Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sobre um programa de TV

CASO EDUARDO JORGE

Janice Ascari (*)

Foi uma pena que o objetivo do Observatório da ImprensaI na TV [programa de 27/8/02, sobre o caso Eduardo Jorge, com a presença do próprio] tenha evaporado já nos minutos iniciais, não obstante as várias tentativas de correção de rota do mediador e orientador do debate. Eduardo Jorge foi disposto a lavar a honra e escolheu mais uma vez fazer isso atacando o MP e a imprensa de modo generalizado; Celso Três defendeu-se e ao colega Luiz Francisco partindo para o ataque; Luis Nassif, Mauro Chaves e Rui Nogueira, em atitude semelhante, partiram para uma crítica generalizada aos procuradores, centrando-as em Celso Três e Luiz Francisco. A importantíssima atividade investigativa da imprensa brasileira ficou reduzida à cobertura do chamado "caso EJ"; a do Ministério Público, às atitudes de Luiz Francisco.

O que deveria ser uma análise macro acabou virando uma briguinha de quintal. A EJ, claro, competia agarrar essa oportunidade de autodefesa e ele, vitimizado, arrastou a todos para o ataque mútuo, ficando fortalecida, ao meu ver de telespectadora, a imagem de que imprensa e Ministério Público são completamente irresponsáveis.

Obviamente, quando o investigado ou o réu são pessoas famosas e importantes no cenário nacional, o assédio da imprensa chega a ser incômodo e até invasivo, e mais de uma vez ocorreu de uma só palavra dita por um Procurador acabar virando matéria de página inteira. Só que a maioria absoluta dos membros do Ministério Público (e aí incluam-se o MP Estadual, o MP do Trabalho e o MP Militar, sempre esquecidos) trabalha discretamente, sem alardes. Quantos procuradores e promotores por esse Brasil não cuidam de casos importantíssimos, mas que não são "pautados"? Quantas vezes a imprensa não encobre fatos, como foi negado ontem? Dou exemplo recente: colegas de Dourados-MS denunciaram um poderoso da região por empréstimos fraudulentos e o juiz, acolhendo integralmente o pedido do MPF, decretou a prisão preventiva do sujeito, que é candidato a deputado. A imprensa local, inclusive a Rede Globo, não publicou uma só linha sobre o fato. Os colegas solicitaram ajuda para a divulgação do caso no resto do país, já que em Mato Grosso do Sul o assunto era proibido. A meu pedido, o primeiro que divulgou foi o Márcio Chaer, no site Consultor Jurídico. Outras matérias foram se seguindo até que a Globo se rendeu e botou a notícia no Jornal Nacional.

Outro exemplo é a cassação da candidatura de Jorge Viana, no Acre: a participação do colega de lá tem sido fundamental para restabelecer a justiça e com absoluta discrição. Nessa época de intensa atividade na Justiça Eleitoral inúmeras decisões vitais são tomadas a pedido do MP e sem que se veja um só procurador dando entrevistas, porque o trabalho por nós realizado em matéria eleitoral assim o exige.

Excessos existem, tanto do MP como da imprensa, mas a divulgação dos processos é necessária e salutar, quando feita com equilíbrio.

(*) Procuradora Regional da República em São Paulo