Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Se perguntar certo, descobre

GUERRA AO CANADÁ

Isak Bejzman (*)

A explicação pode parecer grosseira, mas funciona: para fazer virem à tona os sentimentos inconscientes de um indivíduo basta provocá-lo. O diário Folha de S. Paulo costuma fazer perguntas a determinados personagens para que opinem a favor ou contra determinado assunto. Há dias uma dessas perguntas foi: "O Fórum Social Mundial teve algum resultado?" Um acadêmico, professor de Filosofia, foi eleito para opinar pelo não, e um político graduado em Direito, adepto do PT, a responder pelo sim. Resultado: tivemos duas respostas cheias de paixão, com a verdade de cada um. O que um espinafrou o outro endeusou. O filósofo assumiu a "entidade" de um vendedor de automóveis: derrubou a mercadoria para poder comprar pelo preço mais barato possível. O afilhado do PT incorporou a "entidade" de um vendedor de jóias e passou a vender o diamante mais caro da face da terra.

O que aconteceu em Porto Alegre não requer nem espinafração nem endeusamento. Foi um evento com seus aspectos positivos e negativos, e muito mais positivos do que negativos. A pergunta que merecia ser feita pelo jornal é: por que Porto Alegre foi a cidade escolhida para sediar o Fórum Social Mundial? Mas gente, por que logo Porto Alegre?

Todos caludas

Agora, a mídia está alvoroçada com um novo fato: a "barbaridade" canadense-americana-mexicana. Jornalistas estão correndo atrás dos líderes empresariais da carne, perguntando: e agora, tchê? Como o Brasil vai responder a essa tríplice afronta? Nesse ínterim, todos os entrevistados, prejudicados em seus interesses, de cabeça quente, tentando demonstrar estarem de cabeça fria, fazem juras à nacionalidade e à nossa independência, quando a questão é outra.

A pergunta a ser feita é: onde foi que o Brasil cutucou essa gente do Nafta com vara tão, mas tão curta? A explicação pode ser grosseira, porém todo mundo sabe que basta uma gota d’água para entornar um caldo. É o chamado fator desencadeante. Logo vê-se que o problema não está no gado brasileiro. Infelizmente, nenhum líder empresarial tem condições de responder a esta pergunta. Mas o governo federal sabe a resposta.

Será que nós, simples viventes, que habitamos a planície, saberemos algum dia? Será que a imprensa brasileira tem algum interesse em saber?

(*) Jornalista e médico-psiquiatra

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