Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Saddam em cima do muro

IRAQUE

De acordo com reportagem de John Burns, correspondente do New York Times [28/10/02] no Iraque, o governo de Bagdá parece estar indeciso sobre se expulsa jornalistas estrangeiros ou se tenta mudar sua imagem ditatorial.

Após a anistia concedida pelo presidente Saddam Hussein a todos os presos do país, repórteres puderam visitar a prisão mais famosa, Abu Ghraib, nas imediações da capital Bagdá. Nos dias após esse evento incomum, os veículos estrangeiros acompanharam o tratamento pouco violento dado a famílias que protestavam nas ruas em busca de informação sobre parentes presidiários desaparecidos. Saddam, que se prepara para uma guerra com os EUA, quer passar imagem de bondoso e, por isso, não mandou fuzilar os manifestantes como seria de praxe em outra época. Assim, a CNN colocou no ar imagens ao vivo do protesto que ocorria em frente ao centro de mídia estrangeira na capital Bagdá. Em uma cena se ouvem disparos de rifle que seriam um leve apoio para os funcionários do governo que tentavam dissuadir verbalmente os familiares de presos. Para as autoridades, não foi nada agradável ver esse tipo de acontecimento na televisão pouco depois de terem armado um plebiscito em que 100% da população teria votado a favor da ditadura de Saddam.

A CNN foi então notificada pelo Ministério da Informação de que todos seus funcionários que não fossem originários de países árabes deveriam deixar o país assim que vencessem seus vistos. Eason Jordan, chefe executivo de notícias da CNN, classificou a medida de "draconiana" e disse que ela "reduziria sensivelmente o conhecimento do mundo sobre o que está acontecendo no Iraque". Agências ocidentais noticiaram que a equipe da CNN havia sido expulsa do país.

Alguns dias depois, o Babil, jornal controlado pelo filho de Saddam, Ubay, saiu com matéria de primeira página criticando a decisão do ministério. "Consideramos bom lembrar as pessoas de que a mídia dos anos 1970 não é totalmente a mesma que a mídia do século XXI, que busca os fatos", dizia o texto. Passaram-se poucas horas até que o Ministério da Informação divulgasse comunicado em inglês em que diz querer deixar claro "que o que a mídia estrangeira alega, que o Iraque expulsou jornalistas, é falso e sem fundamentos". Em seguida, os mais importantes funcionários do ministério ficaram horas tentando convencer os correspondentes de que não teriam ficado muito irritados com a cobertura dos protestos e que o Iraque, após o conflito com os EUA, continuaria aberto para a imprensa internacional. No entanto, mantiveram que os jornalistas da CNN, bem como os não árabes de outros veículos, teriam de sair do país.

Os Repórteres Sem Fronteiras [22/10/02] enviaram mensagem a autoridades do Iraque perguntando se o jornalista Hashem Hassan, preso em setembro de 1999, também se beneficiou da anistia dada aos presidiários do país. Ele era editor do jornal Azzawra, também de propriedade de Uday Hussein, que pediu que Hassan assumisse a revista Arrafidayn. Ele não aceitou e, alguns dias depois, foi preso em El Kadissia quando tentava fugir com a família para a Jordânia para não sofrer a vingança do filho do ditador. Desde então, não se tem muita informação a seu respeito. Há rumores de que ele teria sido torturado e de que seu estado de saúde não seria bom.