Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sociedade não debateu

Leitor habitual e divulgador do OBSERVATÓRIO, não posso silenciar diante dos artigos da última edição, um de sua autoria, “Cidadania castigada”, e outro de Elder de Faria Braga, “Rádios tendenciosas”, que, por economia “internáutica” também englobo na resposta, para eventual citação.

Começo pelo seu: primeiro, o “opinionismo” não é exclusividade do rádio, é inerente ao jornalismo. Prova: você o faz de maneira preconceituosa contra os âncoras e comunicadores do rádio, cuja maioria “se encarniça contra o rodízio de automóveis de São Paulo (refletindo maquinalmente uma parte de seu público automobilista) etc..”.

Ora, você sabe muito bem que o rádio ainda é o veículo de maior alcance e sua audiência não se restringe a automóveis. Opinionismo puro.

Já no artigo do Elder há citação explícita à Bandeirantes, em que eu, ocupando os horários das 6 horas (“O Pulo do Gato”) e das 8 (Jornal “Gente”) tenho sido o mais duro crítico do rodízio. Toda a polêmica tem dois lados, a de vocês é de apoio à medida demagógica do governo Covas. A minha é de desmascarar os “pseudo politicamente corretos”.

Mas a questão principal é outra e a proponho:

Em que momento o tema foi debatido com a sociedade (não só leiga)?

Seria a Assembléia Legislativa, composta de metade de deputados sem nenhum vínculo com a área atingida pelo rodízio (e portanto sem satisfações a dar aos eleitores), o foro ideal para a decisão que afeta a vida de milhões de paulistas residentes nos dez municípios envolvidos? Não se esqueçam que o relator, o nobre deputado “sei lá-o-quê Julião” disse que sua família não reside aqui e que se fosse preciso ele usaria o carro da Assembléia. Afirma Elder que um dos argumentos usados no rádio é de que “se os políticos podem rodar, não há por que fazer rodízio”. Não fui eu quem o usou, mas veja a incoerência da crítica. Então político pode? Claro, todos sabemos que eles são “mais iguais” do que outros e só por isso a dócil Assembléia aprovou a medida.

Não chamou a atenção de você, Mauro, ou do Elder, em nenhum momento, o adiamento por duas vezes do início do rodízio (ou seria da poluição?), primeiro programado para 1/5, depois para 16 de junho, e por fim, para 23 de junho. Afinal, o que se adiou? O rodízio ou terá sido a poluição? Fosse tão urgente assim a implantação, alguém deveria ser responsabilizado…

Não lembraram também de questionar a omissão (proposital) do decreto de regulamentação aos veículos oficiais dos três Poderes (que estão circulando normalmente), nem da liberação dos carros de reportagem (a imprensa também “mais igual”).

Também não lhes ocorreu questionar a nenhuma preocupação do governo do estado em dar alternativas para os “sacrificados de plantão”. O único gesto foi a pífia e frustrada tentativa do governador de fazer acordo com uma entidade de donos de frotas, cujo presidente é seu amigo e correligionário, e que não falava por nenhum motorista de táxi, para reduzir a bandeirada em R$ 2,00.

Também a questão técnica passou ao largo das criticas do OBSERVATÓRIO. O professor Bernardo, da Escola Politécnica da USP, ferrenho adversário do rodízio como adotado, mostra em trabalho que teve divulgação restrita na imprensa, que o monóxido de carbono (CO2), o grande vilão que motiva a restrição de circulação, não está entre as prioridades da Cetesb, que só o mede em cinco de suas quase trinta estações.

Em sua crítica, Mauro, você acaba dando razão a quem combate o rodízio, porque, ipsis verbis: a “questão principal é, de longe, a do trânsito, ou melhor, da necessidade de dotar a cidade de meios adequados de transporte de massa e coletivos”. E então? Parece estarmos de acordo. Só que o ordenamento do trânsito é municipal e até o último momento, as Prefeituras não foram incluídas nas discussões.

Enfim, o resumo é este: quem não faz nenhum sacrifício, seja por ter carro de outra placa não coincidente, seja por ter carro oficial ou de empresa, ou habitualmente se desloca por outro meio de transporte, está a favor.

“Pimenta nos olhos dos outros …”

Já quem tem despesas extras em seu orçamento, quatro vezes por mês (e não são os ricos) – profissionais liberais, de vendas, representações, professores etc. – está contra.

Por último, ninguém pode ser contra restrição que vise proteger a saúde da população. No balanço do ano passado, em apenas um dia do rodízio se justificava a proibição, ainda assim, na região central. O que temos de combater, Mauro (e também Elder), é a imposição das “pequenas ditaduras” que fatalmente nos levarão a outra maior que fez entre suas vítimas o governador que hoje assume esse papel de “pequeno ditador”.

Pela atenção, obrigado, e cumprimentos pelo OBSERVATÓRIO (extensivos ao Alberto Dines), que proporciona discussões importantes.

José Paulo de Andrade, Rádio Bandeirantes-AM SP (placa final 1, que anda de táxi às segundas-feiras, gastando R$ 100,00 a mais no fim do mês, e ostenta decalque no porta-malas com os dizeres “Rodízio, sou contra”).

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