Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Silvana Arantes

PERFIL / JOÃO PAULO CARVALHO

“O homem que sabia TABUADA”, copyright Folha de S. Paulo, 9/11/03

“O homem de TV João Paulo Carvalho, 62, percebeu que o ritmo do mundo havia mudado em 1985, ao ouvir de seu filho de 11 anos a pergunta: ?Que tabuada??.

À porta da escola, o garoto havia pedido ao pai que comprasse pilhas para sua calculadora. Carvalho sugeriu que a temporária falta da maquininha fosse compensada com o uso da tabuada. E descobriu que seu filho desconhecia a decoreba mental das operações matemáticas.

O episódio serviu de lição ao pai. ?O tempo que eu perdi decorando a tabuada, ele não perdeu. Ele achava o resultado muito mais rápido do que eu. Isso me levou à experiência de cortar os tempos mortos nas cenas filmadas?, diz.

Naquele ano, na qualidade de editor da TV Globo, onde trabalhava desde 1965, Carvalho iniciava mais uma parceria com o diretor Guel Arraes, sob o nome de ?Armação Ilimitada?. Empolgado com a idéia de subtrair os tempos mortos, impôs ao seriado um formato que eliminava toda ação dispensável à compreensão da trama. ?O cara abria a porta e, na cena seguinte, já estava onde queria chegar. Não mostrávamos o ator caminhando?, recorda.

A aceleração do ritmo de ?Armação Ilimitada? tornou-se um ponto de inflexão na linguagem televisiva e na carreira de Carvalho na TV, iniciada aos 22 anos de idade, quando, num estalo, abandonou os planos de formar-se em direito e jogou para o alto o emprego de vendedor de cotas de um shopping em Caxias (RJ).

Cinéfilo praticante -chegou a assistir 321 filmes num único ano- Carvalho aceitara o convite de um amigo para conhecer as instalações da TV Tupi. Quando a porta do estúdio da emissora se abriu diante dele, teve a sensação de que sua vida pertencia àquele universo. Empregou-se como figurante, escalou o primeiro degrau na produção da TV Rio e foi chamado pela Globo.

Acabou sendo escalado como ?uma espécie de assessor do assessor? da novelista Glória Magadan. A pouca atividade o fazia sentir-se ?uma inutilidade sentada numa mesa?, até que o editor da novela ?Sangue e Areia? (1967/68) adoeceu, e Carvalho foi deslocado para a função.

Saúde restabelecida, o colega voltou à atividade, mas confessou a Carvalho seu desapreço por ser editor. ?Odeio isso.? O antigo ocupante do posto não o queria de volta, e Carvalho não queria entregá-lo. A Globo estava satisfeita com o trabalho de edição do ?assessor do assessor?.

Foi o que bastou para que a carreira de Carvalho na emissora atravessasse novelas (?Irmãos Coragem?, ?Selva de Pedra?, ?Dancin? Days?), seriados (?Malu Mulher?, ?Plantão de Polícia?), musicais (?Chico & Caetano?), até chegar à pequena revolução de ?Armação Ilimitada?, que se prolongou por quase quatro anos no ar, e seu sucedâneo ?TV Pirata?.

Ao final desse tempo, Carvalho pensou que, talvez, aquela velocidade toda houvesse caminhado para um modo ?facilitado? de seduzir o espectador, já que o ritmo intenso não deixava espaço para ?muitas análises?.

Sentiu-se então atraído a buscar ?o contrário da velocidade, para ver o quanto se pode seduzir o espectador com uma coisa mais amena, mais suave?.

Os novos desafios na carreira significaram o rompimento do ?vínculo empregatício? com a Globo e a aproximação com o cinema do documentarista João Moreira Salles, com quem fez o filme para TV ?América? (1989).

Como todas as opiniões de Carvalho ?podem durar não mais do que 15 minutos, já que apenas time de futebol a gente mantém para a vida toda?, ele passou da montagem de documentários ?aos filmes da Xuxa, que têm uma série de videoclipes e uma condução ritmada, juvenil?.

Era o início de outra parceria, desta vez com o produtor cinematográfico Diler Trindade, um adepto do cinema de resultados, aquele feito em ritmo industrial e que almeja o grande público.

Somente neste ano, Carvalho já editou três títulos da Diler & Associados, todos dirigidos por Moacyr Góes: os já estreados ?Dom? e ?Maria, Mãe do Filho de Deus? e o inédito ?Abracadabra?, estrelado pela apresentadora Xuxa Meneghel.

Entre um e outro, montou ?Benjamim?, de Monique Gardenberg. Atualmente, edita ?Sonho de Verão?, com Angélica e Luciano Huck à frente do elenco.”

 

ANIMAL PLANET

“Brasileira comanda mudanças no Animal Planet”, copyright Folha de S. Paulo, 9/11/03

“O nome dela é Peach Gibson, 40, brasileira de Lorena, interior de São Paulo, casada com um fotógrafo americano e mãe de Christopher, de oito anos. Depois de reformular o Discovery Kids e colocá-lo entre os maiores canais infantis do mundo, ela está à frente da mudança radical no Animal Planet, que se volta ao público adulto, sobretudo a quem já passou dos 35 anos.

Liderando uma equipe de 30 pessoas, espalhada pelos EUA, Londres, Cingapura e Índia, Gibson afirma que o Animal Planet já não é apenas um canal de documentários e nem direcionado ao público infantil. Todos os elementos que compõem a marca, inclusive o slogan (?Isso Pega!?), ganharam visual mais adulto.

As novas atrações prometem emoções fortes em suas 500 horas de programação inédita, a cargo da rede BBC e de produtoras independentes de diversos países. ?O novo Animal Planet é a natureza nua e crua?, diz o vice-presidente sênior da divisão Animal Planet International, Peter Weil.

