Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Sílvio Santos é a cara da mídia

A PEGADINHA DO ANO

Um show man: o empresário bem-sucedido não existiria sem aquele “produto” performático capaz de ficar horas seguidas diante das câmeras mostrando a dentadura, oferecendo prêmios e fazendo piadinhas capazes de serem entendidas por dona Maricota & família. O Chacrinha, como animador de auditórios, foi mais engraçado e mais interessante.

Sílvio Santos soube administrar Señor Abravanel ? este é o seu mérito. Não é um empresário de mídia, nem empresário de comunicação. Acrescente-se: tem o mais profundo horror aquilo que se convencionou chamar de jornalismo. Horror e desprezo.

O “Episódio Contigo!” foi a demonstração de um desdém que chega às raias do ressentimento. Sílvio Santos aproveitou-se de um conjunto de falhas para vender a sua rentrée:

** uma profissional preparada apenas para cobrir o mundo virtual das telenovelas;

** uma revista de fofocas televisivas, preocupada com a promoção do seu 40? aniversário.

** um setor que está à beira da falência e agarra-se a qualquer patacoada para fingir que está vivo.

O Barão de Munchausen ou o seu similar nativo, Paulo Maluf, não poderiam inventar igual coleção de disparates. E mesmo assim a mídia engoliu, publicou, exibiu, destacou, discutiu, lambuzou-se e ainda faturou algumas páginas de publicidade pagas pelo SBT e pelo semanário Contigo! para salvar as respectivas credibilidades.

Este é o aspecto mais grave da mega-palhaçada encenada por Sílvio Santos em Miami, terra de ninguém da moral e da decência. Juntou-se a compulsão de fazer barulho com o vício de converter em notícia qualquer declaração e o resultado foi esta ultrajante exibição de falta de compostura jornalística.

Somos o Reino das Aspas, terra das citações. Antigamente valia o escrito, hoje vale o dito. Não importa o que. No Brasil publica-se qualquer idiotice desde que precedida e completada pelas duas virgulas ou alças. Liquidada a reportagem, instituímos nas redações nova categoria profissional ? os aspeadores que, de certa forma, confundem-se com os aspones. A eles cabe a tarefa de transcrever num idioma semelhante ao português as declarações do declarado. E estamos conversados.

A nova modalidade de jornalismo não caiu do céu. Os comunicólogos que nas fábricas de diploma formam jornalistas e assessores de imprensa não estão interessados que seus alunos façam pesquisas nas bibliotecas ou na Internet. Querem aspas. Se o trabalho de fim do semestre ou fim do curso não tiver aspas, bomba neles.

Chegamos ao absurdo de publicar declarações de colunistas e opinionistas ? em geral oriundos da academia ? que escrevem regularmente no próprio jornal. O sujeito ganha para escrever e depois o jornal promove a opinião nas paginas de informação, naturalmente entre aspas, o que certamente provocará declarações aspeadas a favor ou contra vocalizadas por cúmplices ou desafetos. Mais um pouco teremos jornais abrindo manchetes garrafais com frases assim: Lula: aspas aumentam exclusão social. Enquanto outros, lembrando Armando Falcão nos tempos da ditadura, farão a bombástica revelação: nada a declarar.

Leia Também:

O
sarro de Silvio
? Bernardo Ajzenberg (rolar a página)

Comunicado
oficial do SBT