Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Seca, saques & conivência da imprensa “burguesa”

Alberto Dines

 

P

rimeiro foi Veja que acusou a mídia de aceitar passivamente as encenações de saques organizadas pelo MST (ver remissão abaixo).

Agora, acusação maior e mais grave. Não vem da “imprensa burguesa” (classificação recente de Lula) mas de uma respeitada autoridade estadual, um dos ícones da esquerda brasileira

Na entrevista coletiva na sexta-feira, 29/5, no Recife, o governador Miguel Arraes acusou formalmente a imprensa de conivente na onda de saques “na medida em que, em muitos casos, sabe previamente da sua realização mas não notifica ninguém que possa resolver a questão de outra forma, por meio da negociação ou distribuição de alimentos” (Estadão, 30/5/98, p. A-11, o único a veicular a denúncia na imprensa do sul).

Segundo o Aurélio, conivente significa cúmplice, conluiado. Até hoje nenhuma autoridade federal ou estadual teve a coragem de afirmar de forma tão inequívoca o equívoco comportamento da mídia diante da armação de fatos e da fabricação de pseudo-fatos.

Um jornalista, antes do compromisso profissional de relatar acontecimentos, tem obrigações sociais como cidadão. Se é informado previamente a respeito de uma infração a ser cometida não pode silenciar à espera da sua consumação.

Erra duplamente porque além de associar-se a uma ilegalidade e à violação da ordem (com risco de vítimas fatais), está apresentando uma encenação mediática como se fora manifestação espontânea.

Na verdade, Arraes caminha na direção oposta de César Maia, o ideólogo dos factóides. Certamente não assistiu ao filme Mera Coincidência mas o seu pronunciamento condena de forma contundente as manipulações do noticiário – antes dos acontecimentos ou depois de acontecidos. Venham de marqueteiros contratados a peso de ouro ou militantes politicamente corretos. Eis aí, nas palavras de um político experimentado e insuspeito, a constatação do jornalismo-espetáculo hoje vigente.

Lula considera a imprensa “burguesa”. Estaria certo se, praticamente, não tivesse omitido a gravíssima acusação de Arraes.

 

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