Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sérgio Dávila

HEADLINE NEWS

"TV CNN muda para ?entreter? audiência", copyright Folha de S. Paulo, 8/8/01

"A notícia como entretenimento ganhou um importante aliado anteontem, e o telespectador habitual do canal ?Headline News?, da rede de TV CNN, deve ter levado um susto. O carro-chefe, nos EUA, da rede mundial de notícias estreou sua nova versão, ?rejuvenescida?, que o deixou com jeito de programa da MTV.

Um dos lugares que foi um dia do âncora Bernard Shaw, recentemente aposentado, é agora da ex-atriz Andrea Thompson, que já trabalhou no enlatado ?NYPD Blue? e posou nua para revistas de arte. A trilha sonora agora é techno e rock. A tela parece a de um site na internet, com mais informações, no formato celebrizado pela TV Bloomberg. E os estúdios da rede em Nova York e Atlanta foram reformados de maneira a parecerem mais novos e ?leves?. E rumores nos meios jornalísticos dão contam de que o ex-presidente Bill Clinton teria sido convidado a comandar um ?talk show? no formato do de Larry King, da mesma CNN. Já o salário seria o dobro: US$ 15 milhões ao ano.

Essas são apenas as mudanças mais evidentes de uma emissora em crise. Desde o final do ano passado, a empresa, fundada há 20 anos por Ted Turner e atualmente propriedade da gigante AOL-Time Warner, vem perdendo telespectadores no mundo inteiro para sua principal concorrente, a Fox News, do empresário australiano Rupert Murdoch.

A CNN chega hoje em dia potencialmente a 78 milhões de espectadores no mundo todo. Sua audiência média nos EUA, no entanto, é de 319 mil domicílios -menos ainda para o ?Headline News?, com 170 mil domicílios, contra 219 mil em 1996.

A decadência da CNN começa quando termina o monopólio. Durante uma década e meia, a rede era a única a exibir notícias 24 horas por dia. Hoje, tem pelo menos cinco rivais nos EUA -a principal delas é a Fox News.

Faixa etária

O outro motivo das mudanças na CNN é a faixa etária cada vez mais alta da audiência. Nos últimos seis meses, a idade média do espectador de ?Headline News? foi de 54 anos. A lógica do mercado é a de que, quanto mais velho o público médio, menos ele consome e menos tempo ele vai continuar telespectador.

A essência do canal não mudou. Continuam as notas curtas sobre as principais notícias do dia, intercaladas por cobertura ao vivo de fatos importantes. Mas entram mais reportagens sobre entretenimento, ambiente, tecnologia, saúde e bem-estar, assuntos considerados ?menos quentes?, segundo o jargão jornalístico.

?Estamos tentando ser interessantes para atrair pessoas de todas as idades?, disse Walter Isaacson, 49, novo presidente da CNN. O executivo está há um mês no cargo, vindo da direção editorial da revista ?Time?, da mesma empresa. Isaacson havia feito algo parecido na revista, conseguindo rejuvenescer o público leitor. Assume um negócio de 3.900 empregados que fatura US$ 1,36 bilhão por ano.

Seu antecessor, Tom Johnson, foi demitido no final de junho. A saída do jornalista de formação, que foi porta-voz do presidente Lyndon Johnson e comandou a cobertura da CNN na Guerra do Golfo (1991), é considerada o marco zero na virada da rede ?de notícias? em ?de notícias e entretenimento?.

O novo executivo chegou na mesma época em que Jamie Kellner assumiu a presidência da Turner Broadcasting. Ele foi responsável pelos lançamentos das séries ?Os Simpsons? e ?Buffy, a Caça-Vampiros? nas emissoras Warner e Fox. O alvo agora é conquistar o espectador de 35 anos.

Numa entrevista coletiva no mês passado, Kellner, 54, disse que as pessoas da idade dele serão mais refratárias às mudanças na rede. ?Mas a geração de minha filha, que tem 29 anos, vai adorar?, afirmou.

Não são só os mais idosos que estão reagindo. Desde o final do ano passado, funcionários anônimos e ex-funcionários demitidos criaram um site que funciona 24 horas com notícias e bastidores sobre a ?nova CNN?."

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"Ex-funcionários criam site contra mudanças", copyright Folha de S. Paulo, 8/8/01

"Logo que foi contratada pela CNN para ser âncora do ?Headline News?, no começo do ano, a ex-atriz Andrea Thompson, 41, fez questão de dizer que passou 11 meses do ano passado ganhando experiência como repórter de uma emissora local de notícias no Estado do Novo México.

