Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Saramago depois do Prêmio


Esdras do Nascimento

 

José Saramago ganhou o Prêmio Nobel de Literatura: além da honraria, cerca de US$ 900 mil e, provavelmente, novas traduções dos seus livros em vários países. Jornais e revistas brasileiros noticiaram o fato como uma espécie de glorificação da língua portuguesa. A partir daí novas portas se abririam para a literatura produzida em nosso idioma. Não é provável que isso venha a acontecer. O japonês Kenzaburo, o polonês Isaac B. Singer e o egípcio Naguib Mahfuz ganharam o prêmio poucos anos atrás e isso em nada concorreu para a maior aceitação internacional das obras escritas originalmente naqueles idiomas. Mas não custa ficar torcendo.

Saramago é de origem humilde, um sem-terra, como diríamos hoje, entrou cedo para o Partido Comunista, teve de batalhar como serralheiro mecânico para fazer seus estudos, até os 20 anos de idade não tinha dinheiro para comprar livros, só lia o que pegava emprestado nas bibliotecas públicas, foi jornalista durante muito tempo e só a partir de 1980 passou a viver exclusivamente de direitos autorais. Seus romances são excelentes; os contos, nem tanto; e o diários, chatíssimos, quase que se resumem a relatos sobre como recebeu convites para conferências, o que fez ou deixou de fazer em congressos, coisas assim, prosaicas, oficiais, que nada têm a ver com a grandeza da sua obra. Não há dúvida, porém, de que é um dos grandes escritores do nosso tempo, ao contrário de muitos outros que ganharam o Prêmio Nobel.
O dever de casa dos jornais e revistas brasileiro foi bem-feito. Precisas, as informações sobre a vida e a obra do premiado. Resta agora aos chamados suplementos e cadernos culturais a tarefa complementar de fazer análise crítica das criações de Saramago, situando-as no contexto da literatura portuguesa e da ficção universal. É isso que nós, leitores, estamos esperando.