Depois de acumular experiência como produtora de comerciais na Artplan, em São Paulo e no Rio, Gibson, hoje diretora de criação do Animal Planet International, aposta em imagens reveladoras e em personagens que mostrem aspectos dos animais que o telespectador jamais veria.

?Queremos entreter até quem não gosta de bichos e investimos na surpresa, no medo?, diz ela. Para tanto, há novidades como ?As Ousadias de Mike e Mark?, que estréia em 7/12 (das 16h às 20h) num bloco especial e que se tornará série em 2004.

A tônica da atração é o humor e o atrevimento: Mike Tenman e Mark Tennant, guias de safári, arriscam-se para conseguir o inusitado. Num dos episódios, os dois se infiltram entre leões para conseguir um close; em outro, ficam três dias sobre uma árvore esperando que passe uma manada de elefantes… que não passa.

?Não é mais um canal para quem gosta de animais, ou um canal sério de documentários, mas sim um espaço para entretenimento e informação?, diz Gibson.

No entanto, a mudança -que será gradativa- respeitará sucessos de audiência. Os documentaristas Steve Irwin e Jeff Corwin e suas cobras e jacarés ganharam a faixa ?Segundas-Feras?, nas noites de segunda. Na mesma linha, o ?Vídeos Mais Divertidos do Animal Planet? ficou com as terças.

?Criamos noites temáticas para criar um público fiel?, diz Gibson. E, para fazer com que o telespectador se sinta em casa, ela não deixou de fora as ?exigências globais?, que, afirma, ?asseguram o sabor local?: no Brasil, a série ?Mamíferos?, no ar até 26/12, sempre às 21h de sexta, tem como anfitriã a cantora Ivete Sangalo.

Pertencente ao Discovery Networks International, rede detentora de dez canais de TV, o Animal Planet é um dos maiores sucessos do grupo, com mais de 124 milhões de assinantes em 70 países e, no Brasil, é sintonizado na TVA, Net, Sky e Directv, com aproximadamente 2 milhões de assinaturas, segundo o canal.”

 

LINHA DIRETA

“?Linha Direta? recria morte de Zuzu Angel”, copyright Folha de S. Paulo, 9/11/03

“Em vez de anônimos que tiveram parentes assassinados por um conhecido que hoje é foragido da Justiça, desta vez é o ministro da Defesa, José Viegas, quem vai dar seu depoimento ao ?Linha Direta?, da Rede Globo.

O programa policial, que vai ao ar nas noites de quinta com audiências que giram em torno dos 25 pontos no Ibope, vai reconstituir o caso da estilista Zuzu Angel, morta em abril de 1976 em um suposto acidente de carro no Rio de Janeiro -as circunstâncias de sua morte, até hoje não totalmente esclarecidas, apontam para um assassinato planejado por membros do governo militar. Em seu depoimento, Viegas condena o fato e fala das mudanças que ocorreram nas Forças Armadas.

A história de Zuzu vai ao ar no próximo dia 27 na edição ?Justiça?, do ?Linha Direta?, que retrata crimes que ficaram famosos. O assassinato da milionária Dana de Teffé e da socialite Ângela Diniz já foram temas de programas anteriores.

Zuzu Angel era uma estilista conhecida internacionalmente que teve o filho, o ativista político Stuart Angel Jones, preso, torturado e morto pelo regime militar. Ele foi tido como desaparecido por vários anos, nos quais Zuzu iniciou uma campanha para denunciar torturas e assassinatos cometidos pelo governo da época.

?Quisemos dar um tom jornalístico à história. Procuramos não fazer um engrandecimento de qualquer um dos envolvidos nem amenizar a realidade?, afirma Milton Abirached, diretor-geral do ?Linha Direta?.

Segundo ele, um dos cuidados do programa -cujo mote é exibir reconstituições dos crimes, com depoimentos de envolvidos, parentes das vítimas e testemunhas, além de incentivar denúncias sobre o paradeiro dos acusados foragidos- foi não mostrar cenas que pudessem chocar o público.

Segundo depoimento do ex-preso político Alex Polari de Alverga, que teria presenciado a cena, o filho de Zuzu Angel morreu após ter sido arrastado pela Base Aérea do Galeão, no Rio, na traseira de um jipe, com o rosto colado no cano de escapamento.

?Para não ficar muito explícita, a cena é mostrada de uma janelinha, tal como foi vista por Alex. Não quero ficar repugnando o público, as histórias já são muito chocantes?, diz Abirached. A cena do Galeão foi gravada no aut&oacuteoacute;dromo de Jacarepaguá.

Alverga, que já contou a história da morte de Stuart no documentário ?Sonia Morta e Viva? (1985), de Sérgio Waisman, desta vez não quis dar seu depoimento ao programa. As gravações, que terminaram há uma semana, incluem depoimentos do escritor Zuenir Ventura, da jornalista Hildegard Angel, irmã de Zuzu, do ex-líder estudantil Wladimir Palmeira e da cineasta Lúcia Murat, entre outros. Também participa uma das testemunhas da batida de carro que matou Zuzu, também reconstituída no programa.

Nenhum dos militares que na época estiveram envolvidos com o caso quis falar ao programa.

Na reconstituição, estarão representadas figuras como o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o ex-secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger, a quem a estilista pediu ajuda para dar visibilidade ao caso do filho e tentar saber de seu paradeiro.

O ?Linha Direta?, que normalmente usa atores desconhecidos nas reconstituições, desta vez colocou Zezé Polessa no papel de Zuzu Angel. ?Achamos que ela merecia uma atriz de peso?, diz o diretor do programa.”