por parte da sociedade, buscando compreender se, de fato, a corrupção na política está aumentando e como é possível combatê-la de forma eficaz.

O livro traz entrevistas exclusivas com o delegado Paulo Lacerda (investigou o caso PC), a juíza Denise Frossard (condenou os bicheiros no Rio de Janeiro) e a comerciante Soraia Patrícia da Silva (denunciou a máfia das propinas em São Paulo)

O autor

Rogério Pacheco Jordão nasceu em 1968 na cidade de São Paulo (SP) e é jornalista. Trabalhou na TV Cultura de São Paulo, no Jornal da Tarde e em O Globo (no Rio de Janeiro), com passagens pela TV Futura e pela revista Época. Foi o autor das primeiras reportagens que denunciaram, em 1996, as operações irregulares com títulos públicos realizadas pela Prefeitura de São Paulo – fatos que deram origem ao "escândalo dos precatórios". As matérias saíram no Jornal da Tarde.

Em 1999, com o apoio de uma bolsa de estudos oferecida pelo British Council, concluiu curso de pós-graduação em política comparada no Departamento de Governo da London School of Economics and Political Science (LSE), em Londres, tendo obtido o título de Master in Science (MsC). É sócio-fundador da organização não-governamental Transparência Brasil, dedicada ao combate à corrupção.

Volta ao índice

Armazém Literário – próximo texto