Ela não contava com os criadores do site Ted’s Turnovers (www.tedsturnovers.com). O título é um trocadilho com o nome do fundador da rede de notícias, o empresário Ted Turner, que hoje exerce uma função decorativa na CNN, e a frase ?Ted’s Turnovers? (?restos do Ted?). É quase isso que são os membros do site: funcionários demitidos da CNN que mantêm uma rede de informantes na rede.

Assim, o TT foi o primeiro a noticiar que Andrea Thompson, ex-seriados de TV ?NYPD Blue?, ?Jag? e ?Babylon 5?, havia sido a estrela também de um obscuro filme italiano de 1986, ?Manhattan Gigolo?, em que aparece nua. Além disso, tinha feito um ensaio fotográfico sem roupas para a revista ?Black and White?.

A direção da CNN foi pega de surpresa. Depois de alguns dias, fez uma declaração pública dizendo que a carreira artística pregressa de seus funcionários só dizia respeito a eles e que mantinha a contratação de Thompson.

A própria ex-atriz-atual-jornalista não pareceu ligar muito para a revelação. Numa entrevista coletiva em Pasadena, na Califórnia, respondendo a uma provocação (se seu papel em ?NYPD Blues? havia influenciado a CNN a contratá-la como jornalista), ela disse: ?Sim, eu sei que não sou uma jornalista experiente. Se meu passado como atriz tem algo a ver com meu atual cargo, tudo o que eu tenho a dizer é: Quer saber? Pode me usar, queridinho!?.

?Nutícias?

Embora não vá aparecer sem roupa e muito provavelmente nem mesmo vestida só da cintura para baixo em sua atual função, Thompson não é a única representante do esforço das emissoras em ganhar mais audiência tornando mais ?palatável? a apresentação de notícias na TV.

Há alguns meses, uma televisão russa passou a apresentar o programa ?A Verdade Nua?, em que uma âncora lê e comenta as notícias econômicas do dia enquanto tira a roupa, até ficar completamente nua. Foi copiado com sucesso pelo site Naked News (www.nakednews.com).

O site canadense fez tanto sucesso que acaba de lançar uma versão masculina e inspirou um similar brasileiro, o Nutícias (www.nuticias.com.br)."

"CNN apela para ex-atriz pornô", copyright O Globo, 7/8/01

"A rede de TV americana CNN inovou ontem, com a estréia de sua nova programação. Os apresentadores dos novos telejornais de curta duração (?Headline News?) do canal são, entre outros, ex-atores de filmes pornôs. A emissora não chegou ao nível do ?Naked News? (Notícias Nuas) que, na Internet, é apresentado por pessoas sem roupa. Nem tampouco da emissora de TV russa Canal M1, na qual jovens locutoras nuas relatam as notícias do dia. A CNN deseja alavancar sua audiência, atraindo o público jovem.

Para isso, contratou apresentadores como Andrea Thompson, que já trabalhou como locutora de uma emissora de TV local de Nova York e como atriz, na minissérie ?Nova York contra o crime?, na qual interpretava uma detetive. Thompson, no entanto, é mais famosa por ter atuado em ?Gigolô de Manhattan?, filme pornô de muito sucesso na segunda metade dos anos 80.

As mudanças promovidas pela CNN estão sendo consideradas como as mais audaciosas da história do telejornalismo nos EUA. A CNN, com sede em Atlanta, necessita atrair os jovens. Uma recente pesquisa realizada pela emissora mostrou que a média de idade de seus espectadores subiu de 54 para 59 anos durante o ?Headlines News?, e para 64 durante o restante do noticiário.

Em algumas faixas de horário, os anúncios publicitários consistem apenas em remédios contra depressão, incontinência urinária e câncer. Empresas de seguros de vida e funerários também anunciam em peso na rede.

? Este tipo de publicidade não é a mais rentável. A propaganda quer atrair basicamente o público jovem ? revela um especialista em mídia, que não se quis identificar.

Portanto, o ?Headline News?, que seguirá fornecendo as principais notícias do dia a cada meia hora, dará menos enfoque a política e mais a itens como entretenimento e tecnologia. A estratégia foi considerada arriscada por analistas."

 

    
    
                     

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