Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Sem citações em latim

SABEDORIA UNIVERSITÁRIA
Sem citações em latim

Tiago de Souza Godoi Júnior (*)

Sou estudante universitário de Engenharia Química, e costumo rir dos meus colegas que vão ao Show do Milhão. Mas não posso deixar de demonstrar minha insatisfação quanto aos comentários de Deonísio da Silva no texto "A sabedoria universitária" [veja remissão abaixo]. Como já citei minha área de estudo, está bem claro que eu não sou especialista em filosofia, metafísica, literatura neo-pós-vanguardista, muito menos farei citações de Camões ou em latim, mas posso me aventurar num campo que não me é tão estranho assim: estatística.

Não sei qual o campo de atuação do nobre professor, mas desconfio que ele não considere a citada ciência muito relevante aos dias de hoje, assim como a grande mídia que diariamente despeja nas pessoas uma leva de pesquisas tendenciosas e conclusões precipitadas. Refiro- me ao fato de o professor dizer que, já que os universitário que vão ao programa são burros, todos os estudantes de terceiro grau do Brasil também o são.

Ces?t interessant (apenas uma tentativa de adicionar glamour intelectual ao texto ? não estou certo quanto à grafia). Digamos que já tenham ido ao ar 100 programas, cada um com 3 estudantes. Se no Brasil existirem 30 mil universitários, 1% terá participado e errado seus palpites. Quantos estudantes existem exatamente não sei, mas provavelmente o número é maior do que esse, o que faria essa percentagem cair mais ainda. Portanto, o ilustre professor e colaborador da revista Caras estaria condenando todo os estudantes do Brasil a partir de dados referentes a uma parte insignificante do todo. Nem sempre 1% pode ser considerada uma parcela não-representativa mas, como os estudantes não são escolhidos a partir de um critério, a conclusão é, de fato, simplista.

Porém tudo isto pode estar errado, e se por azar o autor de Os guerreiros do campo for doutor em Estatística, as minhas reflexões poderão ser contestadas. Afinal de contas, um mero estudante de um curso obscuro que não conhece as interpretações em latim da palavra "estomagado" ou não sabe qual o termo para roubo de gado, conhecimentos imprescindíveis nos dias de hoje, deve ser burro mesmo, assim como os 99% restantes.

(*) Curitiba; e-mail <tiago_9@uol.com.br>

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