Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Só a prática forma profissionais

DIPLOMA EM XEQUE

Fabiana Amaral (*)

Quando se entra na faculdade, tem-se a idéia de que tudo começa ali. A partir de então, forma-se na cabeça dos indivíduos que sem a faculdade, sem aqueles ensinamentos, não pode haver profissional de verdade. Daí se vêem os acadêmicos empolados entre teorias, alardeando ao mundo como se faz isto ou aquilo, conforme afirmaram este ou aquele, dos ditos mestres em tal área.

Generalizar, já pude constatar, é um grande devaneio de quem acha que tudo sabe. Dos pseudo-especialistas nisto ou naquilo, que só conseguem enxergar um viés da história, o seu. A partir dele, defendem ou atacam tudo o mais. Mas, quando se fala de estudo acadêmico, a coisa não é tão simples e nem tudo é facilmente aplicável a tudo. O caso se torna ainda mais complexo quando se trata de Comunicação.

Tida por alguns como "o quarto poder", a imprensa, desde seus primórdios, suscita discussões. Grande parte desses que discutem acredita que a praga hoje presente na imprensa mundial, de distorções ? erros grotescos, sensacionalismo e banalidades ? não tem origem só na sala do dono do veículo, mas nos bancos das faculdades. Encontrado um alvo ? certamente mais fácil que os barões midiáticos ?, começam os ataques.

As melhores sobreviverão

É bem verdade que a faculdade é importante na formação, que um profissional, qualquer que seja ele, mas atendo-nos aos de comunicação, necessita de uma dose de teoria. Esta teoria dará chance a este profissional se colocar melhor diante dos fatos, fazer analogias capazes de elucidar e ajudar àquele que é o principal patrão do profissional da imprensa: o receptor da notícia.

Mas de nada adianta toda essa bagagem teórica se ele não a colocar em prática. É a prática, e tão somente ela, que dirá o que se reteve da teoria. É na hora de redigir um texto e avaliar um possível furo que se observará a estrutura ética e a bagagem adquirida na faculdade e na vida. Jornalismo de verdade não pode ser somente ensinado na faculdade, se é que pode ser ensinado.

Hoje, com a liminar que possibilita a qualquer um ser jornalista, sem necessidade de um diploma, a discussão gira em torno do futuro das faculdades. Mas exemplos como o da Escola de Jornalismo da Universidade de Colúmbia, de Nova York, uma das melhores, senão a melhor, mostram que mesmo em países que não exigem diploma, caso dos EUA, as melhores sobrevivem. A Colúmbia vê aumentar a cada ano a procura por seu mestrado em Jornalismo (a escola não oferece curso de graduação).

Se esta liminar resistir, assim será por aqui. Faculdades de pouca ou nenhuma qualidade se verão obrigadas a fechar as portas. Em contrapartida, as de boa qualidade, que investiram em estrutura e corpo docente capacitado, serão aplaudidas e avidamente solicitadas. "Mas é necessário muito dinheiro para fazer bom jornalismo", reza a cartilha dos donos e diretores de faculdades. Besteira! De passagem por uma pequena emissora de TV, no interior de São Paulo, onde estagiei por algumas semanas, entendi que nós, universitários de Jornalismo, temos muito que aprender sem dinheiro e sem as magníficas estruturas à la Rede Globo.

Pura demagogia

Não dispondo sequer de um computador para redigir matérias para a edição de off, vi como trabalham, sem a tecnologia presente nos grandes veículos, esses profissionais apaixonados por sua "arte". Não pretendo ignorar as vantagens de boa estrutura e do dinheiro, até as julgo necessárias ao desempenho do jornalista. Mas, acompanhando o dia-a-dia desses profissionais, muitos somente com formação prática, entendi o verdadeiro sentido do fazer jornalismo.

Impressionavam-me os artifícios da editora-chefe (cursando o terceiro ano de Jornalismo) para encaixar uma ou outra matéria que julgava importante e não passava pelo crivo do dono da emissora. Os três repórteres correndo atrás das notícias dispondo apenas de um veículo (são três os repórteres), tendo que passar a toda hora na redação porque não dispunham sequer de um celular ou bip.

A redação, se é que pode chamar de redação, era um canto de garagem, com três mesas e um sofá preto rasgado ao fundo, uma arcaica máquina de escrever. Assinatura de jornal ou internet, mesmo TV com vídeo para pré-edição de matérias, eram gastos impensáveis. Bom jornalista, para o patrão ? dono de rádio há mais de 40 anos ?, era aquele que conseguia, além de fazer seu serviço diário, angariar comerciais para substanciar os ganhos. Coisa que só o mais antigo funcionário e quase sócio conseguia ? e queria ? fazer. Dos salários, sinto muito, caro leitor, mas me recuso a falar. Das horas a mais e gastos adicionais que nunca seriam reembolsados, também. Prefiro manter a idéia da paixão e da devoção do verdadeiro jornalismo.

Neste estágio de férias verifiquei os pontos frágeis dos argumentos manipuladores dos nossos ditos "superiores". Essa patacoada de que "só a faculdade isso ou aquilo". Pura demagogia e jogo de interesses. Tudo bem que uma passadinha pela universidade não vai emburrecer ninguém (?). Mas aprendi, na prática, que, em se tratando de jornalismo, não adianta: só a prática forma profissionais.

(*) Aluna do 2? ano de Jornalismo no Unasp, Engenheiro Coelho, SP